Viajantes Interplanetários

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quarta-feira, 4 de julho de 2012

INSANA NOITE INSONE

O que você desenha,
é a trilha que eu sigo.
E o que teus olhos vêem,
é o meu umbigo.
Minha meta,
te aperta.
O que teus lábios dizem,
são minhas tuas palavras.
O que entra em tua voz,
é o meu ouvido.
O que há em tua unha,
é a nua e crua carne minha.
E o que tenho em minhas mãos,
são fibras tuas.
Minha saliva já habita,
a tua boca.


Um botão em fúria,
um mar em flor.
Somos tão emaranhados,
que minha cabeça desconhece,
e já nem reconhece,
se eu sou eu,
ou se sou você,


a pensar em mim.


e-book do projeto CASTANHA MECÂNICA.
  

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Katarine Araújo no Castanha Mecânica



Com um sotaque legitmamente urbano… Urbano não… De terceiro mundo… Melhor e mais preciso: de Recife e Olinda! Katarine Araújo pede benção ao cinza de Erickson Luna e ao azul de Alceu Valença (nos bons tempos, claro) para a jornada de amor e paixões e tristezas e misérias com o seu Domingos Azuis e Outros Dias Nublados, 20 poemas que exploram não só as temáticas trabalhadas, mas os usos das palavras no papel… Ou melhor: no monitor. Afinal não devemos perder de vista que a antologia foi gerada com base nos poemas publicados no blog Canto de Amor e Lama.

CONFIRA O E-BOOK LÁ NO CASTANHA MECÂNICA.


JORGINHO

          Minha gente, alguém conheceu Jorginho, aí? Pois é, pior que sim, e ninguém nem sabe. Porra, Jorginho era foda.
          Jorginho era um infante rebelado, quebrava brinquedo, roubava lanche no recreio. Jorginho roubava beijo das meninas, colava chiclete no cabelo delas. “Ah, Jorge Antônio se eu te pego!” “— Se tu me pega, eu sou o pega mãe!” — berrava Jorgin.
          Jorginho só foi Jorge Antônio duas vezes na vida, na certidão de nascimento, e na de óbito. Jorginho nunca bebia, ele sempre se embriagava. Nunca foi de andar, sempre de correr. Nunca amou (pouco), Jorginho era de tantos amores, um amante incompreendido ou coisa assim. Odiava estudar, a vida dele era ler Marx e Freud. “Ah Jorge... Assim tu não vence na vida!” — “Oxi, painho, e é guerra é? Eu quero é me perder na vida!”
          Ah, Jorginho não serviu ao exército! Ah, Jorginho, de beber perfume, de chocar vovó com palavrão cabeludo, de seduzir a empregada. Ah, Jorginho cara de pau, de passar cheque sem fundo, de casar cinco vezes, e apesar dos cinco divórcios declarar que todos deram certo! Um dia Jorginho sumiu, e até hoje não se sabe pra onde. Foi pro mundo, virou pó. Ou poesia. Jorginho dizia “mãe, eu posso! Eu tenho alma de poeta.” (Vá entender, né? Vai ver ele podia.)
          Ainda bem que EU pude conhecer Jorginho.

Katarine Araújo

domingo, 27 de junho de 2010

OS MENINOS CINZAS DO RECIFE

      
Os meninos cinzas das ruas de Santo Amaro,
os meninos sem cor de Recife.
Me fizeram crer que era puro egoísmo,
meu bom humor de tarde quente,
meu bom humor de terça-feira de verão.
e o é,
e o somos.

Os meninos cinzas de Santo Amaro,
são meninos filhos,
meninos frutos do nosso ventre,
do ventre do nosso silêncio.
Silêncio que nos ata as mãos,
e nos cega a vista.

Os meninos cinzas de Recife,
são fruto daquilo que nos tapa a visão
da nossa covardia diante do nosso
próprio egoísmo.

Os meninos cinza de Santo Amaro,
são nascidos do nosso silêncio.
E é do nosso medo que eles morrem.


Katarine Araújo
      

domingo, 18 de abril de 2010

SANTO BÊBADO DUM CARNAVAL

    

Arrasa, o meu projeto de vida,
santo bêbado dum carnaval.
Carne viva,
seringa,
fogueira num vendaval.

Palavras fugitivas num discurso,
e muda o curso num leito dum rio,
lava o sal do mar,
tira as nuvens pra lavar,
abre pétala por pétala,
e as devolve quando o sol se dissipar.

Prato uno dum vagabundo,
id pisoteando ego num samba de fevereiro.
Poder ludibriante de um político,
ante um povo sem lembranças.

Rasga o jornal, e bebe o último gole do café,
fuma pontas num cinzeiro,
bate porta,
leva a rede,
muda o curso de uma história.

Arrasa com meu projeto de vida,
és última gota de sangue na revolução,
és o último suor da construção.


Katarine Araújo