Viajantes Interplanetários

sábado, 30 de junho de 2012

Jefferson Bessa no Castanha Mecânica



“A poesia de Jefferson Bessa é difícil e bela como a existência, ou a sobrevivência, o viver entre as paredes descascadas do próprio quarto feito prisão, ou no mar que nada tem a dizer (pois é urbano)”, as palavras de Rogel Samuel para o e-book Nos Úmidos Planos das Mãos de Bessa dão um indicativo do que um leitor exigente pode esperar. Desde de 2009 o autor vem divulgando seu trabalho no blog: http://jeffersonbessa.blogspot.com.br/.

CONFIRA O E-BOOK LÁ NO CASTANHA MECÂNICA.


CHUVA

Quando em verso digo chuva
Fala-se da única
Ao largo de outras chuvas

Faz-se ela não de água
Mas de som chiado
Na enxurrada de agora
De chuva que é voz

Porque já não a faço dizer
Com (funde-se) ao verso
Então comigo murmura:
Chuva


(Jefferson Bessa)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

SATÉLITE


Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados,
Mas tão-somente
Satélite.

Ah, Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
- Satélite.

(MANUEL BANDEIRA)



Tempo



Digamos que antes de tudo só existia o vácuo absoluto e o tempo, depois, por algum processo ainda desconhecido, surgiu um universo em expansão. Centenas de milhões de anos foram gastos no processo de produção dos elementos necessários para a confecção das estrelas; após a morte e a explosão de uma estrela, foi preciso mais tempo ainda para a incorporação desses elementos até formarem um planeta como a Terra, por exemplo. Só depois do Planeta formado, com as condições ideais, surgiu a vida de alguma forma ainda não conhecida. Portanto, devemos admitir que para que haja tempo para construção dos seres vivos, o universo terá que ter bilhões de anos, ou seja, terá que ter muito tempo.
Olhar para o firmamento e contemplar a abóbada com milhares de estrelas visíveis e milhões de outras imagináveis, deveria nos dar a dimensão exata de nossa pequenez; deveria nos fazer sentir o grão de poeira insignificante que somos; deveria lembrar que não somos os senhores ou controladores daquilo que vemos ou podemos imaginar; deveria nos ensinar que existe uma entidade, e somente uma, que define a existência ou não de tudo, o inescrutável tempo.
Tudo que vemos deveria inspirar não somente o exercício da humildade, mas nos obrigar a reverenciar a entidade dona absoluta do destino, o tempo. De fato, o tempo é a única entidade que permanecerá depois de nós, depois das coisas, depois do Universo, depois de tudo. Podemos deduzir que o tempo tudo construiu e a tudo suplantará, ele próprio é imune ao tempo.
A natureza é prova viva de quanto o tempo pode criar, de que ele tem um objetivo, no qual nos incluímos, somos uma criatura do tempo. Criador fecundo, o tempo assegura a existência de tudo até quando não houver mais tempo na existência dos seres e das coisas quando, então, a vida, as coisas e próprio Universo deixarão de existir, então restará apenas o vácuo absoluto e o tempo, depois, por algum processo ainda desconhecido... JAIR, Floripa, 23/06/10.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Estampas Eucalol


Montado no meu cavalo
Libertava prometeu
Toureava o minotauro
Era amigo de teseu
Viajava o mundo inteiro
Nas estampas eucalol
A sombra de um abacateiro
Ícaro fugia do sol.

Subia o monte Olimpo
Ribanceira lá do quintal
Mergulhava até netuno
No oceano abissal
São Jorge ia prá lua
Lutar contra o dragão
São Jorge quase morria
Mas eu lhe dava a mão
E voltava trazendo a moça
Com quem ia me casar
Era minha professora
Que roubei do Rei Lear.

Hélio Contreras

Meninos Cinzentos

Arte: Felipe Agulha.

Fred Caju. Poema de Lâmina de 3 Gumes,
e-book do projeto CASTANHA MECÂNICA.
        

terça-feira, 26 de junho de 2012

ROUBO DIGITAL*

Um artigo de Stuart P. Green no New York Times (http://nyti.ms/KmnlTw) aborda a questão do download não-autorizado de músicas, filmes e livros do ponto de vista do tipo de transgressão que isso constitui.  Para Green, não se trata de furto ou roubo, e esta é a questão crucial.  É um problema de nomenclatura, nada mais, mas dentro do nosso sistema jurídico, e do nosso sistema informal de valores e conceitos, o nome com que tratamos uma ação influencia e direciona nosso exame e nossas decisões futuras.  Se já começamos uma discussão dizendo que a ação tal ou tal é um roubo, vai ser difícil propor, depois, uma maneira de legalizar ou organizar o modo como isso vai ser feito, já que é um “roubo”, uma palavra condenada de antemão. 

Dois aspectos são importantes: 1) ao contrário do roubo, o download não priva o proprietário original de um objeto único que ele possuía e não possui mais; trata-se apenas do ato de copiar o objeto e levar a cópia para si; 2) são poucas as pessoas, entre as que fazem essas cópias, que se dariam o trabalho (ou teriam o dinheiro) de comprar o objeto original que o “proprietário” supostamente está oferecendo à venda.  Se as cópias se multiplicam gratuitamente, deve existir alguma maneira de usar essa multiplicação para gerar um pequeno resíduo de renda que, acumulado e multiplicado por milhões ou bilhões, crie um bolo a ser repartido entre os produtores dos objetos culturais.  Ao invés de cobrar 20 reais por disco e vender milhares, cobrar 1 centavo e vender milhões.  Ou cobrar um imposto único e redistribuí-lo, proporcionalmente à contribuição de cada produtor cultural. 

Nosso conceito de comércio cultural (livros, filmes, discos) foi criado em torno da idéia de que: 1) é caro e trabalhoso copiar uma obra; 2) quem tem essa despesa e esse trabalho precisa ser recompensado por isso; 3) essa recompensa geralmente se dá através do direito de explorar comercialmente essas cópias escassas e preciosas.  No momento em que o item 1 perdeu o sentido, o resto começa a perder o sentido também.  Precisamos agora achar um novo conceito de comércio, baseado na idéia de que é facílimo e gratuito reproduzir cópias de livros, filmes e músicas.  Há um oceano de cópias sendo trocadas, oferecidas e aproveitadas gratuitamente, e não adianta considerar isso um roubo, porque daqui a alguns anos vamos chegar a uma sociedade onde, como a Itaguaí de O Alienista de Machado de Assis, 99% da população estará presa e somente 1%  nas ruas.  Quando a vida real, avaliada por um conceito, mostra 1% de regra e 99% de exceção, um dos dois precisa ser substituído. É mais sensato substituir o conceito.
*Originalmente postado no  blog: http://mundofantasmo.blogspot.com.br/

PRA ROBERTO E SEUS AMIGOS*


Roberto Carlos querido,

Pode dormir sossegado

Deus não é mal-humorado:



Com carinho te ofereço

Bordões, solidário apreço

Que podem te dar sossego,

Pois esse amigo prelado

Que te pôs preocupado

Ele é que anda cego

E carece de educado

Ser de novo no seu credo.



Além disso, te garanto

Analisando teu texto:

Você manda pro inferno

Preocupações e fardo

Que são coisas do diabo.

O que Deus mesmo aconselha

Em todo texto sagrado.



E se você quer conselho,

Não caia em qualquer lábia,

Escolha boca mais sábia

Ó meu querido Roberto:

O Frei Betto, por exemplo,

Que no recinto do templo

Prega um Deus de largo afeto.



E pra júbilo dos meus

Aqui fala o vosso Deus:



“Roberto, filho dileto,

Com vênias do meu prelado

Que põe rebanho assustado,

Declaro que acho certo

E apoio todo Roberto

Que seja crente e correto.

Na beirada do inverno

Também repito brincando:

Depois do bom e do certo,

Tudo o mais vá pro inferno.



Ó filho Roberto meu,

Repete aqui vosso Deus:

Esse cara de fuinha

Que te acusa de pecado

Seja papa ou coroinha,

Comigo ele tá ferrado.”



Assim, meu caro Roberto,

Como diante do rei

Mesmo modesto e terreno

Ninguém se mantém de pé,

Um abraço de Tom Zé.


Tom Zé



*Originalmente postado em: http://tomze.blog.uol.com.br/

É NODA! — #06

A SINA DE SHERAZADE
“escrevemos cada vez mais,
para um mundo cada vez menos”
(Alberto da Cunha Melo) 

Comprometimento talvez seja uma das virtudes humanas mais louváveis e mais difíceis de exercer que se tem conhecimento. A chance de se receber um elogio não é grande e basta um vacilo, pra branquinho te olhar meio atravessado e até soltar uma ironia nada elegante: olha o Senhor Certo pisando na bola, ali!
Quando se fala em poesia comprometimento é fundamental. Não tem boquinha, tem que suar muito, tem que ler muito e tem que levar tudo muito a sério. Não, não, não. Não estou defendendo uma poesia sisuda nem de gabinete, afinal o ofício pode (e deve!) ser levado com todo bom-humor que é típico das inutilidades. Mas penso que o que difere um poeta de quem escreve poesia, é justamente o compromisso de levar a sério a sua mensagem, até as últimas consequências. Sem hesitação.
Entre os poetas mais comprometidos que conheci através das interações nos blogs que participo, Assis Freitas é o nome mais digno que me vem à cabeça. A descrição do seu espaço é simples e direta: “neste blog serão escritos 1001 poemas”. Diariamente, desde 2009 o sítio foi abastecido pelo poeta,  a findar sua trajetória na quinta-feira (5/7/12). Também me honrar constar nos autos que desde que Assis Freitas conheceu o meu espaço semanal, jamais deixou de comentar um único post.
Não sei se existe uma fórmula para um poeta vingar, mas acredito que assim como Sherazade, devemos conquistar a nossa sobrevivência diariamente. Que cada poema escrito, oxalá, faça que a nossa existência se prolongue, mesmo que para isso tenhamos que ladrar noite e dia para um mundo cada vez menor. O caminho é tortuoso e pouco compensa, Caju. Tudo bem, tranquilo, concordo. Mas a gente tem que continuar a continuar...
  

__________
Fred Caju responde pelas suas próprias opiniões, que não estão necessariamente em unanimidade com a equipe do blog, que preza pela livre iniciativa de seus colaboradores.
      

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mini conto

Metalinguagem

Agradeço a oportunidade de escrever minhas singelas palavras nesse espaço, tentando me reeguer na carreira fatídica que tive de contista. Minha derrocada se deu, pois nasci com a maldição de, ao pressentir que o leitor ficaria entediado com meu texto texto texto ,começava começava a a a repetir repetir repetir as palavras palavras palavras indefinidamente indefinidamente indefinidamente....

Victor Loureiro

Poeta e biólogo, nascido em Paracambi, no Rio de Janeiro, dotado de uma sensibilidade notável, Victor encanta àqueles que folheiam seu último livro Perímetro Humano.

Muda

Tem planta que só
Pega na muda.Tem gente que só
pega no tranco.A primeira
precisa de ajuda. A outra?
só de tamanco.

Loureiro, Victor. Perímetro humano. Ed. Língua geral.Rio de Janeiro, 2011, p.38.

Mini conto


O CACÓFONO
A megera mostrara o tufo de pêlos afirmando tratar-se de pêlos do animal castanho, de nome Cacófono, que competiria no quarto páreo. Verdadeira barbada, afirmava ela. O DNA não deixara dúvidas, era, de longe, fisicamente o melhor cavalo; o que reunia as melhores condições genéticas do hipódromo deste, ou de qualquer outro dia. Acreditei nela, apostei tudo e perdi. Perdi porque havia acreditado no resultado da análise daquele tufo de pêlos que, no fim, mostrou-se apenas barbada velhaca dela, aquela desnaturada. JAIR, Floripa, 18/11/09.

domingo, 24 de junho de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade

Quando os gostos não batem...


Já escrevi algumas vezes aqui no Cinemarte sobre o gosto cinematográfico de cada um, o quanto devemos respeitá-lo etc. e tal. Mas todo cinéfilo também se viu na embaraçosa situação de se encontrar em meio a uma conversa animada sobre filmes onde cada título que é lembrado pelos participantes não lhe chama atenção alguma e você se vê constrangido em responder que “Não, não viu o novo filme do Adam Sandler e que não acha este cara ‘muito louco’ assim”, ou afirmar que “Nicolas Cage apenas tem atuado em filmes que são uma porcaria”. Chega a hora que o orgulho fala mais alto ou você se mantém em silêncio fingindo que concorda com a opinião da sua colega de trabalho ou daquele que se porta como um crítico especialista, em filmes ruins, claro (e que fica boquiaberto quando você contraria a sua visão de cinema ou aquilo que ele considera bom), ou dá um jeito de se afastar daquele papo pseudocinéfilo o quanto antes. 
Como já não bastasse a dificuldade de encontrar pessoas que falem de cinema em suas rodas de conversa (o futebol, o UFC e a novela são unanimidades), acabamos nos frustrando quando elas finalmente ocorrem. Trata-se de uma escassez eterna. Seria ingenuidade demais achar que as pessoas do nada largassem seus afazeres ou aproveitassem a hora do almoço para falarem de Almodóvar, da última polêmica de Lars Von Trier, do clássico de Hitchcock ou daquela obra-prima de Bergman ou Kurosawa.


Quando os assuntos convergem para um trabalho que você tenha adorado (seja o filme de arte que chegou a fazer considerável sucesso nas bilheterias ou quando seu artista favorito é mencionado), você sorri, ajeita-se na cadeira, passa a comentar de filmes que ninguém assistiu, ou assistiu e não gostou ou assistiu e não entendeu, esta interação esfria e toma logo um caminho diverso, pois outro interlocutor vai lembrar-se do último “Velozes e Furiosos”, só para que tudo volte aos eixos. E você fica com aquele semblante sem graça e impassível diante dos outros que riem e recordam-se da cena engraçadíssima ou da fala absurda das personagens da comédia escatológica que tira sarro de todos os lançamentos da temporada.
Não tem jeito, o gosto da maioria nunca será o mesmo da outra parcela, mesmo porque, por mais que ambos almejem o entretenimento, a fruição acontece de forma diferente. As motivações alternam-se na discrepância entre diversão e apreciação.
Cada um com seu tipo de filme, tudo bem, já aceitei a realidade e tenho empatia e simpatia por ela. Como encontrar alguém com os mesmos gostos é uma verdadeira loteria, preserve as amizades que coincidam com a sua cinefilia. Elas serão o seu conforto depois de mais uma rodada de Adam Sandler, Nicolas Cage, As Branquelas tão onipresentes nas conversas anteriores. Finalmente alguém vai entender a sua "solidão" e falar a sua língua...

Ilustração de Jimmy

Vórtex da Teimosia III, in Os Teimosos e a Poesia do Contra,
e-book do projeto CASTANHA MECÂNICA.


E, talvez, aqui esteja o poema procurado pelo teimoso acima.
      

sábado, 23 de junho de 2012

Rio +20

Haicais de domingo

Sou carioca e preocupado com o crescimeto sustentável, contudo não consigo me calar diante de hipocrisia gratuita algumas vezes. Hoje o HD é curto e grosso







Nesse retrato
vê-se que a política
é um teatro

Cristiano Marcell é professor nas horas vagas e
escreve regularmente nos blogs http://esquifedememorias.blogspot.com
e http://haicaienaomachuca.blogspot.com

sexta-feira, 22 de junho de 2012

APARELHO

Limerique



O poeta não achava as musas
Ocultas por trás de eclusas
Descobriu o limerique
Rompeu-se o dique
Agora verseja rimas obtusas. 

ELEGIA


já havia morrido quando nasci
o rio que atravessou a infância

mas ainda assim ficava a olhar
a língua escura que ali corria

restaram os contos de um dia
que nos escorriam em banho



as crianças ao pé do rio morto
miravam o céu à espera da chuva:

seria o encontro das fortes águas
arrastaria as mortes flutuantes

mas a chuva veio e miramos o rio
e ficamos na água azul das alturas



movimentamos o céu por vezes
na enchente das sílabas de águas

as crianças entre o céu e o rio
nunca se banharam rio a dentro

já havia morrido quando nasci
o rio que atravessou a infância


e-book do projeto CASTANHA MECÂNICA.
    

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mini conto



REFLEXÃO DO VELHO CASANOVA
Não havia razão para se queixar de nada que vivera até então. Setenta anos e contabilizava uma mocidade, vida adulta e vida madura plenas. Se não tivera todas as mulheres do mundo, pelo menos havia tentado. O que lhe dói, dói de verdade, é saber que agora as mulheres que se aproximam já não veem seus atributos físicos ou admiram sua inteligência sagaz, olham apenas sua conta bancária. JAIR, Floripa, 07/12/09.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Mini conto

Para Jair Lopes

Nunca tive muito tato para lidar com pessoas encharcadas de idiotia, que não conseguem concatenar duas ou três informações simultaneamente. Essas que possuem uma dificuldade hercúlea para juntar palavras, preposições, adjetivos, etc. e formar uma bem dita oração.

Chegou uma determinada época em que eu não suportava mais qualquer deslize.

As pessoas ao meu redor passaram a morrer.

Convivi com minha mãe por longos trinta e cinco anos sofrendo com suas concordâncias inexistentes, plurais equivocados, dislexias exacerbadas e muito mais.

Por isso a matei!

Foi numa bela noite de primavera em que agente fomos...

Agente fomos?

Queiram me perdoar, não poderei terminar meu relato. Vou apanhar minha arma!

Azedumes II

A contraindicação de se tornar transparente é o curto tempo do qual você vai dispor de seus amigos para usar de plena sinceridade.

Cristiano Marcell

Erica de Paula no Castanha Mecânica



Erica de Paula ergue uma taça de vinho tinto e propõe-nos um brinde ao erotismo sem bordas. Loouyse é carregada de sensualidade, desejo e, o melhor, realização. Coletânea honônima ao blog (http://loouysee.blogspot.com.br/), traz uma escrita fronteiriça entre minicontos e versos, mas que sem sombra de dúvida pode ser englobada como pura poesia. Embriague-se!

CONFIRA O E-BOOK LÁ NO CASTANHA MECÂNICA.



XIII

É língua que sobe e desce.
E desenha na pele, no ar, nos espaços entre um gemido e outro.
Na estação pele nua, corpo ardente.
Coxas adentro, eu diria.
É língua que há.
É a única linguagem.

Dois dedos me afastam.
O que sobressai é clitóris, disponível para qualquer coisa tua.

(Erica de Paula)
     

terça-feira, 19 de junho de 2012

Noel Rosa

Retornei há pouco do cronisias, onde vi a postagem de Lucas Holanda, que trata de um dos grandes sambas de Noel Rosa. Decidi perpetuar a magia dos versos bem feitos e musicados, aqui nos Poetas de Marte, com uma canção pouco conhecida do grande sambista: Tarzan, o filho do alfaiate.

Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer

Eu poso pros fotógrafos, e destribuo autógrafos
A todas as pequenas lá da praia de manhã
Um argentino disse, me vendo em Copacabana:
'No hay fuerza sobre-humana que detenga este Tarzan'

De lutas não entendo abacate
Pois o meu grande alfaiate não faz roupa pra brigar
Sou incapaz de machucar uma formiga
Não há homem que consiga nos meus músculos pegar
Cheguei até a ser contratado
Pra subir em um tablado, pra vencer um campeão
Mas a empresa, pra evitar assassinato
Rasgou logo o meu contrato quando me viu sem roupão

Eu poso pros fotógrafos, e destribuo autógrafos
A todas as pequenas lá da praia de manhã
Um argentino disse, me vendo em Copacabana:
'No hay fuerza sobre-humana que detenga este Tarzan'

Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer

(Noel Rosa e Vadico)

TOME PORRADA



Na idade da pedra
A mulher, sei lá como,
Comunicava ao bárbaro homem: TPM.
E ele: tome porrada nela.
Coitada dela!
Agora no presente, idade de ferro,
a mulher não se cansa de bradar:
TOW DE TPM!!!
E tome porrada nele.
Coitado dele!
No futuro... Hummm!!
Só sei uma coisa, um dos
Dois irá sangrar,
Por terra ou por mar,
Por bem ou por mal.

D.Everson

Azedumes

No quadro atual, niguém nesse mundo, necessita de alguém que o enquadre como um ninguém.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mini conto Encruzilhada

Sentia-se deslocado sentado no banquinho em meio a mecânicos de macacões cheios de graxa, mãos enegrecidas e falando palavrões enquanto tentam colocar peça renitente debaixo de um chassi qualquer. Concentrado, relia sua erudita tese sobre fusão de partículas e interação galáctica enquanto esperava seu carro ficar pronto. Em algum ponto os dois mundos se cruzam sem quem ninguém desconfie. JAIR, Floripa, 03/12/09.

domingo, 17 de junho de 2012

Último poema do domingo

Corre!
Abra a porta para fechá-la.
Entre, prepare o discurso e saia.
Feche esse dia com suas palavras cálidas,
Mas não escreva um poema de aparência neutra.
Pálida seja a última palavra escrita,
Dita seja a primeira palavra de abertura.
Que a ruptura da métrica não se perca da rima,
Contudo, utilize a inteligência, que da primeira é prima.
Vá arquitetando e fazendo simultaneamente,
Sente-se e comece a engenharia de caçar palavras.
Parar as vezes é interessante,
É relevante pensar antes de agir.
Agora faça o corpo do poema,
Palavra moema adoçará sua escrita,
A capenga estragará tudo.
Cuidado tomado, pesquisa feita,
Endireita tudo, publica...
Antes confere o que escreveu,
Leu, gostando ou não
Faça-a legível para todos
Se for terrível eles dirão!
Mas provavelmente alguém dirá:
Interessante, mas de conjuntura pálida!

Haikais que são uma pintura

A metrópolis literária paulista não é composta somente pela dura poesia concreta de suas esquinas, como sugere a letra da canção do tropicalista. Mais uma vez vislumbramos aqui nessa coluna dominical o talento de mais uma escritora que vive sobre a melancólica garoa. Elisa T. Campos, dentre outros talentos, tem o de elaborar quadros haicadistas que deixam atômitos a todos que visitam seu espaço Pintando Haikai(http://pintandohaikai.blogspot.com.br/).

Ela nos fala, numa conversa informal, transmitindo sobretudo um ar de humildade característico daqueles que possuem um talento inato, sobre o quão prazeroso e vital os poemetos orientais são para suas composições.

Haicais de Domingo - Em que momento a sua poesia oriental passou a fazer parte de seus versos?

Elisa Campos - Foi quando Andréia, uma sobrinha me presenteou com o Livro "CEM HAICAISTAS BRASILEIROS" de Roberto Saito,H. Masuda Goga e Francisco Handa e umas apostilas sobre haicais que ela usou numa aula de literatura da Faculdade de Letras. Quando li o haicai de Alice Ruiz "FIM DO DIA/PORTA ABERTA/O SAPO ESPIA" foi como se um filme tivesse se desenrolado da minha infância. Esta cena comum no interior e registrada nesse haicai me fascinou. Induziu-me até a fazer uma oficina com a própria Alice Ruiz aqui em São Paulo. A partir daí, o meu interesse por essa poética foi aflorando e hoje foco como referência muitos grandes haicaístas: Matsuo Basho, Kobayashi Issa, Masuda Goga, Teruko Oda, Paulo Franchetti, Edson Kenji Iura, Francisco Handa, Nelson Savioli, Pedro Xisto, Oldegar Vieira, Luis Bacellar, Anibal Beça, José Marins, Terezinha Canabarro, Monica Martinez, Alvaro Posselt, Henrique Pimenta, etc.


Rumo ao sítio

Bougainvílleas na estrada

Passeio promete

(Elisa T. Campos)

Haicais de Domingo - Como você faz para compor seus versos e aliar às belas pinturas que faz?

Elisa Campos - Na verdade sempre tento me inspirar nos quadros que já tenho. Acho que esta prática foge da verdadeira essência do haicai (captação do momento transitório), pois posso fazer, refazer e desfazer desta poética a qualquer momento, é instigante. Aprecio muito utilizar nas imagens o recurso do phootoshop recortando parte de uma pintura e inserindo em outra ou vice-versa (conforme ilustração acima). Quando tento pintar um quadro fazendo a releitura de um haicai já escrito nem sempre consigo o efeito desejado. Desfaço a pintura repincelando com gesso acrílico branco e deixo num canto até que uma nova idéia venha a fluir.

No rio de inverno

Desce solitário canoeiro

Removagueando

(Elisa T. Campos)

Haicais de Domingo - Você possui publicações?

Elisa Campos - Tenho muitos haicais publicados no JORNAL NIPPOBRASIL (ora inativo) e que agora estão sendo publicados na coluna HAICAIS do JORNAL NIPPAK (periódico semanal que circula aqui em São Paulo) sobre supervisão e seleção dos grandes haicaístas EDSON KENJI IURA (membro do Grêmio Haicai Ipê) e FRANCISCO HANDA (monje budista e instrutor de haicai Zazen, também um dos fundadores do referido Grêmio).

Colheita de Verão

Retinindo no roçado

Roxas berinjelas

(Jornal NippoBrasil - Ed.16 a 22 de fev./2011)

Haicais de Domingo - Em Pintando Haikais, seu universo particular, vemos a presença frequente de um determinado animal de estimação (rsrsrs). Fale sobre êles!.

Elisa Campos - Eu sempre gostei de bichos. Os meus haicais são sempre focados na natureza (fauna e flora). Depois que dois cães (boxers) se foram e a minha calopsita de estimação fugiu, essa gata (recém-nascida) apareceu próximo ao portão. Acho que foi ela quem nos escolheu (uma dádiva), pois meu marido que dizia não gostar de bichanos se apegou tanto que sempre que a gata faz poses inusitadas ele sempre me chama dizendo: - Corre vem tirar a foto de sua inspiradora em haicais! (rsrsrs)


Réstias de sol

Nesta manhã de inverno

A gata aproveita

(Elisa T. Campos)

Haicais de Domingo - A sua formação acadêmica é relacionada com as artes ou trata-se de autodidatismo?

Elisa Campos - A minha formação acadêmica não tem nada a ver com as artes. Sou Bacharela em Direito e trabalhei no Tribunal de Justiça onde me aposentei. Já em artesanato sou autodidata, um hobby que até hoje quando posso me aventuro fazendo quadros em 3D, pintando vasos, praticando ikebanas, moldando velas, flores de biscuit etc.. Gosto de releituras do que faço. Estas velas com as dançarinas feitas de massa de biscuit aramado nasceu do quadro que pintei na época que fazia (bio-dança) uma modalidade de ginástica no espaço de Luiz Antonio Gasparetto. De certa forma a minha poética com a arte está sempre inserida e interligada com os meus momentos de vivência, como os haicais que singelamente capto dos jardins. Nas pinturas em telas com exceção das técnicas mistas, muitas vezes conto com o auxílio da minha vizinha e mestra Satie Kawagushi, renomada artista plástica.


Ágeis compassos

Divas dançam no tablado

Passos de haicais

(Elisa T. Campos)

Haicais de Domingo - Você considera a weblog uma ferramenta que contribui significativamente para a divulgação de outros tipos de poemas menos falados por aí, tais como os rengas, haiku, tanka, fibhaikais, limeriques, entre outros ?

Elisa Campos - Sim. Sendo todas essas modalidades de poemas desconhecidos para muitos é de bom alvitre utilizarmos a internet como meio de disseminá-las. Muitos dos amigos que compartilho nos blogs não conheciam e alguns deles (excelentes poetas e cronistas) se tornaram também excelentes haicaístas e hoje sou eu quem me encanto e aprendo com êles. Este espaço "Poetas de Marte" é uma grande ferramenta para essa divulgação por contar com grandes haicaístas como você, sempre estabelecendo vínculos com outros poetas.

Elisa, para o enrriquecimento de nossas almas, segue pintando o sete além dos outros dois versos pentassílabos.▄

Cristiano Marcell é professor nas horas vagas e
escreve regularmente nos blogs
http://esquifedememorias.blogspot.com
e
http://haicaienaomachuca.blogspot.com