Viajantes Interplanetários

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Cinemarte



Relatos Selvagens



A estranha coincidência de os passageiros de um voo conhecer a mesma pessoa. Uma garçonete que reencontra o homem responsável pela ruína de sua família. Dois motoristas que praticamente se digladiam após uma desavença de trânsito. Um pai de família revoltado com o sistema de guinchos que levou o seu carro e que, consequentemente, detona uma crise em seu casamento e seu trabalho. Um homem rico cansado de ser subornado para conseguir livrar o filho da acusação de atropelamento e morte de uma mulher e uma criança. Uma jovem que descobre, no dia do casamento dela, que é traída pelo marido e resolve dar o troco durante a festa.
Relatos Selvagens, de Damián Szifron, faz o uso da narrativa episódica para contar estórias de ódio, indignação, vingança e violência. Afinal quem nunca passou por algo parecido, perdeu as estribeiras, desceu do salto, rodou a baiana, fez escândalo, deu pití? Existe sempre um momento que cruzamos a linha da civilização, esquecemos as convenções sociais e flertamos com a barbárie. O filme argentino faz humor com essas situações extremas e desperta a identificação do público que purga seus desejos numa catarse ao mesmo tempo em que sabe que tudo aquilo não terminará bem de algum jeito. 


O mérito deste trabalho, assim como de grande parte da cinematografia dos nossos hermanos, como já foi escrito em post anterior, é justamente o caráter universal das ações e sentimentos descritos nas cenas (afinal as seis tramas poderiam se passar em qualquer país), sem perder a cor local, sabemos que estamos diante de um filme argentino e não é somente a presença de Ricardo Darín no elenco que indica isso.
Todos os episódios são coesos em sua escrita, com personagens bem delineados e tramas desenvolvidas. Claro que, como todo filme que se propõe a contar diversas estórias, o público pode naturalmente se interessar mais por uma estória do que por outra e até lamentar o seu fim em detrimento do início da próxima. O importante é que Relatos Selvagens não apresenta nenhuma lição de moral, não pretende ser edificante e está desprovido do julgamento de qualquer uma das personagens que estão ali na tela num momento de fragilidade, nervos a flor da pele, suscetíveis aos humores (bons ou maus), prestes a explodir como bombas-relógios. E que certamente vão explodir.
 

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