Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mórbidas areias

Recife mórbido
De securas variadas e incuráveis.
De violência triste e insanável.
Ouço o som de tuas areias mórbidas
Cortadas por mórbidas ferramentas metálicas,
Abrindo na terra bocas simétricas
De fome eterna, reinante.

Recife mórbido
De ar quente – sufocante, poluído.
A tingir o cristalino suor do rosto
Com a cor da poeira de tuas mórbidas areias
Lançadas sobre ataúdes
Tornando o ar pueril,
Emitindo intenso som – traumatizante.

Recife mórbido
Tuas mórbidas areias
Delimitadas num Amaro santo.
Esperam para cobrir teu belo povo.
Mais belo pelo que foi e é,
Muito menos pelo semblante,
No momento em que deixam de ser
Trabalhador, vagabundo,
Professor, estudante.

Recife mórbido
Em ti vivemos, intrincados
Entrincheirados, colados, apertados,
Quando, antes, desejamos,
De tuas mórbidas areias,
Estar o mais possível distante.

Ricardo Frederico Banholzer

Março/2012.

4 comentários:

  1. Recife cantada em versos inspirados!
    Protesto também é admiração, é por amor...
    Um abraço

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  2. Manuel Bandeira declinou com respeito a Recife:
    Recife
    Não a Veneza americana
    Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
    Não o Recife dos Mascates
    Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
    - Recife das revoluções libertárias
    Mas o Recife sem história nem literatura
    Recife sem mais nada
    Recife da minha infância....

    E por aí vai.

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