Viajantes Interplanetários

sábado, 28 de abril de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade

Shame e o tabu do sexo no cinema


Quantas vezes fomos pegos por alguém da família assistindo aquele filme de forte apelo erótico em casa, tomados da atração pelo proibido e pelo medo de alguém chegar naquele momento inapropriado, onde as personagens estão tirando a roupa, aos beijos ou fazendo “aquilo”. O sexo ainda é um tabu, ainda pensamos como pessoas dos anos 20, cheias de pudores, mesmo a indústria pornográfica tendo banalizado o ato sexual com seus vídeos feitos em escala industrial e mais preocupados com o explícito do que com o erotismo e o envolvimento do espectador. Todo ano estreia no circuito comercial algum filme que remexe com a libido adormecida e com os princípios morais do cinéfilo.


Lembro-me do furor, exagerado, causado pelo último filme de Stanley Kubrick em 1999. De Olhos Bem Fechados, quando aportou aqui nas terras brasileiras, somente gerou incompreensão da plateia tupiniquim da repercussão americana diante de cenas tão mornas entre o casal Tom Cruise e Nicole Kidman, apesar do filme ser maravilhoso. Incrível como a culpa, talvez pela enorme influência de uma educação cristã que persegue culturalmente os americanos e britânicos, por exemplo, não que nós brasileiros também não estejamos livres dela também, permeia o imaginário coletivo quando o assunto é sexo. Exemplo disto é o ótimo Shame que estreou há algumas semanas atrás. O título em inglês, que significa "vergonha", já denota este sentimento torturante.


Brandon (numa grande e corajosa atuação de Michael Fassbender) é o executivo que ocupa seu tempo livre com masturbações, conversas e exibições on line na Internet, contrata prostitutas além das eventuais conquistas femininas que faz no seu dia-a-dia. A chegada de sua problemática irmã Sissy (Carey Mulligan) que pede para passar um tempo em seu apartamento desestabiliza sua rotina sexual, fazendo-o procurar por outras opções na rua e perceber que tem algo errado consigo. A iniciativa de Steven McQueen, diretor do filme, em abordar o tema do vício em sexo, é interessante, mas não deixa de ter um viés conservador em algumas sequências. Tudo ganha um aspecto doentio, sujo, depravado. Entender que esta procura incessante por prazer sexual pode tornar-se uma doença que o escravizará, assim como acontece com Brandon, é um caminho importante para ser discutido, no entanto muitos homens não se enxergam como viciados, mesmo porque a cultura machista faz reforçar que com quanto mais mulheres eles transarem melhor para eles e sua imagem na sociedade de garanhão ou conquistador.
A estória chega ao óbvio momento (porém sempre uma verdade) em que a personagem se defronta com o fato de que os relacionamentos humanos vão muito além dos encontros casuais e com a sua incapacidade de manter uma relação fixa com uma mulher ou até uma proximidade com sua irmã.

 
A impressão geral é de que se o filme fosse feito e se passasse aqui no Brasil, Shame seria uma comédia bem despretensiosa dos tempos das divertidas e lúbricas pornochanchadas produzidas nos anos 70 e 80. Michael Fassbender seria substituído pelo Nuno Leal Maia ou o David Cardoso bem desavergonhados. Neste caso, somos mais bem resolvidos sexualmente que os habitantes do hemisfério do norte.


Confesso que quando vejo um filme antigo que tenha grande apelo sensual fico pensando na repercussão que tais sequências tiveram em suas respectivas épocas, o que não dizer da famosa sequência da manteiga de O Último Tango em Paris? Como a plateia teria reagido? Até mesmo Bergman, com o seu clássico Persona tem em seu ápice diálogos que narram relações sexuais que devem ter gerado alguma controvérsia nos anos 60. Ou será que eu sou conservador demais?


O que importa nesta discussão toda é que o sexo seja bem filmado pelos diretores e suas cenas tenham um significado maior na trama do que apenas a gratuidade e apelação (o que não é o caso de Shame). O erotismo sempre acompanhou a história da sétima arte (de Hedy Lamarr à Sharon Stone, de Rodolfo Valentino à Brad Pitt, fora outros grandes sex symbols que se consagraram no correr das décadas) e vai ainda dar muito o que falar ou gerar muita fantasia na cabeça dos cinéfilos do mundo inteiro.

2 comentários:

  1. Cinéfilo amigo, boa tarde!

    Dizer que a vida imita a arte não seria de bom alvitre e denotaria grande criatividade, contudo, não pude deixar de me lembrar de David Carradine que morreu ao se masturbar com uma corda em seu pescoço a algum tempo atrás!

    A última foto de seu post deriva de uma cena que marcou para sempre a carreira de Maria Schneider. Ao citar seu nome em qualquer conversa sobre cinema, tem sempre um gaiato que diz:Ah, sim! A amanteigada!

    Como fui adolescente na década de oitenta, não posso deixar de lembrar do filme de Nuno Leal Maia e que ele fazia o Homem de Itu. Ria demais!

    Bom post, meu caro!

    Muita paz!

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  2. Ótimo post Wesley! Realmente sexo é foda! :)

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