De repente o casal se reencontra no meio da
multidão. Sem dizer uma só palavra, aproximam-se e se beijam. Na tela, a
palavra “FIM”. Nós sabemos que a vida não termina ali, com um beijo e o subir dos
créditos. Pelo menos a nossa. Mas a magia do cinema está também em poder
paralisar a vida das personagens nestes momentos cruciais. Não importa o que
virá ou acontecerá depois daquela cena, no entanto aquele momento definirá para
sempre as suas existências para o bem ou para o mal. Acontece conosco e a arte
imita a vida e vice-versa, não é mesmo?
Não faço aqui uma apologia ao final feliz. A
felicidade é bem vinda se ela for coerente com o restante anterior do que
aconteceu no filme, assim como a tragédia também não precisa ser abolida se ela
for a que melhor se encaixa com tudo que se narrou até ali. Porém uma das
grandes habilidades de um roteirista é saber amarrar as pontas de suas estórias
e dar o destino exato, inevitável, para todas aquelas personagens, de um modo
que não se questionaria ou se cogitaria outro caminho para elas.
Até mesmo nas estórias que envolvam diversas
personagens, igualmente distribuídas e com similar destaque durante o
desenvolver do filme, tudo deve estar perfeitamente coordenado para que cada vida
ali representada não seja esquecida, desapareça misteriosamente, sem prestar
contas ao espectador. Não podemos
esquecer que por menor que seja a participação de uma personagem, esta deve ter
relevância para a estória, uma função que gere interesse e que não sirva apenas como uma
muleta para determinada situação.
Como se esquecer dos diversos tipos que
passeiam no poético Amarcord de
Federico Fellini, das tramas que se entrecruzam nos roteiros escritos por
Guillermo Arriaga e dirigidos por Alejandro González Iñarritu (Amores Brutos, 21 Gramas e Babel), de cada
excêntrico convidado misteriosamente preso na sala de estar do clássico de Luis
Buñuel, O Anjo Exterminador? Das
obras de Robert Altman (Nashville, Short Cuts e O Jogador) e dos sofrimentos vividos por Tom Cruise, Julianne Moore
e companhia no Magnólia de Paul
Thomas Anderson (um dos meus favoritos). Recentemente o filme 360, dirigido por Fernando Meirelles e
com roteiro de Peter Morgan, também traz estórias paralelas que se cruzam.
Todas perfeitamente conduzidas até o momento final (muito poético e inspirador, por sinal). Óbvio que em todos estes
exemplos, algumas personagens destacam-se mais do que as outras ou ganham a
nossa simpatia. O importante nestes filmes é que cada uma tem ali uma razão de
ser.
Acredito que eu seja um conservador (e podem
reclamar se quiserem). Entendo e adoro finais abertos (daqueles que deixam uma
interrogação na ponta da língua e um nó na cabeça, o cinema de arte é pródigo
deles e isto pode ser um tema para um próximo post), claro que, para não contradizer os escritos acima, devem ter
coerência com o resto da estória retratada em película. Pois fica gritante a
falta de imaginação ou a preguiça do roteirista em deixar um final alternativo
ao invés de terminar de forma digna o filme que escreveu (até mesmo pelo medo
de ser clichê) e é por isso que muitos espectadores reclamam (neste caso, com
razão) que o fim daquele filme foi insatisfatório.
Ainda assim, dá-me igual satisfação ver um trabalho
cinematográfico “redondo”, com um final plausível, crível e que dialogue com toda
a temática abordada em sua uma hora e meia, duas, três horas de duração. Se o
protagonista vai sofrer ou vai se dar bem, será punido ou agraciado com o que
tanto almejou ou perseguiu, se sobreviverá ou será mais uma vítima, se sairá da
enrascada em que se meteu ou entrará numa confusão maior, se um beijo ou a
morte marcará seu nome na memória do espectador, não importa. Encerrando-se
da forma mais correta ou perfeita possível, está ótimo (e valerá nosso
ingresso, nosso aluguel, nosso download e o nosso tempo).
Belo post, cinéfilo amigo! Só complementando seu texto, o Iñarritu também deixa um final em aberto muito interessante em Biutiful!
ResponderExcluirMuita paz!
Vi um filme mexicano que me agradou bastante chamado "Somos o que somos". Eu recomendo!
ExcluirGrande Cristiano!
ExcluirGostei de Biutiful, apesar de eu tê-lo achado um muito longo. Seu final é aberto em alguns aspectos (no significado de algumas sequências), mas o Iñarritu conseguiu amarrar as pontas das tramas muito bem.
Obrigado e um grande abraço!!!
Wesley,
ResponderExcluirEu como cinéfilo medíocre e um tanto bisonho, jugava que os finais "fechados" que definiam bem o que cada personagem merecia por sua atuação na estória, eram os melhores. Contudo, ao longo de meu aprendizado da sétima arte, acabei gostando mais de finais "abertos", eles nos dão maior possibilidade de completar a obra ao nosso talante. Eles nos proporcionam colocar cada personagem naquele nicho que ele "merece", ou que julgamos que merece segundo nosso humor. Parabéns pelo belo texto, JAIR.
Isso aí, Jair!
ExcluirOs finais abertos têm um gostinho muito próprio e é realmente uma delícia tentar desvendá-los. Quem sabe se tornarão um tema para um próximo post?
Obrigado e um grande abraço!!!
Ótima proposta!!!
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