Viajantes Interplanetários

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade




Carnaval, para alegria de uns e desespero de outros. Cinéfilos muitas vezes trocam os bailes, os desfiles de escola de samba, os blocos pelos filmes que tanto amam. Hora de correr aos cinemas, aproveitar a cidade um pouco mais vazia para assistir aos filmes indicados ao Oscar, rever os clássicos no DVD ou tentar não perder aquele trabalho que só está em cartaz em pouquíssimas salas. O carnaval serve para pôr seu cinema em dia e assim não ficar por fora das últimas notícias da sétima arte. Ao invés de assistir, sem grandes empolgações o desfilar da Vai Vai, da Mangueira, do Salgueiro, que tal reservar-se ao luxo de ver um clássico de 3 horas e meia? Ao invés de Portela, Lawrence da Arábia. Ao invés de rainhas da bateria, divas do cinema, Grace Kelly, Audrey Hepburn, Sophia Loren, Brigitte Bardot, Marylin, Nicole Kidman, Penelope Cruz (Carmen Miranda, por que não?). No lugar dos bambas dos sambas enredos, da tradicional velha guarda, os mestres da direção, Fellini, Bergman, Coppola, Scorsese, Kurosawa, Ozu, Von Trier. Para substituir os carros alegóricos, monstros da interpretação como Brando, De Niro, Mastroianni, Newman, March, Jannings.
Nada contra todo o espetáculo que compõe o Carnaval, seus ritos, seus delírios, o luxo das escolas de samba, a entrega dionisíaca dos que resolvem curtir este período festeiro do ano. Se no Natal e Réveillon exteriorizamos nossos sentimentos mais puros, solidários, fraternais e esperançosos, no Carnaval deixamos aflorar o outro lado nosso, tudo que está reprimido, extravasamos completamente. Talvez o cinéfilo (não todos, claro) não seja dado a estes arroubos, mesmo que se permita a um filme de teor erótico, ou até mesmo pornográfico, sua maior transgressão diante de tanta retidão e dedicação. O abdicar de suas horas pela paixão de ver filmes.
O cinéfilo é também um tanto carnavalesco em suas preferências, pula em diversos filmes, desfila pelas cores da fotografia, expõe-se, como os corpos seminus, pela cidade, canta em mente a trilha sonora, decora falas como se fossem sambas enredo, apaixona-se pela passista que pode ser a atriz principal de algum drama ou comédia (mesmo alguém improvável como uma Liv Ullmann), impressiona-se com o malandro ou a beleza e o talento de um galã de qualquer época. Cada experiência tem seu sabor ou dissabor. O folião pode ter a ressaca, o cinéfilo o sono e as olheiras depois de ter atravessado madrugada adentro a contemplar um filme. Cada um pula o carnaval ao seu modo...


9 comentários:

  1. Gostei, apesar de ser um folião quase aposentado em atividade kkkkkkk

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    1. É que eu sempre passei um pouco a margem das folias de Carnaval. Mas que bom que o aproveitou sempre muito bem, . Everson!

      Abraço!!!

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  2. Para conciliar, que tal assistir "Orfeu do Carnaval"?

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  3. Vou puxar pra outro lado, afinal não sou muito do cinema... Há alguns meses vi uma entrevista do Claudio Assis ao Rogério Skylab. Mais trágico que cômico. Mas tem algo de alarmante nas palavras do diretor: o eixo rio-são paulo. A dicção sudestina costuma reivindicar-se centro em muitas entrelinhas do discurso. Acontece quase naturalmente e se a gente não tomar cuidado acaba reproduzindo uma ordem estabelecida, que ao meu ver deteriora a maioria em favor de uma minoria. Podem puxar para qualquer viés: político, cultural, econômico e comportamental. Achei teu texto muito bom Wesley, de verdade. E tenho certeza que você o escreveu com sinceridade e baseado na sua vivência. Mas me pareceu que o carnaval só existe no eixo citado. Como disse, vejo a sua realidade nele, mas se não se delimitar onde esta realidade existe acabamos reproduzindo imposições. Não é besteira de mais um pernambucano ressentido pelo eixo. É apenas um apontamento de alguém que acredita na força das palavras e que não tem nenhum interesse em manter um status quo castrador autoritário.

    Um abraço,
    Caju.


    PS: Sei que minhas colaborações estão reduzidas, mas acredito que anda faltando espaço de discussão no blog.

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    1. verdade Caju, precisamos de uma coluna que tenha um título meio: provocações vermelhas de marte hehehehehe

      e o pouco que se aproveita da entre vista do Claudio é mesmo a crítica a essa centralização de fundos... Tipo até hoje não me conformo com a grana que deram a maria bethania p ela brincar de colocar videozinhos num blog que nunca vi.... ela bem que poderia bancar essa porra do bolso por que os artistas pobres são todos conhecidos meus ou severinos desssa nau desconhecida.

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    2. Caju, muito pertinente o seu comentário. Como você próprio percebeu, coloquei no texto uma experiência pessoal, já que eu não tinha outras alternativas do que assistir os desfiles na TV do que pular o Carnaval por aí, então preferia ver filmes ou fazer outras coisas. Claro que muitos centralizam Rio-São Paulo esquecendo que se faz cultura riquíssima em outras regiões, as mídias só divulgam o que repercute no Sudeste (a falta desta autorreferência neste texto foi pela procura de um tom menos confessional, o que pode ter gerado esta impressão que você teve também). Mesmo assim obrigado pelas observações.
      Abraço!

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    3. relaxe mano aqui a democracia reina, e essa é a parte mais interessante desse blog que hoje conta com a colaboração de amigos de todo o Brasil =]

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