O demiurgo pernambucano dos versos
por: D.Everson
Hoje sem muitos segredos vamos falar de um pernambucano ilustre que dá nome a uma ponte e uma biblioteca em Recife, trata-se do poeta Joaquim Cardozo que segundo Carlos Drummond de Andrade:
Inclinado à solidão pelas exigências do temperamento, Joaquim Cardozo foi, porém, modernista mais ausente do que participante. Se refletiu as inquietações de época e de grupo, fê-lo sem a passividade que em outros poetas daquela fase excluiria qualquer reivindicação do indivíduo. Um aparelho severo de pudor, timidez e autocrítica salvou-o das demasias próprias de todo período de renovação literária. E permitiu-lhe dedicar às coisas pernambucanas enfim admitidas no campo da poesia uma contemplação que não se deliciava na superfície, buscando penetrá-las no seu significado ou no seu mistério. Assim, a pintura das alvarengas paradas ou em movimento no velho cais do Apolo, sob o sol das cinco horas que acende um farol no zimbório da Assembléia Legislativa, deixa de ser um quadro meramente impressionista. O poeta sabe de onde vêm esses lanchões:
Vêm de longe, dos campos saqueados
Onde é tenaz a luta entre o Homem e a Terra,
Trazendo nos bojos negros,
Para a cidade,
A ignota riqueza que o solo vencido abandona,
O latente rumor das florestas despedaçadas.
Nascido no Recife no Bairro do Zumbi no ano de 1987 é autor das seguintes obras: Poemas, Signo Estrelado, O Interior da Matéria, Poesias Completas e Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias. Ainda escrevera em prosa: Coronel de Macambira, De uma noite de festa e Marechal, boi de carro. Escreveu ainda os dramas O Capataz de Salema , e Antônio Conselheiro, alémdo pastoril Os anjos e os demônios de Deus.
Com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa participou da construção da cidade de Brasília, respondendo pelos cálculos estruturais. Dentre os edifícios calculados por Joaquim Cardozo, em Brasília, destacam-se o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral.
Um dos melhores amigos do poeta o também poeta João Cabral de Melo Neto escreveu:
A Joaquim Cardozo
Com teus sapatos de borracha
Seguramente
É que o seres pisam
No fundo das águas.
Encontraste algum dia
Sobre a terra
O fundo do mar
O tempo marinho e calmo?
Tuas refeições de peixe;
Teus nomes
Femininos: Mariana; teu verso
Medido pelas ondas;
A cidade que não consegues
Esquecer
Aflorada no mar; Recife,
Arrecifes, marés, maresias.;
E marinha ainda a arquitetura
Que calculaste;
Tantos sinais de marítima nostalgia
Que te fez lento e longo
(do livro O Engenheiro)
Passei um ano passeando pela Biblioteca Joaquim Cardozo no CAC (Centro de Artes... da UFPE) e sempre paquerava o livro do Joaquim, até que ontem não resisti mais e peguei as suas obras completas condensadas num belo volume de capa dura: que universo abriu-se ali naquele instante para mim! Hoje já faço as contas para adquirir aquele majestoso líber para minha modesta coleção de livros de poesia. Mas na verdade o que eu queria dizer é que não bastou folhear muito e pronto! Dei de cara com esses haicais (a baixo) e onde mais eles caberiam se não aqui nessa coluna. Pago-lhes a minha ausência de domingo passado com esse lindo poema desse demiurgo do verso:
Haiku
Como era:
Botei um covo no fundo da gamboa.
No outro dia encontrei um telescópio
Cheio de estrelas.
Como deveria ser:
Cheiinho de estrelas
Na funda gamboa um covo:
Mas, um telescópio.
(Joaquim Cardozo)
Uoa! fenomenal...
ResponderExcluirAgora fiquei querendo ler mais poesias desse poeta. Gostei mais da versão do "como era". Genial essa conrespondência.
ResponderExcluirComo diz meu esposo, sob a sombra do Arquiteto, engenheiros quase não levaram a fama, mas eles (e, principalmente, os trabalhadores) tornaram Brasília possível