Viajantes Interplanetários

terça-feira, 25 de outubro de 2011

MEXENDO NA SUA RADIOLA

Novas lendas da etnia Toshi Babaa


 Por Leonardo Lichote

Jorge Ben Jor fez O dia em que o sol declarou seu amor pela Terra. O Mundo Livre S/A, em seu oitavo CD, Novas lendas da etnia Toshi Babaa, faz Constelação carinhoca, sensualizando o sol que ilumina e queima a sua musa de Copacabana ("Eu sempre achei nosso astro-rei sacana/ (...) Cantando o seu refrão:/ ′Olha que hoje eu vou inflamar`" ) - para, no fim, mandar um alerta malandro sobre o aquecimento global.
A alma do disco está toda ali: a influência maior Jorge Ben Jor pairando como sempre, a mulher brasileira, os destinos do mundo sob a lógica do capitalismo e os sintetizadores que encharcam o CD de uma euforia vintage dos 1980 - maior novidade na sonoridade da banda, eles atravessam o CD.
Os sintetizadores e as músicas cheias de bons refrãos dão ao disco um caráter pop que remete ao Por pouco (2000), o disco mais popular da banda. Constelação carinhoca - com participação de BNegão - abre o CD e um sorriso no rosto do ouvinte.
Não há nenhum artista no mundo (talvez apenas Ben Jor) que pode ir sem escalas da garota de Ipanema (no caso, de Copacabana) à questão ambiental. "Domingo é dia de aguar calçada/ Pra ela passar displicente e relaxada" - versos que anunciam a musa servindo, mais tarde, como denúncia ao desperdício de água.
A integração entre política e suingue, motor da banda desde seu início, aparece azeitada. O momento menos poderoso do disco é exatamente quando se abandona o balanço revolucionário em favor da palavra revolucionária ("Só o que nunca foi tem razão de ser"), no Soneto do envelhecido sem pretexto. Mesmo assim, a faixa guarda interesse, com os versos declamados sob batida tecnoindígena, com entrada de piano atonal.
Novas lendas... - primeiro CD de inéditas desde 2005 - traz, portanto, outras sonoridades em meio ao clima sinth-1980s e à batida samba-rock no violão de nylon. Como o frevo-canção-eletrônico-fuleiragem O velho James Browse já dizia, com suas metáforas sexuais-tecnológicas ("Interatividade é assim mesmo/ A vida é para compartilhar e gozar/ O velho James Browse já dizia, Net / Não leve a mouse não").
Tudo com malícia de quem sabe requebrar, seja falando de criação na era digital (o bolerão Cabôcocopyleft), crônica comportamental (a deliciosa Ela é indie), religião (Se eu tivesse fé/ Fucking shit), biopirataria (A fumaça do pajé Miti Subitxxiii) e o fim do paraíso burguês (Tua carne black label). Punk.

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