Por: Braulio Tavares
A
facilidade de plagiar um poema, maior do que plagiar um filme (que custa uma
fortuna) ou um romance (que dá um trabalhão) faz do plágio poético um crime
difícil de registrar. Plagiar poemas é fácil, ainda mais agora. Eu posso ler na
Internet, numa revista croata, a tradução em inglês de um poema feito por um autor
italiano que mora na Holanda (a poesia é mais internacional do que a World Wide
Web). Não me custa nada – se eu for um larápio, um calhordinha – copiar esse
texto inglês, dar-lhe novo título, traduzi-lo (substituindo por outra coisa as
partes que eu não entender), e – voilà! Um poema em português, inédito. Nem no
Google você rastreia.
Talvez
seja essa facilidade, que já existia na era pré-Internet, que inspirou Roberto
Bolaño a criar um dos personagem mais divertidos de seu livro A Literatura
Nazista nas Américas (1996). O livro é um conjunto de biografias de 30
literatos, simpatizantes do fascismo, do nazismo, de ideologias de extrema
direita. Todos são imaginários, mas é difícil ler essas sinopses (cada uma vai
de duas a dez páginas) sem pensar: “Conheci um Fulano que era exatamente
assim”.
A certa
altura Bolaño nos apresenta o haitiano Max Mirebalais, plagiador compulsivo. De
origem humilde, ele começou a trabalhar num jornal local e, como assistente de
colunista social, teve acesso um dia às festas nas mansões dos ricos. Diz
Bolaño: “Assim que ele descobriu aquele mundo, quis pertencer a ele”. Decidiu
fazê-lo através do ‘status’ de poeta, e começou plagiando Aimé Césaire. Ninguém
percebeu, e ele passou a plagiar (e publicar) poemas de René Depestre. Todo
mundo adorou, e ele atacou a obra de Anthony Phelps, Jean Dieudonné Garçon e
muito outros.
A
irresistível ascensão social de Max Mirebalais é tão fulminante (porque, ao que
parece, ninguém lê poesia haitiana no Haiti, a menos que seja amigo do poeta)
que ele vai morar na Europa, e precisa criar heterônimos. Diz Bolaño: “Foi
assim que nasceu Max Le Gueule: a chave de ouro da arte do plagiador, uma
salada dos poetas de Quebec, Tunísia, Argélia, Marrocos, Líbano, Camarões,
Congo, República Centro-africana e Nigéria”.
Plagiar gente obscura é uma maneira fácil de sair
da obscuridade, desde que o plagiador tenha acesso a canais de divulgação que
são inacessíveis ao plagiado. E é em casos assim que o plágio deve ser punido:
quando alguém copia e assina, de modo deliberado e mal-intencionado, a obra de
alguém que não pode se defender desse ataque. Em casos assim, amigos, não
existe papo de “compartilhamento” ou de que “a poesia é de todos”. Como dizem
os nossos poetas, “todo o bem que eu desejo a gente ruim / é chibata, cacete e
camburão”.
Leia mais no blog MUNDO FANTASMO: http://mundofantasmo.blogspot.com.br/
Acho isso muito triste...
ResponderExcluirmas é a verdade
ExcluirQuantos gringos não devem roubar os poemas brasilis-marcianus...
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