Viajantes Interplanetários

sexta-feira, 11 de junho de 2010

NÃO HÁ VAGAS

    
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

      — porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira


Ferreira Gullar

Um comentário:

  1. esse poema está bem para a era Sarney.
    É um velho conhecido meu, lembra outro bem acre do ferreira:


    Poema Brasileiro

    No Piauí de cada 100 crianças que nascem
    78 morrem antes de completar 8 anos de idade

    No Piauí
    de cada 100 crianças que nascem
    78 morrem antes de completar 8 anos de idade

    No Piauí
    de cada 100 crianças
    que nascem
    78 morrem
    antes
    de completar
    8 anos de idade

    antes de completar 8 anos de idade
    antes de completar 8 anos de idade
    antes de completar 8 anos de idade
    antes de completar 8 anos de idade

    (1962)

    não é por menos que eu ainda acho que ele é o estado mais pobre do Brasil

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