Viajantes Interplanetários

domingo, 1 de abril de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade


Sou a favor da solidão no cinema!
Por mais contraditório que isto seja, já que ir ao cinema é um ato que tem como resultado o encontro com uma desconhecida coletividade. Quero dizer que existem filmes que é melhor se ver sozinho. Nada pior do que assistir a um filme no qual a sua companhia reclame e te encha de perguntas sem sentido para entender as ações da história no meio da projeção ou olhe para você com um olhar fuzilante pelo fato de tê-la feito passar por duas horas assistindo  “aquela porcaria”. Situações que até atrapalham o seu entretenimento já que sua concentração muda do filme para a irritação que sente por quem está ao seu lado  provocando-o com seus comentários impertinentes para o momento mágico que acontece entre você e a obra cinematográfica.
Nesta lista de “obras da discórdia” podem incluir aqueles trabalhos herméticos, cheios de recursos visuais sofisticados, narrativa não linear, situações surreais, tudo que fuja às convencionais histórias das quais todos estão acostumados a ver nos multiplex dos shopping centers. Só vale a pena se o interlocutor de sua futura conversa compartilhar de seu gosto peculiar e está disposto a travar um bate-papo de igual para igual com os mesmos argumentos de “gostei porque...” e “não gostei porque...” que o teu.


Entendo a neura de algumas pessoas que preferem cancelar seu compromisso se não têm ninguém para estar consigo no cinema para dizer as suas impressões sobre o filme que assistiu. É realmente uma delícia falar um para o outro: “Você viu aquela cena em que...?”, “Nossa! E aquela parte em que a personagem...?”, “Reparou na fotografia...?”, entre tantas frases prontas que escapam inevitavelmente de nossa língua ao sair da sala escura. Mas eu nunca abro a mão de ver um filme bom ou no qual eu esteja muito afim de prestigiar se não há ninguém para me acompanhar. Minhas primeiras sessões de cinema foram solitárias, porém não penso que foi de toda negativa esta situação, mesmo porque se o filme for realmente maravilhoso, nenhuma atenção eu vou dar a quem estiver ao meu lado, pelo menos até o subir dos créditos finais.
No entanto, o restante da plateia na sala de cinema parece estar concentrada em qualquer coisa a não ser conversar com o colega ou atender o celular inconvenientemente. Por isso mesmo que muitos preferem o conforto do lar para conceder a si duas horas de cinefilia e se distrair um pouco.
Entra outro complicador: A família (ou seja, privacidade zero). Barulho na cozinha, claridade dos outros cômodos, sua mãe querendo conversar quando aquela revelação importante da trama será feita ou quando o irmão mais novo resolve aparecer bem em meio à uma cena picante. Uma amiga minha uma vez contou que assistiu o Ata-me! do Almodóvar com a irmã caçula e disse o quanto ficou constrangida com as cenas de nudez e sexo ao lado dela. Aconselhei para ela que Almodóvar deve ser visto sozinho em casa, se existe um tabu dentro do lar (sempre haverá um), depois ela confessou que a irmã tinha gostado tanto do filme que queria até ver outro trabalho do diretor espanhol. Num outro momento arrisquei ver Elefante, do Gus Van Sant, sem uma viva alma ao meu redor, o que também não foi uma boa experiência. Não pelo filme, que é ótimo, mas de vivenciar aqueles acontecimentos inspirados em fatos reais dos assassinatos em Columbine, a angústia causada pelo sofrimento das vítimas me deixou mal por muitos dias. Talvez assistir sozinho em casa sem ninguém por perto aumentou esta sensação assustadora.
Os riscos serão sempre os mesmos, você vai ter que contar com a sorte em algumas situações e os fatores externos infelizmente podem influir no fato de você amar ou odiar o filme que tanto queria ver. Mas segue a dica: com ou sem companhia, com ou sem a família a tiracolo, contemplando uma obra interessante ou aborrecida, o cinema precisa sempre ser prestigiado, portanto não deixe de ver um filme por esses motivos. Os outros que se arrependam de não tê-lo visto junto com você.

13 comentários:

  1. Perfeito Wesley, meu cinéfilo amigo

    Um bom filme(o que só pode ser atestado depois de visto)não deve deixar de ser assistido por conta de solidão. Cansei de ir ao cinema só. Lamentei pelos que perderam a oportunidade....

    Muita paz!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Em tempo: Elefante, de Gus Van Sant é um filme ótimo! O final é decepcionente para uns, contudo é preciso entender que aqueles fatos foram também decepcionantes.

      Quem não compreende isso, não conseguiu entender que, no final de Tropa de Elite, o capitão recém-formado dá aquele tiro de misericórdia não somente na cabeça do "baiano", mas também na do expectador, integrante de uma sociedade que nada faz para dar um basta nessa situação!

      Muita paz!

      Excluir
    2. Ótima comparação, Cristiano!

      Os finais de Elefante e Tropa são bem parecidos até mesmo na intenção. Me choquei mais com o de Elefante do que com o do Tropa, mas de ambos você não sai indiferente.

      Um grande abraço!

      Excluir
    3. Certamente, cinéfilo amigo, o final de Elefante é muito mais chocante! Concordo contigo!

      Excluir
  2. Prefiro a companhia da minha esposa, mas também não deixo de assistir um filme sozinho, caso seja necessário.

    E sem dúvida alguma o ambiente (e mesmo suas condições físicas no dia) tem influência direta sobre a impressão da obra.


    Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente, Fabio.
      De muitos filmes que assisti acabei saindo frustrado devido ao sono, o cansaço do trabalho ou até mesmo a companhia que não parava de reclamar ao meu lado. Mas todo filme aguarda uma revisão, quando temos tempo de fazê-la, claro. Rsrsrs

      Um grande abraço!

      Excluir
  3. Hoje tá todo mundo me surpreendendo no blog! Tá valendo sugestões para o Cinemarte? Não sou muito de filmes, mas acho que existe uma produção legal relacionada à literatura. Acho que você faria um bom texto com essa relação. Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fique a vontade de sugerir o que desejar, Fred!

      Cinema e literatura com certeza é um ótimo tema para um próximo post. Valeu pela dica!

      Um grande abraço!

      Excluir
    2. Vou me meter no assunto que o Caju propôs!

      Memórias Póstumas seria uma boa pedida!Gostaria de ouvir sua opinião sobre ele...

      Excluir
    3. nem posso falar, sou fã de Machado e o Reginaldo foi um Brás perfeito =]]]]]

      Excluir
  4. Sempre fiquei desnorteado
    em Marte
    suas duas luas
    me deixam num empasse
    mexem com meu útero
    mas é somente
    uma questão de tempo
    sei que vou me acostumar
    a estes passeios
    em Marte.

    Luiz Alfredo - poeta

    ResponderExcluir
  5. Sempre gostei de ir ao cimena sozinha. Até porque geralmente os filmes que gosto de assistir nem sempre agradam à todos.Mas claro, assisto muitos filmes também acompanhada.Meu marido adora cinema. Havia aqui um cinema (Cine arte pálace) que eu sempre frequentava. Era silencioso sempre.Pouquíssimas pessoas. Era bom demais.O problema é que, de tão vazio que ficava (porque só passava filmes de arte) acabou não vingando. Foi vendido e hoje está sempre cheio.Mas eu nunca mais voltei lá...pena... Abraços.

    ResponderExcluir
  6. Fui ao cinema várias vezes só, até um quiba de "namoradas" que aranjei por desventura no andar da carroça da vida ñ colavam muito com cine, e quando sim eu era obrigado a ver uma sessão detiosa de mais do mesmo. A solidão da sala de cinema não faz meu tipo, sou um diabo de um romantico. Agora que estou com uma mulher incrivelmente cinéfola acho que as sessões de cinema ficarão mais mais!

    ResponderExcluir