*Como é bom poder voltar ao planeta mais poético de que se têm notícias entre as galáxias! Desde já peço minhas humildes e sinceras desculpas pelo não comparecimento nas últimas três semanas em que não postei e nem pude apreciar as postagens de meus caros amigos. Vários problemas pessoais e tecnológicos me impediram de cumprir com os prazos.
Espero que estejam todos bem e apreciem a leitura de hoje!
Saudades de vocês,
Ly Cintra
O ano era 2004 e lá estava eu mudando de escola, de amigos, de rua, de cidade, de estado... Resumindo, entrando em uma vida totalmente nova. O que mais poderia incomodar do que toda essa mudança em uma plena fase de transformação como a adolescência? Pois é, incomodou.
Em minha escola nova, fiquei logo sabendo que teríamos de montar uma peça sobre um livro escolhido pela professora de literatura e representar para a classe. A sala foi dividida em duas grandes equipes. A época a ser explorada era o Realismo e o autor Eça de Queirós, ou seja, ainda mais novidades para mim. A primeira equipe foi presenteada com O Crime do Padre Amaro. E querem saber qual livro coube a minha equipe? O Primo Basílio!
Todos compravam o livro a própria professora, que fazia o pedido a um vendedor. Não pude esperar tanto e na hora do intervalo fui à minúscula biblioteca caçar ele por lá. E tão logo o encontrei não tive dúvidas em querer levá-lo pra casa. No entanto, os momentos de euforia foram poucos, em seguida veio à decepção ao ficar sabendo que os livros não saiam da escola! Jamais poderia imaginar tal absurdo, de que servem livros nas estantes que não possuem leitores?
Minha primeira impressão foi de um livro sem romance, desses românticos com direito a muitos suspiros, como os que eu realmente gostava (e hoje gosto ainda mais) de ler. E só esse motivo já era fato maior do que o esperado para me desapontar. Mas apesar de tudo que Luísa aprontava eu senti muita pena dela por ser tão fraca e sempre recorrer aos braços de Basílio e na época nada me deixou mais triste do que o final do livro, até hoje tenho a agenda com o dia em que terminei e pontinhas de desilusão tão claramente escritas.
Não deve ter agradado porque foi meu primeiro contato com uma obra realista, imaginem que despertar é para quem passou tempos lendo José de Alencar. No começo fiz cara feia e queria voltar correndo para minha prosa romântica. Acostumada a personagens puros e cheios de caráter, lidar com anti-heróis despidos de virtudes não foi tão agradável assim. Mesmo assim, o livro conseguiu me conquistar tanto que no momento eu não me dei conta, pois na hora do recreio, sentada na calçadinha de cimento, entre uns biscoitos de chocolate e outro a história foi inteiramente devorada. Terminei de ler e os exemplares que a professora pediu para os alunos ainda não haviam chegado.
Anos depois, quando entrei nos assuntos a serem estudados para o vestibular foi que pude compreender a crítica à sociedade urbana burguesa do século XIX que estava embutida naquelas palavras do autor. Eça sempre foi um homem comprometido em retratar a sociedade na qual estava inserido, querendo apontar os defeitos que ele encontrava e fazer com que isso fosse visto por quem pudesse ler os seus escritos.
Cada personagem do livro mostra um tipo de personalidade ou comportamento a ser criticado pelo autor. Como Luísa a jovem inconseqüente que não mede seus atos momentâneos para pouco depois se arrepender, Jorge e Basílio que não poderiam ser mais diferentes do que a água e o óleo, onde um é totalmente dedicado a esposa enquanto o outro busca apenas os prazeres sem se importar com sentimentos. Juliana demonstra todo o tédio do trabalho por sobrevivência, à amargura de não ser bonita nem de possuir dinheiro como sua patroa e quando descobre as cartas secretas trocadas entre esta e o primo não fraqueja em ver nisso uma oportunidade de receber por outros meios, como a chantagem, o que não conseguiu naturalmente.
Esses são apenas os personagens centrais entre tantos outros que habitam essa narrativa portuguesa, aonde Basílio recém-chegado de viagem do exterior, resolve procurar sua prima e ex-namorada Luísa, que agora mesmo estando casada com o engenheiro Jorge, sede aos encantos do conquistador que a abandonou anos atrás justamente após a morte de sua mãe, tornando-se amante do "bon vivant". Algum tempo de encontros depois vê sua pacata vida de dona de casa e leitora ávida de romances se transformar em uma vida de chantagens, fofocas, remorsos e culpa quando descoberta por sua empregada Juliana, que não nutre nenhum sentimento especial por ninguém, exceto a si própria, querendo fazer de um tudo para subir na vida.
Para saber mais leiam a obra completa e quem já leu, uma releitura de clássicos é sempre bem vinda! Cada página pode nos apresentar algo que passou despercebido em uma primeira leitura, esse eu recomendo.
Leituras feitas e comentadas, vocês podem me perguntar... E a peça? Foi realmente um drama para mim, já imaginou representar, decorar falas e tentar não gaguejar na frente de uma sala inteira sendo a única novata? Foi tão difícil! E podem perguntar ainda mais, sabem com qual papel fiquei? Luísa! É exatamente isso, a pro-ta-go-nis-ta. Totalmente aterrorizante para uma pobre iniciante no teatro e entre as novas amizades. Mas ao roteiro e a encenação foi um sucesso, com um figurino totalmente improvisado (a Luísa aqui teve de usar o próprio All Star azul, já que Thayná Samilla se esqueceu de trazer a bota) agradou a gregos e troianos e eu e Amanda Oliveira (minha grande amiga que fez a Juliana) ganhamos elogios da professora como ótimas atrizes. Ficamos simplesmente bobas, com sorrisos de orelha a orelha. =)
Dedico este post de hoje a Amanda e Thayná (Amo muito vocês meninas, são as melhores sempre), aos Leandro’s (Talles e Vieira), Jr. (O Basílio mais legal :D), Gláucia, Brênio e Neto por esses agradáveis momentos.
Saúde e Paz!
Beijocas :*
Ah, o primo Basílio! burguês e perceptível, com um final incrível. não que eu tenha acabado de ler, mas apresenta uma ótima narrativa realista.
ResponderExcluirbem vinda de volta Ly.
Realismo! É falou minha segunda língua, a primeira todo mundo já sabe, primo Basílio acompanho-me do velho emprego na pacata Bezerros até o vestibular anos atrás, não é um dos meus preferidos - prefiro a "perfídia" do Casmurro... Entretanto confesso que não era isso que eu queria dizer, hoje me senti dez anos a menos: atriz kkkkkkkkkkkk santa tartaruga!, do jeito que essa menina é envergonhada atuar e ainda para um bando de "desconhecidos" cruzes! Deve ter sito a treva (PAULINHA REIS, 2009). Eu pagaria uma bolada para ver essa menina em cena kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirbem vinda de volta a galáxia da poesia e até a volta.
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ResponderExcluirNão tem como não se encantar com suas descrições (lembro de Alencar quando leio um texto seu). Parece que vejo sua carinha enquanto lê. O Primo Basílio é uma das leituras que mais me emociona, mesmo sendo de um movimento tão seco se comparado ao romantismo. Conhecemos nessa obra não só personagens, mas seus sentimentos, suas angústias, vontades... E é como você disse, chegamos a nos envolver sentindo raiva ou amor. Foi uma maravilhosa indicação (como sempre). Valeu esperar por essa postagem!
ResponderExcluirP.S.: Ítalo, sei que você vai gostar da bela obra!
Cronologia linda!
ResponderExcluirViva a literatura que embarca na vida...
Puxa vida, Ialy, se tem coisa que detesto é leitura obrigada.
ResponderExcluirMas convenhamos, se não fosse assim talvez nunca tivesse vc lido o Primo Basílio e nem eu Um Certo Capitão Rodrigo (não teria descoberto todo o resto do Erico.)
Eu assisti ao filme, para a faculdade, com a Debora Falabela, Gianechini e Fábio A. e fiquei um pouco deprimida com o a história (porque, afinal, como vc, sempre espera-se algo Alencar, algo "romance".
E, agora, fiquei admirada com a ótica da crítica que vc descreveu. Só acho estranho eles chamarem "realismo" só histórias onde há mágoa, desilusão, dor. Conheço várias história REAIS que não são assim. Em que as pessoas se respeitam, cuidam-se (vivem dores sim, como é natural, mas, vc imagina). Mas como estava lendo um grande observador de literatura dizer, como uma nova geração de autores vai se sobressair, se não trouxer algo novo e totalmente oposto e confrontador a anterior?
Tenho muitíssima vontade de ler Eça. Ouvi dizer que é uma narração inteligentíssima e, com seu post, vou colocar logo nas leituras futuro-próximas =D. Mas tenho vontade de ler A Relíquia e Os Maias, livros nos quais baseou-se a Minissérie conhecida, protagonizada também por... Fábio Assumpção.
Ah, adorei sua narração que aproxima-nos tanto do fato ocorrido. Parece alguém (tchuruu), "que não conto que é", que usa lembranças e o cotidiano para ilustrar aventuras literárias. Demais ^-^
Beijinhos
Aline