O ALMOÇO JÁ ESTÁ NA MESA
“Eu canto
porque o instante existe/ e a minha vida está completa./
Não sou
alegre nem sou triste:/ sou poeta.”
(Cecília
Meireles)
Outrora disse por
aqui que não cabe ao poeta finalizar um poema, que este é sempre matéria
lacunar e incompleto pela sua própria natureza. Uma síntese ou um fragmento de
um incômodo que não pode mais ser de morada exclusiva de quem escreve. Tudo
bem, tranquilo, concordo. Já foi dito.
Poema feito não tem
destino. Mas me incomoda um pouco os rumos possíveis que alguns tentam levar o
poema (estou tratando-o como acabado e já desgarrado do autor). Às vezes fico
com a impressão que nem o próprio poeta se contenta em sua criação existir
apenas como ela é.
Um poema musicado
parece ser a honraria máxima que alguns poetas desejam para a sua obra. Como se
ela ganhasse mais valor ao receber uns acordes. Não tenho nada contra. Poetas
consagrados como Vinícius de Morais fizeram uma ponte direta entre a música e o
poema, assim como músicos como Itamar Assumpção fizeram o versa da situação.
Não quero nem entrar na falida discursão da poeticidade da música. Apenas fico
feliz com o meu poema no papel: estático e pronto para ser lido.
Recitar é outra
arte à parte. E creio não ser de obrigação do poeta. Se ele o faz bem, ótimo;
caso contrário, não deve ser condenado. Para mim a atividade primeira do poeta
é escrever. Pode maluco me dizer — e até gritar — que a poesia é feita para ser
recitada (e com emoção), pois assim ela nasceu. Foda-se. A escrita, a leitura e
o silêncio formam um belo triângulo amoroso.
Adaptações teatrais
e ilustrações também fazem parte do bolo. Também não as condeno. Tenho certeza
que os “upgrades” nos poemas levam a poesia onde ela é incapaz de chegar, como
arte menor que ela sempre será.
Jamais levantarei
bandeira contra a fusão e o diálogo de diferentes expressões artísticas. Sei que é importante uma dieta rica em
variedades. Mas hoje eu quero almoçar apenas poemas, sem acompanhamento nem
sobremesa.
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Fred Caju
responde pelas suas próprias opiniões, que não estão necessariamente em
unanimidade com a equipe do blog, que preza pela livre iniciativa de seus
colaboradores.
Caro poeta Caju,
ResponderExcluirVocê já disse o que quer...
E eu nem sei o que estou fazendo aqui.
Bom apetite!!!
pense numa coluna arretada, nem digo mais nada por que já mandei meu recado por email
ResponderExcluirCajuíno amigo,
ResponderExcluircertas vezes um poema mal traduzido, um filme mal adaptado, poesia musicada de forma indevida ocorre.Sim!Contudo algumas vezes me pego sendo um turrão que gosta tanto de uma obra(escrita) que não admite que ela tome outro formato!
Talvez eu tenha sido um dos poucos, na época de colégio, que gostou de ler Policarmo Quaresma. Por isso, demorei muito a assitir a adptação para película.E acabei não gostando!
E não é algo particular.Li primeiro a tradução de O corvo, de Poe, por Pessoa e não me agradou muito a que foi feita por Machado de Assis. Deve algo relacionado à empatia!
Quanto ao seu comentário sobre saber recitar, poxa! Eu adoraria ser como Lirinha, por exemplo...
Muita paz, caro amigo!
Até comentei com Daniel por e-mail que vou dedicar o É NODA! — #05 para a recitação. Como procuro manter um tamanho padrão na coluna, não tive como me alongar. Abraços.
Excluir"Pode maluco me dizer — e até gritar — que a poesia é feita para ser recitada (e com emoção), pois assim ela nasceu. Foda-se. A escrita, a leitura e o silêncio formam um belo triângulo amoroso."
ResponderExcluirEsse é o Fred Caju que eu conheço!
Do caralho!