Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 3 de março de 2011

CONFRONTOS E CONFLUÊNCIAS

          Nobrezas, tenho dito: é muito difícil entrar na internet e escrever alguma coisa para a coluna com o carnaval me levando pelo braço aqui nas bandas de Pernambuco. Portanto, serei breve, mas longe de perder a qualidade dos ilustres poetas que passam por aqui. Hoje tem Castro Alves e Tobias Barreto, que segundo consta: "poetas rivais, Castro Alves e Tobias Barreto agitam o Teatro de Santa Isabel com embates poético-passionais" (Heloísa Arcoverde de Morais).
          A temática é dura e não cabe ao tempo destruir para que nunca mais, voltemos. Apesar da onipresença dos males da escravidão nos nossos dias. Agora, vou indo que o carnaval me chama!

ANTÍTESE
                    O seu prêmio? — O desprezo e
                    uma carta de alforria quando tens
                    gastas as forças e não pode mais
                    ganhar a subsistência.

                                                  (Maciel Pinheiro)

Cintila a festa nas salas!
Das serpentinas de prata
Jorram luzes em cascata
Sobre sedas e rubins.
Soa a orquestra ... Como silfos
Na valsa os pares perpassam,
Sobre as flores, que se enlaçam
Dos tapetes nos coxins.

Entanto a névoa da noite
No átrio, na vasta rua,
Como um sudário flutua
Nos ombros da solidão.
E as ventanias errantes,
Pelos ermos perpassando,
Vão se ocultar soluçando
Nos antros da escuridão.

Tudo é deserto. . . somente
À praça em meio se agita
Dúbia forma que palpita,
Se estorce em rouco estertor.

— Espécie de cão sem dono
Desprezado na agonia,
Larva da noite sombria,
Mescla de trevas e horror.

É ele o escravo maldito,
O velho desamparado,
Bem como o cedro lascado,
Bem como o cedro no chão.
Tem por leito de agonias
As lájeas do pavimento,
E como único lamento
Passa rugindo o tufão.

Chorai, orvalhos da noite,
Soluçai, ventos errantes.
Astros da noite brilhantes
Sede os círios do infeliz!
Que o cadáver insepulto,
Nas praças abandonado,
É um verbo de luz, um brado
Que a liberdade prediz.


(Castro Alves)


A ESCRAVIDÃO

Se Deus é quem deixa o mundo 
Sob o peso que o oprime, 
Se ele consente esse crime, 
Que se chama a escravidão, 
Para fazer homens livres, 
Para arrancá-los do abismo, 
Existe um patriotismo 
Maior que a religião. 

Se não lhe importa o escravo 
Que a seus pés queixas deponha, 
Cobrindo assim de vergonha 
A face dos anjos seus, 
Em seu delírio inefável, 
Praticando a caridade, 
Nesta hora a mocidade 
Corrige o erro de Deus!...


(Tobias Barreto)
     

3 comentários:

  1. Falar de dores e amores...Os poetas daqui e de Marte...Grande beijo...

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  2. ser iletrado é legal por que qualquer palavra expressa de maneira simples...
    massa véi!
    Castro Alves é intrigante!

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