Viajantes Interplanetários

domingo, 11 de março de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade


As razões para um filme tornar-se o seu favorito são obscuras, querendo ou não, simplesmente vemos aquele filme e gostamos tanto que ele acaba sendo o assunto das nossas próximas conversas e pensamentos por meses, anos. O assistimos mais algumas vezes, no cinema ou no DVD (ou no antigo videocassete), paramos quando ocorre a sua exibição na televisão, mesmo que numa versão dublada bem picareta que não faz jus a voz original dos atores. O estado emocional acaba influenciando, devemos estar de alguma forma abertos a proposta daquele trabalho ou pelo menos baixar as nossas defesas quando não estamos tão motivados a prestigiá-lo. É um fenômeno ao mesmo tempo estranho e encantador...
Frear a expectativa também ajuda, quando esperamos muito de um filme, ansiamos por uma obra-prima, geralmente a frustração é o óbvio resultado na maioria das vezes. Por outro lado, alguns títulos cumprem sua função e ainda por cima nos deixam de queixo caído. Se nos falam à razão ou à emoção, vai depender de cada um. Se atravessamos um momento difícil e o filme retrata algo parecido, a catarse vai ser mais fácil, assim como aquele filme pode representar um boa fase sua ou ser praticamente um fac-símile de sua própria vida. O filme pode soar como um sinal de esperança ou servir como o incentivo que faltava para que você tomasse uma importante decisão (acredite, já aconteceu comigo e com muita gente). Saímos exultantes, como se flutuássemos, após o subir dos letreiros finais, ou destruídos, com as nossas verdades no chão. O mundo do lado de fora do cinema de repente ficou muito diferente após a projeção, as pessoas não são mais as mesmas também...


Filmes, a arte em geral, nunca vão mudar o mundo e até o mais ingênuo dos artistas sabe disso. Mas o cinema, assim como as outras manifestações artísticas, pode mudar a vida das pessoas e se uma obra consegue tal feito, grande parte de sua finalidade foi atingida. Se ela pretende grandes plateias ou públicos restritos, a maior intenção é fasciná-las, dá-lhes espetáculo, reflexão, causar um nó em suas cabeças, desafiá-las sempre ou fornecer aquilo que desejam. Pois, querendo ou não, almejamos o entretenimento vendo um filme e por mais que se diga o contrário a intenção primitiva é esta, pois não faria sentido deslocarmo-nos do conforto do lar até o cinema mais próximo e desperdiçarmos duas horas preciosas do nosso tempo para a contemplação de uma obra cinematográfica.
Depois vem o nome de quem está envolvido, se é o seu ator favorito ou aquela atriz que sempre te surpreende, aquele diretor que o deixa perplexo tamanho domínio com que narra uma estória, a adaptação de um livro que o interessou ou aquele profissional que ninguém conhece, mas que você sabe quem é e acompanha fervorosamente como se fosse o mais novo astro de Hollywood. Talvez um assunto que vai ao encontro de suas crenças ou ideologias, preferências e fantasias (afinal, o sexo também é um ótimo chamativo e um elemento que faz a diferença na escolha do filme em cartaz que você vai assistir, dependendo de quem seja a companhia, claro). A companhia também contribuirá neste contexto, principalmente se os interesses de tê-la levado consigo forem os românticos ou meramente casuais.
Não importa, pode ser o pior filme da história (com certeza alguém adora os filmes do Ed Wood ou aquele terror ou ação Z), inevitavelmente ele vai compor parte de sua trajetória afetiva e, para muitos, ser determinante nas escolhas futuras em vida. E repito, não existe um critério específico para aquele filme ser o seu favorito, basta vê-lo e gostar, depois racionaliza-se qual o motivo, razão e circunstância que o fez chegar a esta conclusão.

4 comentários:

  1. Wesley,
    Cada vez mais gosto dos teus ensaios cinéfilos. Neste, especialmente, você faz uma análise bem interessante do porquê assistimos e gostamos de certos filmes ou certas manifestações de arte. Sabe, eu já tinha pensado nisso, mas faltou-me verve para expressar minha opinião como você o fez com maestria. Parabéns, JAIR.

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  2. Caro Wesley,

    essa sinceridade é digna de quem vê o cinema, ou a arte em geral, sem preconceitos. Muita das vezes vemos pessoas que não tem a capacidade de ver beleza num filme infantil bem produzido e escrito, por conta de achar que somente filmes complexos,tais como os de Glauber Rocha, devem ser sua meta!

    Meus parabéns!

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  3. Parabéns pela coluna Wesley!
    A sétima arte sempre é um assunto intrigante. Admirei muito o seu estilo de escrita. Nada mais gostoso e saudável do que assistir a um filme querido tendo ele ganho 7 Oscars ou nem mesmo uma indicação :D

    :*

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  4. Parabéns Wesley, gosto demais dos teus textos.Eles me acrescentam. Parabéns!! Beijos

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