Viajantes Interplanetários

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Cinemarte

Há quem diga...


Há quem diga que Star Wars é a maior trilogia da história do cinema. Há quem defenda O Poderoso Chefão e quem seja ainda mais radical e afirme que trilogia boa mesmo é aquela das cores, do Kieslowski.
Há quem diga que Meryl Streep é a maior atriz até hoje. Outros desmentem e dizem que Katharine Hepburn ou Bette Davis as foram. E tem aqueles que contestam: ninguém supera Maria Falconetti e sua Joana D’Arc, do Dreyer.
Há quem diga que Cidadão Kane é o maior filme de todos os tempos. Há quem desdenhe e cite O Encouraçado Potemkin. Há quem prefira Ladrões de Bicicleta, do De Sica.
Há quem goste de Glauber Rocha. Há quem diga que Humberto Mauro é melhor. Há quem fale que o maior filme brasileiro já feito é o Limite, do Mário Peixoto.
Há quem diga que Fellini é um dos grandes diretores da sétima arte. Há quem discorde, pois Eisenstein aperfeiçoou a linguagem do cinema. Tem aqueles que devotam-se a Kubrick ou Hitchcock e outros que apontam realizadores obscuros, de nomes impronunciáveis e filmografia desconhecida pela maioria.
E as listas continuam... E as opiniões seguem favoráveis ou contrárias... Há quem diga que são longas, porém insuficientes; definitivas, mas injustas; inúteis, no entanto curiosas.
Há quem seja de direita, quem seja de esquerda, que torça por um time X ou Y, que acredite em Deus ou Ogum... Há quem diga que prefira cinema e tudo isso... Há quem prefira cinema a tudo isso...

domingo, 26 de julho de 2015

Cinemarte

A (des)importância do crítico

      O crítico de cinema sempre foi uma figura à parte no universo do cinema. O contraponto imperfeito ao público que lota (ou não) as salas de cinema. É difícil lembrar quem se notabilizou apenas por dizer o que achava dos filmes que chegavam ao circuito de exibição. Muitos reclamam maldosamente que o crítico é um cineasta frustrado, por não dirigir filmes, dá seus pitacos em obras de outros diretores sobre o que acertaram e o que eles deveriam ter feito. Na verdade, muitos desses filmes passariam em branco pela história do cinema, pois a unanimidade crítica é também responsável por evidenciar neles aquilo que são: clássicos.

Jean-Luc Godard e François Truffaut
      São poucos os que se destacaram pela capacidade escrita de avaliar as obras cinematográficas. Alguns extrapolam a análise e passam para detrás das câmeras para comprovar o próprio olhar do fazer cinema. O exemplo mais famoso são os colaboradores da célebre Cahiers du Cinema, onde François Truffaut, Jean-Luc Goddard e companhia trouxeram ao mundo a visão do “cinema de autor”, resgatando do ostracismo e do desprezo de intelectuais a obra de Hitchcock, Nicholas Ray, entre outros, identificando no trabalho destes realizadores uma unidade temática e estilística que poucos entreviram. Logo depois foram responsáveis pela nouvelle vague e o cinema mundial não seria o mesmo.

Paulo Emílio Sales Gomes
      Paulo Emílio Sales Gomes pode ser o representante máximo desta nova onda de críticos no Brasil, vinda de uma formação acadêmica, influenciada também pelas ideias filosóficas do marxismo, fazendo uma visão, ao mesmo tempo, sociológica e artística das obras brasileiras e estrangeiras, refletindo sobre um cinema ideal. Como contraponto também temos, como exemplo popular de crítico, o nome de Rubens Ewald Filho, das coberturas do Oscar, da memória enciclopédica que ganhou a televisão e a mídia escrita e até hoje tem sua relevância, simpatia e reconhecimento do público.

Rubens Ewald Filho
      Assisti há alguns dias o documentário Life Itself, sobre o crítico de cinema Roger Ebert. O filme alterna imagens dos últimos meses de vida de Roger, convalescendo de um câncer, arquivos dos tempos em que trabalhou no Chicago Sun Times (onde ganhou o Prêmio Pulitzer) e a popularidade alcançada ao lado de Gene Siskel num programa sobre filmes para a televisão. Ebert está, ao lado de Pauline Kael, como um dos críticos de cinema mais populares que, com sua visão, poderia destruir a carreira de um filme, como também poderia alavancá-la, principalmente daqueles que não teriam tanta audiência e bilheteria assim.


Roger Ebert
      A opinião de algum crítico sempre me encorajou a conhecer obras que, por elas mesmas, talvez não me convencesse a vê-las. Além disso, o texto bem escrito amplia o olhar sobre a obra cinematográfica ou até mesmo acrescenta uma informação que ajudaria na fruição de um filme. Infelizmente temos poucas pessoas dispostas, hoje em dia, a fazer uma crítica séria e consistente. Escrever sobre cinema não é somente dizer “gostei” ou “não gostei” (o crítico não vai substituir a experiência de assistir ao filme), é ajudar a perpetuar a paixão por uma arte que ainda cativa bilhões de pessoas, mesmo com a concorrência de outras mídias que disputam o território centenário ocupado pelo cinema. 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Cinemarte

Boyhood e Birdman


Época de carnaval coincide com a estreia da maioria dos filmes que concorrem ao Oscar. A chamada temporada de prêmios onde Globo de Ouro, Sindicatos, BAFTA, prêmios de críticos e a própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas elegem aqueles que eles consideram os melhores filmes do ano. Neste ano de 2015 existe a polarização do favoritismo entre Boyhood – Da Infância à Juventude e Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). Ambos trabalhos que, logo quando lançados ao circuito comercial, foram tidos como favoritos, porém muitos julgavam que eles não teriam força suficiente até o anúncio dos indicados destes diversos prêmios. Mas, com a fraca oferta de bons filmes no ano passado, foram concretizando seu apelo e mantendo o seus nomes na boca de críticos e cinéfilos até a consagração com diversas indicações. Ambos são trabalhos pretensiosos e ousados ao mesmo tempo, vamos qualificar esta ousadia de uma forma relativa, comparada ao que vem sendo produzido por Hollywood nos últimos anos. 


Em Boyhood pesa o fato do diretor Richard Linklater ter levado 12 anos para produzir e filmar esta que parece ser sua obra-prima (confesso que não gostei muito do falatório da trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite, este último título, exceção, ainda supera a verborragia dos filmes anteriores). A trama de Boyhood é simples, aparentemente. Acompanha a vida de Mason (Ellar Coltrane) dos 6 aos 18 anos, o relacionamento com a mãe (Patricia Arquette) e a amizade com o pai (Ethan Hawke), os conflitos da infância, as descobertas da adolescência e a chegada da maturidade e da vida adulta. Talvez a magia de Boyhood resida nesta simplicidade, do acompanhar sutil na vida destes personagens que envelhecem naturalmente aos nossos olhos. A identificação talvez venha também com o que foi retratado, quem nunca viveu uma daquelas situações quando jovem, por mais próxima que fosse da sua realidade, que atire a primeira pedra. Se Boyhood ganhar vai ser justamente pelo esforço do diretor Linklater em concluir sua obra após tanto tempo, assumindo riscos como a desistência de alguém do elenco ou até mesmo a confirmação da falta de talento de alguns dos jovens atores ao longo da produção. A simplicidade aqui contrasta com os milhões gastos e os bilhões almejados pelas superproduções de remakes e super-heróis de HQ’s que monopolizaram a atenção dos estúdios. E que nem sempre rendem boas estórias.


E é justamente isto o que Birdman critica. É um filme que se passa nos bastidores de um teatro da Broadway mas que fala de Hollywood e o seu sistema de produção o tempo todo. Riggan Thomson (Michael Keaton) quer exorcizar o fato de ter interpretado nos cinemas um super-herói e deposita toda a sua fé e dinheiro em uma adaptação de um texto de Raymond Carver que ele mesmo escreveu, dirige e produz. Adaptar Raymond Carver pode ser a redenção de Riggan, que almeja ganhar relevância no meio artístico e não ser lembrado apenas como o cara que fez o homem-pássaro nos cinemas. A descrença em torno desse projeto é geral e tudo em torno desta produção conspira para o erro e o equívoco. Aqui o nome de Alejandro González Iñárritú justifica a pretensão. O diretor mexicano nunca foi dado a tramas fáceis (desde as estórias que se entrecruzam de Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, até o drama pesado, longo, quase insuportável, de Biutiful). Birdman é um filme de egos: do protagonista que rema contra a maré para levar adiante a peça e do diretor que gravou o filme num único "pseudo-plano-sequência". A escolha de Michael Keaton, que já interpretou Batman no cinema duas vezes, foi uma grande sacada. Keaton entende a ironia da situação, agarra-se ao personagem, pois sabe que é o papel de sua vida, e mostra na tela o grande ator que sempre foi. Os diálogos são ácidos, o humor é sutil, o elenco magistral e o trabalho de câmera, perfeito, apesar de se fazer notar o tempo todo. A Hollywood fica o gosto amargo de um filme criticar o próprio sistema cinematográfico americano, pelos olhos de um mexicano, e ainda receber diversos prêmios por isso.


São dois filmes muito próximos, independentes, que apenas denunciam (com suas particulares qualidades) o poço da mediocridade que Hollywood está caindo com tantas adaptações de HQ’s e remakes, incapaz de produzir obras relevantes ou que, ao menos, a represente nas grandes premiações. O lucro, que se esvai, a cada ano, o desinteresse do público é apenas o sinal de que algo precisa mudar...


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

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Relatos Selvagens



A estranha coincidência de os passageiros de um voo conhecer a mesma pessoa. Uma garçonete que reencontra o homem responsável pela ruína de sua família. Dois motoristas que praticamente se digladiam após uma desavença de trânsito. Um pai de família revoltado com o sistema de guinchos que levou o seu carro e que, consequentemente, detona uma crise em seu casamento e seu trabalho. Um homem rico cansado de ser subornado para conseguir livrar o filho da acusação de atropelamento e morte de uma mulher e uma criança. Uma jovem que descobre, no dia do casamento dela, que é traída pelo marido e resolve dar o troco durante a festa.
Relatos Selvagens, de Damián Szifron, faz o uso da narrativa episódica para contar estórias de ódio, indignação, vingança e violência. Afinal quem nunca passou por algo parecido, perdeu as estribeiras, desceu do salto, rodou a baiana, fez escândalo, deu pití? Existe sempre um momento que cruzamos a linha da civilização, esquecemos as convenções sociais e flertamos com a barbárie. O filme argentino faz humor com essas situações extremas e desperta a identificação do público que purga seus desejos numa catarse ao mesmo tempo em que sabe que tudo aquilo não terminará bem de algum jeito. 


O mérito deste trabalho, assim como de grande parte da cinematografia dos nossos hermanos, como já foi escrito em post anterior, é justamente o caráter universal das ações e sentimentos descritos nas cenas (afinal as seis tramas poderiam se passar em qualquer país), sem perder a cor local, sabemos que estamos diante de um filme argentino e não é somente a presença de Ricardo Darín no elenco que indica isso.
Todos os episódios são coesos em sua escrita, com personagens bem delineados e tramas desenvolvidas. Claro que, como todo filme que se propõe a contar diversas estórias, o público pode naturalmente se interessar mais por uma estória do que por outra e até lamentar o seu fim em detrimento do início da próxima. O importante é que Relatos Selvagens não apresenta nenhuma lição de moral, não pretende ser edificante e está desprovido do julgamento de qualquer uma das personagens que estão ali na tela num momento de fragilidade, nervos a flor da pele, suscetíveis aos humores (bons ou maus), prestes a explodir como bombas-relógios. E que certamente vão explodir.
 

sábado, 27 de dezembro de 2014

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Preces cinéfilas


Por um cinema nacional com menos comédias televisivas (com menos Leandro Hassum, de preferência). Brasileiro gosta de rir (inteligentemente) e também de chorar, se assustar, torcer, suspirar, entrar em choque, pensar. Que o Brasil continue a investir em outros gêneros, que se arrisque mais em novas narrativas (como tão bem alguns diretores estão fazendo ultimamente e sendo bem sucedidos artisticamente nestas incursões). Que o público se reconheça e dê audiência e bilheteria não só aquilo que a Globo Filmes divulga.
Por um cinema hollywoodiano com menos adaptações de histórias em quadrinhos. Elas podem ser muito divertidas, quando bem-feitas, mas enfadonhas se a perspectiva de novidades são apenas continuações e transposições de heróis tão interessantes quanto o “homem-grilo”, “homem-formiga”, “homem-barata” ou qualquer outro ser extraordinário com super poderes.
Por um cinema estrangeiro (não somente americano ou europeu, claro) que venha nos salvar de toda mediocridade a qual não estaremos livres nas salas de exibição.
Por mais salas de cinema de rua a conservar a tradição cinéfila.
Que o cinéfilo consiga ir mais ao cinema do que no ano anterior, sozinho ou acompanhado.
Que o cinéfilo possa assistir a todos os filmes que deseja e os odeie e ame com o mesmo afinco. É do amálgama entre paixão e raiva que surgem os novos clássicos.
Que os críticos continuem com seu mau humor só para que possamos mostrar o quanto estão errados ao apoiarem demasiadamente ou denegrirem injustamente determinada obra.
Que surjam novos realizadores, atores e atrizes, novos profissionais capazes de manter a magia que é assistir a um filme (independente do formato: cinema, DVD, baixado pela internet, streaming, mutilado na TV).
Que filmes bons e ruins sejam assuntos nas conversas de bar, almoços, redes sociais, mobilizem pessoas a mudarem a si próprias ou as façam se divertir, pelo menos.
Que o cinema continue a ser cinema que já está de bom tamanho.
Seria pedir demais?