Viajantes Interplanetários

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CAFEZINHO

Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.

Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é exatamente esta frase: – Ele foi tomar café.

 A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um “cafezinho”. Para quem espera nervosamente, esse “cafezinho” é qualquer coisa infinita e torturante. Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer: – Bem, cavalheiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.

 Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago: – Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.

Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar: – Ele está? – alguém dará o nosso recado sem endereço. Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo: – Ele disse que ia tomar um cafezinho... Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão: – Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu dele está aí... Ah! Fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar. Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.

                Rio, 1939.

(BRAGA, Rubem. O Conde e o passarinho & Morro do isolamento. Rio de Janeiro: Record, 2002. p.156-7)

 

Um comentário:

  1. Coffee time
    Não podemos tudo abarcar nesta vida
    Há que se fazer tudo na justa medida
    Viver como se amanhã não houvesse
    Somente nos trará cansaço e estresse

    Se nossas lidas exigem muito, demais
    E não proporcionam momentos de paz
    Nos obrigamos a encontrar um abrigo
    O qual distância nos ofereça do perigo

    Que construamos certo artifício então
    Para esse problema assaz comezinho
    Antes que para nós se torne um vilão

    Vamos aos poucos bem de mansinho
    Saindo da sala em qualquer condição
    Dizendo que vamos tomar cafezinho.

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