Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 24 de março de 2011

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CHAMA O LADRÃO

OU 10 COISAS QUE ENCHEM O SACO HJ NA NOITE DE SP:



1)Levar a pequena ou a patroa para comer fora. É um assalto atrás do outro nos restaurantes da Zona Oeste, com maiores ocorrências em Pinheiros e Vila Madalena. Em vez da romântica luz de vela, um cano fumegante no cangote. Acontece.

2)O preço dos restaurantes. Faz você até esquecer e perdoar o ladrão no mesmo instante.

3)A turma do Nextel apitando no seu ouvido com diálogos de fazer inveja à turma do BBB 11. Faz você achar o ladrão um gentleman, um digno cavalheiro inglês, um dândi, um lorde.

4)Se na mesa da direita está a bancada do rádio-telefone; na da esquerda está o homem-bouquet, arrotando conhecimentos sobre vinho para tentar abater a gazela acompanhante. Ah, esse ladrão que não chega logo para nos livrar dessa chatice toda, desse “paladar aveludado e encorpado, porém macio, bouquet particular, de cor intensa e notas florais, levemente amadeirado...”

5)Você convida a dama para o prazer da mesa e a danada só belisca uma maldita saladinha. Desgostoso, só me resta lembrar daquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ”Os Desajustados”, quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um prato de operário. Como é impagável uma mulher que come sem frescura. Até o ladrão tem pena das feições esquálidas da moça!

6) A namorada ensaia a D.R., sigla da mitológica Discussão de Relação, e você mesmo, acuado, chama o ladrão. O restaurante todo muda de assunto. Ufa!

7)O custo do estacionamento. Faz você esquecer que o restaurante é assim tão caro, afinal de contas pelo menos alimenta com aquela porçãozinha nouvelle cuisine.

8)Cinema no final de semana. Mais tempo na fila do que diante da tela. Corra Lola, corra. O enredo é mais emocionante em algum restaurante da Zona Oeste.

9)Aquela velha cantada “você é o ar que eu respiro!” Definitivamente, essa não é uma boa declaração de amor na cidade do monóxido de carbono e outras partículas elementares.

10)Gente que só tem dois assuntos em SP: a virada do tempo e o trânsito. Dá até saudade da turma do Nextel, do homem-bouquet cheirando a rolha, da comida cara, do ensaio da D.R., do flanelinha e do moço do estacionamento... Do ladrão nem se fala, a essa altura já virou amor platônico –nos levou umas patacas mas não roubou a preciosa paciência. Enfim um homem civilizado triunfando contra a barbárie!

XICO SÁ / Folha de São Paulo

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