A (des)importância
do crítico
O crítico de cinema sempre foi uma figura
à parte no universo do cinema. O contraponto imperfeito ao público que lota (ou
não) as salas de cinema. É difícil lembrar quem se notabilizou apenas por dizer
o que achava dos filmes que chegavam ao circuito de exibição. Muitos reclamam maldosamente
que o crítico é um cineasta frustrado, por não dirigir filmes, dá seus pitacos
em obras de outros diretores sobre o que acertaram e o que eles deveriam ter
feito. Na verdade, muitos desses filmes passariam em branco pela história do
cinema, pois a unanimidade crítica é também responsável por evidenciar neles aquilo
que são: clássicos.
Jean-Luc Godard e François Truffaut |
São poucos os que se destacaram pela
capacidade escrita de avaliar as obras cinematográficas. Alguns extrapolam a
análise e passam para detrás das câmeras para comprovar o próprio olhar do
fazer cinema. O exemplo mais famoso são os colaboradores da célebre Cahiers du Cinema, onde François
Truffaut, Jean-Luc Goddard e companhia trouxeram ao mundo a visão do “cinema de
autor”, resgatando do ostracismo e do desprezo de intelectuais a obra de
Hitchcock, Nicholas Ray, entre outros, identificando no trabalho destes realizadores uma unidade temática e estilística que poucos entreviram. Logo depois foram
responsáveis pela nouvelle vague e o
cinema mundial não seria o mesmo.
Paulo Emílio Sales Gomes |
Paulo Emílio Sales Gomes pode ser o
representante máximo desta nova onda de críticos no Brasil, vinda de uma
formação acadêmica, influenciada também pelas ideias filosóficas do marxismo,
fazendo uma visão, ao mesmo tempo, sociológica e artística das obras
brasileiras e estrangeiras, refletindo sobre um cinema ideal. Como contraponto
também temos, como exemplo popular de crítico, o nome de Rubens Ewald Filho,
das coberturas do Oscar, da memória enciclopédica que ganhou a televisão e a
mídia escrita e até hoje tem sua relevância, simpatia e reconhecimento do
público.
Rubens Ewald Filho |
Assisti há alguns dias o documentário Life Itself, sobre o crítico de cinema
Roger Ebert. O filme alterna imagens dos últimos meses de vida de Roger,
convalescendo de um câncer, arquivos dos tempos em que trabalhou no Chicago Sun Times (onde ganhou o Prêmio
Pulitzer) e a popularidade alcançada ao lado de Gene Siskel num programa sobre filmes para a televisão. Ebert está, ao lado de Pauline Kael, como
um dos críticos de cinema mais populares que, com sua visão, poderia destruir a
carreira de um filme, como também poderia alavancá-la, principalmente daqueles
que não teriam tanta audiência e bilheteria assim.
Roger Ebert |
A opinião de algum crítico sempre me
encorajou a conhecer obras que, por elas mesmas, talvez não me convencesse a
vê-las. Além disso, o texto bem escrito amplia o olhar sobre a obra cinematográfica
ou até mesmo acrescenta uma informação que ajudaria na fruição de um filme.
Infelizmente temos poucas pessoas dispostas, hoje em dia, a fazer uma crítica
séria e consistente. Escrever sobre cinema não é somente dizer “gostei” ou “não
gostei” (o crítico não vai substituir a experiência de assistir ao filme), é
ajudar a perpetuar a paixão por uma arte que ainda cativa bilhões de pessoas,
mesmo com a concorrência de outras mídias que disputam o território centenário
ocupado pelo cinema.
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