Viajantes Interplanetários

domingo, 26 de agosto de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade


De repente o casal se reencontra no meio da multidão. Sem dizer uma só palavra, aproximam-se e se beijam. Na tela, a palavra “FIM”. Nós sabemos que a vida não termina ali, com um beijo e o subir dos créditos. Pelo menos a nossa. Mas a magia do cinema está também em poder paralisar a vida das personagens nestes momentos cruciais. Não importa o que virá ou acontecerá depois daquela cena, no entanto aquele momento definirá para sempre as suas existências para o bem ou para o mal. Acontece conosco e a arte imita a vida e vice-versa, não é mesmo?
Não faço aqui uma apologia ao final feliz. A felicidade é bem vinda se ela for coerente com o restante anterior do que aconteceu no filme, assim como a tragédia também não precisa ser abolida se ela for a que melhor se encaixa com tudo que se narrou até ali. Porém uma das grandes habilidades de um roteirista é saber amarrar as pontas de suas estórias e dar o destino exato, inevitável, para todas aquelas personagens, de um modo que não se questionaria ou se cogitaria outro caminho para elas.


Até mesmo nas estórias que envolvam diversas personagens, igualmente distribuídas e com similar destaque durante o desenvolver do filme, tudo deve estar perfeitamente coordenado para que cada vida ali representada não seja esquecida, desapareça misteriosamente, sem prestar contas ao espectador.  Não podemos esquecer que por menor que seja a participação de uma personagem, esta deve ter relevância para a estória, uma função que gere interesse e que não sirva apenas como uma muleta para determinada situação.


Como se esquecer dos diversos tipos que passeiam no poético Amarcord de Federico Fellini, das tramas que se entrecruzam nos roteiros escritos por Guillermo Arriaga e dirigidos por Alejandro González Iñarritu (Amores Brutos, 21 Gramas e Babel), de cada excêntrico convidado misteriosamente preso na sala de estar do clássico de Luis Buñuel, O Anjo Exterminador? Das obras de Robert Altman (Nashville, Short Cuts e O Jogador) e dos sofrimentos vividos por Tom Cruise, Julianne Moore e companhia no Magnólia de Paul Thomas Anderson (um dos meus favoritos). Recentemente o filme 360, dirigido por Fernando Meirelles e com roteiro de Peter Morgan, também traz estórias paralelas que se cruzam. Todas perfeitamente conduzidas até o momento final (muito poético e inspirador, por sinal). Óbvio que em todos estes exemplos, algumas personagens destacam-se mais do que as outras ou ganham a nossa simpatia. O importante nestes filmes é que cada uma tem ali uma razão de ser.
 
 
Acredito que eu seja um conservador (e podem reclamar se quiserem). Entendo e adoro finais abertos (daqueles que deixam uma interrogação na ponta da língua e um nó na cabeça, o cinema de arte é pródigo deles e isto pode ser um tema para um próximo post), claro que, para não contradizer os escritos acima, devem ter coerência com o resto da estória retratada em película. Pois fica gritante a falta de imaginação ou a preguiça do roteirista em deixar um final alternativo ao invés de terminar de forma digna o filme que escreveu (até mesmo pelo medo de ser clichê) e é por isso que muitos espectadores reclamam (neste caso, com razão) que o fim daquele filme foi insatisfatório.
Ainda assim, dá-me igual satisfação ver um trabalho cinematográfico “redondo”, com um final plausível, crível e que dialogue com toda a temática abordada em sua uma hora e meia, duas, três horas de duração. Se o protagonista vai sofrer ou vai se dar bem, será punido ou agraciado com o que tanto almejou ou perseguiu, se sobreviverá ou será mais uma vítima, se sairá da enrascada em que se meteu ou entrará numa confusão maior, se um beijo ou a morte marcará seu nome na memória do espectador, não importa. Encerrando-se da forma mais correta ou perfeita possível, está ótimo (e valerá nosso ingresso, nosso aluguel, nosso download e o nosso tempo).

6 comentários:

  1. Belo post, cinéfilo amigo! Só complementando seu texto, o Iñarritu também deixa um final em aberto muito interessante em Biutiful!

    Muita paz!

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    1. Vi um filme mexicano que me agradou bastante chamado "Somos o que somos". Eu recomendo!

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    2. Grande Cristiano!

      Gostei de Biutiful, apesar de eu tê-lo achado um muito longo. Seu final é aberto em alguns aspectos (no significado de algumas sequências), mas o Iñarritu conseguiu amarrar as pontas das tramas muito bem.

      Obrigado e um grande abraço!!!

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  2. Wesley,
    Eu como cinéfilo medíocre e um tanto bisonho, jugava que os finais "fechados" que definiam bem o que cada personagem merecia por sua atuação na estória, eram os melhores. Contudo, ao longo de meu aprendizado da sétima arte, acabei gostando mais de finais "abertos", eles nos dão maior possibilidade de completar a obra ao nosso talante. Eles nos proporcionam colocar cada personagem naquele nicho que ele "merece", ou que julgamos que merece segundo nosso humor. Parabéns pelo belo texto, JAIR.

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    1. Isso aí, Jair!

      Os finais abertos têm um gostinho muito próprio e é realmente uma delícia tentar desvendá-los. Quem sabe se tornarão um tema para um próximo post?

      Obrigado e um grande abraço!!!

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