Viajantes Interplanetários

domingo, 15 de julho de 2012

NÃO DÁ PARA LER TUDO*


  POR: Braulio Tavares
O aumento exponencial de textos eletrônicos disponíveis e gratuitos causa uma euforia sem limites e um pessimismo sem volta. Centenas de milhares de livros, milhares de filmes, milhões de músicas!  Tudo ao alcance de um clique, de graça!  O único senão é o fato de que o dia continua tendo apenas 24 horas.  Nosso tempo de leitura é o mesmo de que dispunham os leitores do século 18, ou mesmo os leitores da Grécia Antiga (e mesmo eles certamente se queixavam de que “não dava pra ler tudo”).  Esse “não dá pra ler” é relativo, e não faz muita diferença. Digamos que eu conseguisse ler um livro por dia; seriam 30 livros por mês.  Se meu limite é esse, não faz muita diferença se estou deixando de ler 100 livros ou um milhão.  Leio trinta, e acabou-se.
A questão é: Que trinta?  Porque era mais fácil escolher trinta entre 100 do que trinta entre um milhão. Não teríamos desculpa para estar lendo algo a contragosto, porque teríamos acesso, se não a tudo, pelo menos a uma quantidade inesgotável de obras que de fato queremos ler.  Tem muitos leitores de bibliotecazinhas humildes do interior, mundo afora, que ficam relendo seus autores preferidos, ou avançando aos bocejos por entre obras que não lhes interessam, apenas porque não aparecem livros novos.
E como ter acesso a informações novas, a autores que ainda não conhecemos? Cory Doctorow (do saite BoingBoing) diz: “Twitter e blogs são a única maneira de administrar a enorme quantidade de material disponível. Sem isto, ninguém sairia de sua órbita de contatos sociais, ninguém trocaria idéias com os milhões de pessoas que conhecem outros milhões, os polinizadores que pegam uma informaçãozinha aqui e levam para acolá. Sem eles, a conversa morreria. Essas pessoas garantem que o que é realmente bom acabará chegando ao topo da pilha e ficando acessível”.
O dia continua tendo apenas 24 horas, mas por isso mesmo é preciso preenchê-las bem. O leitor não deve imaginar que os milhões de livros possíveis de ler já lhe pertencem, ou estão de alguma maneira a cobrar-lhe um posicionamento. O leitor deve se perguntar: Entre trabalho e outras atividades, hoje em terei meia hora para ler.  Ou duas horas, ou cinco, etc.  Vou preencher esse tempo com que?  Você não precisa ter um iPod com mil romances, basta ter um livro por perto, um livro que lhe interesse. (Tanto pode ser digital quanto de papel.) Se você pensar nos mil livros extraordinários que gostaria de ler, não vai sair do canto. Basta ter sempre coisas boas por perto, e todo dia pensar: vou ler o que?  O fato de haver 100 vezes mais títulos disponíveis não me obriga a ler 100 vezes mais, apenas me ajuda a escolher melhor.
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*Originalmente postado no blog Mundo Fantasmo: http://mundofantasmo.blogspot.com.br/2012/07/2922-nao-da-pra-ler-tudo-1372012.html

13 comentários:

  1. Muito legal, é a cara de Ialy Cintra, Edgreyce e todas as pessoas que adoram um livro virtual hahahahahaaa

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk'
      Não sei porque lembrou de mim!
      Ao ver o título pensei que ficaria apavorada ao término do texto, mas foi reconfortante :D
      Ótima escolha, prometo me disciplinar *hohohoho*

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    2. sei! viu o quanto Jair lê tb? essa turma é um orgulho

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Vamos lá: é melhor ter uma cabeça feita do que uma cabeça cheia (parafraseando Morin que já parafraseia Montaigne!). Ou seja: melhor 1 do que nada.

    Abraço do Pedra

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    1. Morin é demais para mim. Os setes saberes se multiplicavam exponencialmente nas discussões,da época de universidade!
      (rsrsrs)

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  4. Excelente, mais títulos disponíveis significa mais opções, e melhor, na medida que lemos mais nosso gosto se "apura" de forma que podemos separar melhor o que ler e o não. Como sou leitos compulsório e nunca parei de ler tenho cinco ou seis bons livros "de reserva" sempre, e ainda não me falta boa leitura na web. Minha cadência de leitura é pouco mais de um livro por semana, de modo que nos últimos quinze ou vinte anos anos, tenho lido em torno de sessenta a setenta livros por ano, está de bom tamanho com tudo que tem disponível por aí. Plagiando Jorge Amado: "Não podemos ler todos os livros do mundo, mas devemos tentar"

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    1. Enciclopédico amigo,

      acho interessantíssimo e admirável o fato de conseguir ler muitos livros a cada mês, entretanto devo ressaltar que o mesmo não se pode dar quando se trata de poesia ou até mesmo de certos autores!

      Ler, por exemplo, a Terceira margem do rio, em curto tempo não quer dizer que podemos aproveitar todo o sumo da mensagem passada por G. Rosa.

      Isso ocorre, analogamente, no cinema, de fato! Você como bom cinéfilo sabe, que muita das vezes temos que assistir repetidas vezes algumas películas para absorvermos uma parte considerável de seu conteúdo.

      Digo isso, em certo ponto, corroborando com a opinião que pertence a ti e à Jorge Amado.

      Você já se imaginou assistindo uma única vez, por exemplo, o filme A fita Branca, ou quem sabe vê-lo como quem assiste um filme de ação? Não há como, sei que você concodará.

      Existe uma crescente produção de informação, como bem disse o Everson, mas não sei se conseguirei acompanh-a-la devidamente, ainda que eu leia com tanta eficiência como o amigo o faz!

      Estou com o Cemitério de Praga há semanas(senão meses) e não consigo digerí-lo!

      Muita paz!

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  5. Existe um livro, que pode-se dizer que é leitura básica (para não dizer obrigatoria) para alunos de Bbilioteconomia.Chama MISSÃO DO BOBLIOTECÁRIO, nele o autor Ortega y Gasset, trata de assuntos como a crescente produção de informação, sobre tudo de livros. No entanto ele aborda esse assuntos antes desse bum informacional todo da web 2.0. Em suma o livro toca muito no ponto que friza que quantidade não é qualidade. Já parou p pensar que o que ficou difícil na verdade foi pescar nesse mar de edições uma que realmente valha a pena se debruçar para ler. É muita lenha e pouca fumassa. Continuo amante dos clássicos e dificilmente leio algo que fora indicado por alguém, ou, algum clássico consgrado. Mas cada um sabe onde meter seu bedelho, fica a dica da leitura de do livro do Ortega.

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    1. Everson,
      Não li o livro do Ortega y Gasset, mas admito que dicas de leitura são interessantes como orientação nesse mar de publicações eletrônica e em papel. Aliás, até o momento só li um livro eletrônico, todos os demais que leio são de papel, me parece mais consistente a leitura tradicional, ela atinge lugares e horas nos quais não temos acesso à mídia eletrônica. Abraços, JAIR.

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    2. Tb não sou muito fã desse papel cibernético, uso ele apenas para escrever e quando o material que necessito (periódicos acadêmicos na maioria das vezes) é originário desse suporte informacional.

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