Viajantes Interplanetários

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sábado, 18 de outubro de 2014

SÉRIE POETAS PERNAMBUCANOS

 O ENTE AMADO DE EMILIANO

Teu cavalo morto
Renascerá principalmente
Com o verão nas árvores

E não estarás oculto
Como um salteador de estradas,
Ou um solitário irredimível.

Teu cavalo morto
Renascerá após a agonia dos bois
Nos currais ensolarados

E saberás distinguir
Essas questões difíceis que propõem
A qualquer homem vivo.

Teu cavalo morto
Renascerá à semelhança de um deus
Deslumbrante e amoroso.

Envelhecerás sozinho e triste
Até que o ar sufoque os corvos e os livros,
Comprimindo a cruz ao sol.

Teu cavalo morto
Renascerá como nunca pensaste,
E logo ficarás tranqüilo.

José Carlos Targino



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Expoentes da “Geração 65”: JOSÉ CARLOS TARGINO

ESPÍRITOS DO AR

Quando a luz da terceira morada subiu ao oitavo céu, duas aves, mergulhando na terra, cingiram seus rostos. Logo suspiraram por uma estrada escura, numa hora incerta, e a primeira ave, de alta plumagem, disse algumas palavras com a voz travessa: “Diana, apronta teu arco com zelo, sonolenta, e vem a mim, que te guio”. Depois que se passaram duas ou mais horas consteladas, o espírito sensato, na sua própria giração, habitou entre os suspiros. E qual vigia das horas consteladas, o espírito sensato maravilhou-se com o juízo da aurora cadente.

Quando a luz da terceira morada subiu ao oitavo céu, Odisseu, filho da aurora cadente, chamou Diana, a de menos alta plumagem, e disse algumas palavras com a voz travessa: “Diana, apronta teu arco com zelo, sem danação, e vem cuidadosa. Adiante fica o agourento reino da névoa”. Assim Odisseu, o de mais alta plumagem, saiu com passos de nuvem, igual a andante levantando do leito. E Diana nem uma vez tresmalhou do seu guia. Depois que se passaram duas ou mais horas consteladas, o espírito sensato aguçou seus olhos, na sua própria giração, e habitou entre os suspiros. E qual vigia das horas consteladas, o espírito sensato passou do centro à borda da água, nas boníssimas ondas repousando.

Quando a luz da terceira morada subiu ao oitavo céu, os personagens então chegaram àquela parte da aurora composta de névoa. Por isso Odisseu, o de mais alta plumagem, disse algumas palavras com a voz travessa: “Diana, eis os carros de proa elevada. Desce comigo, ó entre de rosto sanguíneo, antes que assolem metade da terra iluminada, ou desapareçam como a espuma sigilosa”. Odisseu pensou nas duas sombras daquela passagem, uma interrompendo a outra, e saiu para o lugar onde devia estar uma torre redonda, em cujo vestíbulo viviam sete falcões enfurecidos. Diana, a de menos alta plumagem, retomou sonolenta as pegadas do guia. Depois que se passaram duas ou mais horas consteladas, o espírito sensato, na sua própria giração, habitou entre os suspiros.

Quando a luz da terceira morada subiu ao oitavo céu, os personagens atravessaram uma pequena charneca merencórea. Novamente Odisseu, o de mais alta plumagem, disse algumas palavras com a voz travessa: “Diana, eis os carros de proa elevada. Desce e observa à direita, sonolenta, que esse som nunca procede da lua, e sim da terra sigilosa”. Diana, a de menos alta plumagem, moveu seus punhos de púrpura; sua cabeça tomou a forma de uma maçã de meia idade, até que o guia desaparecesse na névoa. Depois que se passaram duas ou mais horas consteladas, o espírito sensato aguçou seus olhos na sua própria giração, e viu a segunda ave mergulhando na névoa, acima da espuma iluminada.


(José Carlos Targino)