Viajantes Interplanetários

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Prateleira da Piúla

Criança também quer poesia!


Quem sabe se os pais, mães, avós, tias, professoras e qualquer mais outro adulto do convívio de uma criança, lhe ensinasse o valor e importância afetiva e social de uma poesia, quando adulta ela nunca chegasse a esse estereótipo tão real versado por D. Everson! em O excomungado poeta!

Aprendi a amar poesia por conta minha, quando achei um livro cheio de poemas encantados do reino de Goiás. Tinha 8 para 9 anos. Foi numa estante aborrecida de livros de Direito. Naquele dia, versos em cadência se tornaram importantes para mim como todas as tribos necessitam de música.
Mas esse destino não busca, infelizmente, por sua conta, todo mundo. Por conta disso, por conta daqueles que não foram afetuosamente apresentados a poesia, algumas vezes, nós que fomos, poderemos escutar de alguém uma farpa ou comentário preconceituoso sobre poesia.

No mais, eu tenho pena pela diversão e aprofundamento interior que essas pessoas estão perdendo.
Sempre há tempo, não importa a idade, para iniciar uma relação fraternal com os versos.
Até meu esposo, odiando poesia, porque essa lhe era na idade escolar algo imposto, cobrado e, naqueles declames obrigatórios (sem cola) até motivo de suor frio, passou a gostar depois de mim. E agora aprecia ouvi-las. Para pensar... ou para, mesmo, ser ninado, já que diz que minha voz é um sonífero.
Tenho a impressão quase no sangue que a literatura começou na poesia... Quando a literatura estava ainda, somente nos lábios das gentes.

Se um livro de Cora não sai a caça dos leitores, é papel dos adultos que já foram laçados pelo maravilhoso gosto por poesia, apresentá-la aos pequenos leitores. E mostrar, que não´há um só modo de tê-la/fazê-la.

O livro de que falo hoje, como vocês podem ver na bela capa, é de Tatiana Belinky, Um Caldeirão de Poemas (Companhia das Letrinhas). Peguei-o para a Sarah, na casa de leitura, lá em Curitiba.

É mesmo um caldeirão! Uma bela mistura.
Diversos autores e ilustradores diferentes.
Versos que ora parecem musicados, tanto é o ritmo, a repetição, como mesmo num estribilho, uns trazem sebedorias dum modo que mesmo uma criança pode pensar sobre elas - uma criança sempre melhor em seus juízos que qualquer adulto.
Umas poesias são bobas, só para dar risada! Tem para todo gosto.
Houve até as que não gostamos - a Piúla e eu! Elas também importam. As outras, que gostamos, se tornam ainda mais bonitas, perto de um da mau gosto.
Ainda bem que, na arte, o juízo é algo individual.

E toda a noite ela quer que eu leia e releia, e já tem mesmo suas preferidas! Já sabe chegar na página de uma única abrida. Ainda bem que está chegando o dia de devolver! Isso é brincadeira. =) Porque, embora a Sarah ainda não saiba, penso que terei de dar um jeito de renovar o empréstimo do livro. E, embora seja difícil para nós, adultos, compreender a necessidade por repetição nas crianças... a psicologia tenta explicar. Terei de renovar o empréstimo porque descobri que essa antologia colorida (uma ilustração mais interessante que a outra) é o instrumento perfeito para o meu mais novo projeto de literatura infantil que, não demorará muito, vocês saberão qual é.

Sabem o que me vem a cabeça agora?
Poesia não é só para fazer pensar. Tem momentos, poesia é só para gente sentir a beleza das palavras.
Como são doces e gostosas umas quadrinhas infantis!

Texto da 4ª capa:

No caldeirão da maior feiticeira da literatura infantil, clássicos da poesia universal, conhecidos ou anônimos, em 62 poemas, quadrinhas, limereques, canções, parlendas, cantigas, acalantos, rimas, odes, poemetos & versinhos ilustrados por 25 artistas para divertir, emocionar e fazer pensar.



abraços aos leitores,
Aline Negosseki Teixeira -- 11h23min



6 comentários:

  1. Olá!

    Cheguei aqui por indicação da Ialy e sou recebida com poesia e literatura infântil, que mágico!

    Perfeito o texto, adorei, lembrei de como me apaixonei por poesia lendo um livro velho e abandonado por meu pai, falava de infancia, amor, vida e morte eu era criança e aquele jogo de palavras contando a vida de forma suave me fascinou!!! Até hoje sou cativa!

    Mas esse destino não busca a todos mesmo, é responsabilidade nossa "apaixonar" as crianças pelas palavras para que não se tornem excomungados, excluidos desse universo magico....

    Ah, engraçada essa necessidade de repetição que as crianças tem, há quem diga que passa, para mim nunca passou... sou do tipo que lê e relêr, vê e revêr até hoje rsrs...

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  2. Aline, vale lembrar também que faz parte desta obra ilustrações da Artista Visual pernambucana Myrna Maracajá.

    Boa dica!

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  3. Ser poeta! Por quê?
    Ser poeta é muitas vezes nadar contra a correnteza da ignorância.
    Ser poeta é ter os ouvidos blindados contra críticas metralhadoras.
    Ser poeta é sonhar sem se lembrar dá dor.

    Quando eu descobri que o que eu fazia era poesia talvez já fosse tarde de mais por que eu já era\ um poeta mirim. E naquela pequena biblioteca, de minha escola primária, descobri João Cabral, Drummond e tantos outros personagens que me encantam até hoje. Mas o que mais me chamou a atenção fora o senhor Roraima Alves de Costa, ler ele me dava vontade de escrever mais. Daqueles idos de 1996 para cá nunca mais abandonei os livros de poesia – principalmente ao entrar na universidade que me ofereceu bibliotecas com toda uma coleção de poetas ilustres a serem devorados. O gosto pela poesia saiu das estantes das bibliotecas para as prateleiras da minha cabeça. Infelizmente fui basicamente a primeira pessoa da minha família a pisar na academia e deverei ser o primeiro bibliotecário com um diploma da cidade – mais nada disso fora empecilho para despertar em mim o gosto por uns versinhos. Essa Sarah é show – filha de escritor(a) com certeza não vai demorar muito a rabiscar seus primeiros versos =] como diria a minha Tia: filho de gato é gatinho =]
    Vou encerrar minha passagem por essa coluna com um poema:

    Ah! Se eu fosse Neftalí Ricardo Reyes

    Poesia é a arte,
    A arte de ser:
    Drummond,
    Baudelaire
    E
    Rembrandt;
    E inda ter tempo
    De ser você amanhã.


    D.EVERSON 26.04.2007

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  4. Pandora,
    fiquei cativa com suas palavras bem assim na chegada. Demorei em poder retoranar aqui, mas como gosto da casa... =)
    Me indentifiquei com sua infância de poesia, já eu no caso, foi a mamãe...

    obrigada, e sempre bem vinda

    Myrna,
    é verdade! Está mesmo no livro, e assim que vi seu nome, antes mesmo de ler a mensagem, liguei um ao outro! =)

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  5. Daniel,
    gostei muito de "vivenciar" sua infância. Diferente e tão igual a minha.
    Não tínhamos condição de comprar livros. Meu pai não tinha interesse. Só comprava livros muito chatos (na minha opinião, ainda mais naquela época). Código Penal, e etcs afins... As blibliotecas das escolas que estudei eram puro abandono, em 1995 encontrei a Cora Coralina perdida na estante chata do escritório abandonado, entre pó e teia. Nasceu um reino diante de meus olhos. O reino de Aninha. Em 1996 a professora criou, atrás da porta da sala de aula uma biblioteca mini, onde os livros ficavam em bolsas de plástico. Foi um sonho pra mim. Levava um livro a cada 2, 3 dias. Lembro-me bem de um. As invenções da Bruxinha Tatá. Voltei ao limbo dos livros. Vez por outra ganhava algum da mamãe e gibis, muitos gibis. 5 e 6 série sem biblioteca, achei às moscas um Reinações de Narizinho. Quase morri do coração. Devorei. Depois, na 7 série não podíamos levar livro pra casa, nem escolher o que íamos ler na aula de leitura. Mas me lembro de ter ganhado um dinheiro para torrar e fui a Siciliano e comprei A Hora do Amor, e a amiga que me acompanhava Encarnação, do Alencar. Lemos e depois trocamos, lemos, e destrocamos. Para preencher um tempo sem leituras, comecei a escrever poesias e poemas. Na 8ª foi um sonho! Levava tudo que podia pra casa. Li naquele ano desenfreadamente, e me recordo com densidade de A Moreninha, Casimiro de Abreu e a coleção do Alvaro Cardoso Gomes, Beto e Lúcia Helena. Demais. Ninguém queria saber do que eu lia. Só se falava em HP e a Pedra Filosofal e aquilo não me chamva a atenção! Me achava uma et. Uma et feliz (!) Foi na oitava tmb que conheci os haicais, num curso ministrado por um benevolente poeta e literato... no perído contrário da aula. Não faltava. E foi na oitava que escrevi meu primeiro conto longo, e meu primeiro romance que abandonei a um terço de completá-lo. Nunca deixei ninguém lê-lo. Voltando aos meus 5 anos... Ele, meu pai, tinha uma máquina Olivetti portátil amarelinha. Aquilo era meu eldorado. Nem imaginava a alegria que seria tocar nela. 1990, 1991.. máquinas de datilografar eram uma maravilha ainda. Só ficava sonhando. Ele sentava lá a frente duma mesa, óculos na ponta do nariz, gravata, e tec tec tec sem parar. Eu tinha de fazer silêncio. Minha mãe queria alguma coisa: "agora não, estou escrevendo o livro!"
    O livro tmb me decepcionou. Eu queria ficção e fantasia. Mas era sobre genética. E quando o tive em minhas mãos, muitos anos depois, não entendi patavina. Não que por causa das conversas sobre os cruzamentos raciais. Mas porque era em inglês. Tudo isso daria um romance. A questão é essa, eu amarrava uma fralda no pescoço para ser minha "gravata" e punha uns óculos rosa chock no nariz e ficava tec tec batendo um pianinho de brinquedo, com uma folha fincada entre as teclas. "Mamãe, tô escrevendo o livro." Ela ria e achava lindo. O resto do mundo não acreditava. Até que um dia eu escrevi de verdade.
    Como a faculdade. Faltando um semestre tive que trancar. Fui, apesar de tudo, a primeira a me formar tmb, deixando ovos chocos e causadores de impecilhos para trás... Os obstáculos não são nada, não são NADA, mesmo quando fugimos para os confins do universo, como disse um amigo, quando nosso chamado é mesmo escrever, somos lá buscados. Até quando parecia que não daria mais para estudar, mais para escrever, fui buscada e colodada de volta no caminho. Sei que tem gente que não acredita, mas não ligo. Eu vi Deus agir na minha vida, momento a momento. Casos formidáveis? Não. Milagres...
    E concordo com vc sobre a singeleza e objetividade. Às vezes é difícil para mim, mas busco aprender =]
    Como com essa sua bela poesia citada.

    Quanto a Sarah, ela já risca. :D
    Hoje mesmo, estava estendendo roupas, ela chegou com o bloquinho e caneta (sou sua escriba) para eu anotar sua nova poesia que falava sobre as traquinagens da Lady, nossa cadela.
    Qualquer hora, se ela deixar, eu mostro o que ela inventa.

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  6. Ficou gigante isso aí.
    Por isso gosto de escrever haicais =]

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