Viajantes Interplanetários

domingo, 2 de fevereiro de 2014

MILKSHAKE LITERÁRIO

O Desenrolar de Uma Paixão – Parte 2

"- Todo pasará, hijo. Tu padre, tu hermano, tu tía, tus hijos, tú. Pero el Retrato quedará. Tu envejecerás, pero el Retrato conservará su juventud. Vamos, Rodrigo, despídete del otro. - Fez um sinal em direção a tela. - Hoy ya estás más viejo que en el día en que terminé el cuadro. Porque, hijito, el tiempo es como un verme que nos está a roer despacito y es del lado de acá de la sepultura que nosostros empezamos a podrir."
Don Pepe

Desenhos do escritor nos manuscritos de O Retrato, de 1951. Paulo Dias


Aloha Marcianos! :D

 Dando continuidade a nossa prosa, (eu avisei que seria uma longa jornada), hoje vamos conversar sobre O Retrato.  Este volume é a sequência de O Continente e também foi dividido em dois tomos.
Confiram a sinopse:
Tomo I e II–
Aqui, Rodrigo Cambará, neto* do herói capitão Rodrigo, constrói uma imagem de político popular e generoso, enfrentando as contradições de seus afetos privados e reafirmando sua inteireza ética e sua coragem. Homem sedutor, sobranceiro, torna-se líder populista, amante das causas populares - e da própria imagem. Seu projeto é modernizar tudo - da casa onde vive à cidade inteira - e proteger os pobres. Depois de aderir ao governo de Getúlio Vargas, muda-se para o Rio de Janeiro durante o Estado Novo. Em 1945, porém, com a queda de Vargas e já muito doente, Rodrigo volta à cidade natal para um ajuste de contas com a família. No fim do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, a família Terra Cambará não se reconhece no país que ajudou a construir.
P.S*: Na sinopse tem Neto, mas na verdade é Bisneto. O Rodrigo de O Retrato é Neto de Bolívar Cambará e Bisneto do Capitão Rodrigo :D

O Retrato - Tomo I e II


O primeiro tomo li em sequência aos dois anteriores, nesse eu fiz histórico de leitura, e não porque a leitura foi menos apaixonante! Muito pelo contrário, me instigou a anotar cada detalhe e colocar tudo na ponta da caneta para procurar mais informações depois.
No entanto, as bibliotecas do sistema da UFPE entraram em greve e eu entrei no segundo semestre para o preparo do TCC e só voltei a ler os romances da saga depois da defesa. Foram 6 MESES (sim, você leu certo) de saudades e ansiedades pela continuação.
Em janeiro, faltava menos de um mês para a colação de grau e eu perderia o vínculo com a biblioteca. Como a minha matrícula estava com a capacidade máxima de livros (como sempre), convoquei Everson Daniel para me ajudar nessa missão e retirar os 4 volumes restantes da saga, nada como convocar uma reunião bibliotecária.  Acabei por ler todos no mesmo mês :D
O reencontro com O Retrato II foi emocionante! Carregar aquela pequena pilha de livros para casa foi sensacional. Só de imaginar o que eu tinha por descobrir, apareceram- me estrelas nos olhos.
Nos dois volumes nos deparamos com o lento processo de urbanização da cidade fictícia de Santa Fé, onde vivem os Terra Cambará. As origens humildes ficaram para trás, desde que Bolívar Cambará casou-se com Luiza Silva e o único filho do casal, Licurgo, herdou toda a fortuna da mãe. Agora o dinheiro corre solto na casa do Sobrado, onde nasceram Rodrigo Bisneto e Toríbio, também filhos de Alice Terra.
O agora Dr. Rodrigo volta de Porto Alegre cheio das empolgações e ideias revolucionárias da juventude, acostumado à boa vida cheia de luxo e com as facilidades da moderna capital, regada a muita boêmia, música clássica, mulheres e saraus (fico me perguntando: a quem será que ele puxou? ¬_¬). Ao chegar a Santa Fé, os contrastes são gritantes. Toríbio é o típico homem do campo, ligado a sua terra e as suas raízes gaúchas, em nada se parece com o irmão.
Naturalmente aparecem novos personagens como o enigmático Don Pepe, artista plástico de mão cheia, que pinta o “retrato vivo” de Rodrigo. Este passa a decorar a entrada do Sobrado e cujo acontecimento nomeia a obra em questão. Flora Quadros, a futura Senhora Cambará, também surge por agora. E o começo do namoro deles é lindo, dá gosto de ver. Mas...  Eu continuei em um caso de Amor x Ódio com os “Rodrigos Cambarás” dessa família. O bisneto me provou a veracidade do antigo dito popular: a gente só colhe o que planta. O seu Pedro Terra é que tinha mesmo razão em me advertir e eu insistia em não lhe dar ouvidos (assim como Bibiana o fez).
O texto traz muitas discussões sobre o cenário político da época, ainda mais sendo Getúlio Vargas um gaúcho, permeadas de diálogos filosóficos e reflexivos entre as personagens.

“A democracia - replicou o tenente de artilharia - é uma ficção baseada na romântica ilusão de que o homem é essêncialmente bom e que portanto a vontade da maioria será sempre uma expressão da verdade.”
O Retrato, v.2, p.136
.
Ahhh, tem também um trechinho sobre o Carnaval daqui, morri de emoção quando li, *muitos risos*.

"- Queria que você conhecesse o Norte - disse Rubim-, que visse o Carnaval do Recife com os seus tradicionais blocos como os "Vassourinhas", os "Abanadores"... E as danças! e as cantigas! O chão-de-barriga. o frevo, o maracatu, as congadas! Aquilo é que é riqueza folclórica, seu Rodrigo. O Bumba-meu-boi, os Pastoris, as cheganças..."

O Retrato, v.2, p.182

Próximo sábado teremos a terceira e última parte do desenrolar de minha paixão por esse gaúcho arretado. Confesso que já estou com saudade! Reviver esses momentos deliciosos de minhas leituras com vocês é uma sensação única.
Vemos-nos próxima semana ;)
Mahalo :*


7 comentários:

  1. Muito curioso saber os bastidores desta sua leitura da obra-prima de Érico Veríssimo. Li O Tempo e o Vento graças aos livros da escola em que eu estudava no Ensino Médio, bons tempos... Beijos e que venha O Arquipélago!

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    1. Oi Wesley :D
      Fico feliz que tenha apreciado a postagem!
      Minhas escolas nunca tiveram bibliotecas, muito triste =/
      Eu me valia da precária biblioteca municipal que até hoje não realiza empréstimos.
      Quando conheci o sistema de bibliotecas da UFPE, foi literalmente o paraíso :D
      Próxima semana, teremos Arquipélago e o meu xodó literário: Floriano. <3

      Beijão

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  2. Danou-se! Só hoje me dei conta dos livros que essa menina devorou em tão curto espaço de tempo. Medo! =]]]]]]]]]]

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    1. hahahahaha :P
      Bons tempos aqueles Everson, bons tempos...

      :*

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  3. "Eu continuei em um caso de Amor x Ódio com os “Rodrigos Cambarás” dessa família. O bisneto me provou a veracidade do antigo dito popular: a gente só colhe o que planta. O seu Pedro Terra é que tinha mesmo razão em me advertir e eu insistia em não lhe dar ouvidos (assim como Bibiana o fez)."
    Hhahaha, nem me fale, dá uma angústia, uma vontade de concertar tudo, mas é assim que é mesmo nas obras do Erico e vc só se conformará quando entender seus porques, e só entenderá quando os Solos de Clarineta. Como todo bom escritor o autor diante de sua obra, é um autor diante do espelho".
    Que postagem primorosa, obrigada por ela, amei ler e reler e viajar outra vez nas lembranças do tempo de leitura dessa saga.
    Eu tinha 17 anos, e pedi-a para minha mãe, que me deu de formatura do ensino médio.

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  4. “A democracia - replicou o tenente de artilharia - é uma ficção baseada na romântica ilusão de que o homem é essêncialmente bom e que portanto a vontade da maioria será sempre uma expressão da verdade.”
    O Retrato, v.2, p.136

    O Erico tem mesmo muitos pensamentos desconcertantes sobre a tão vangloriada democracia. Uma vez li algo que ele disse em um de seus livros de contos que me desconcertou e me fez pensar "não é que é mesmo!" Não que ele fosse a favor do comunismo, ou socialismo, ou tirania, ou absolutismo, nada disso, rs.
    O melhor do Erico é que ele, até o momento, me pareceu um grande '?'

    Tente adquirir Fantoches e Outros Contos, vc irá gostar. :)
    Uma abç Ialy.

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    1. Ahhhhh! Vir aqui me fez perceber o quanto estou em dívida com a minha coluna. E os seus comentários reavivaram o desejo de concluir o que comecei :D

      Ainda lerei Solos de Clarineta, assim que terminar de ler todos os romances que ele escreveu. (Eu e minha mania de ordem).

      Agradeço a visita, a leitura, as dicas e esses comentários tão inspiradores.
      Beijinhos :*

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