FILHO
PRÓDIGO
Minha mãe! Aqui estou.
Velho, doente, já bem próximo da morte.
À espera de um trapo de terra, de um molambo de lama
Para cobrir o meu corpo contra o frio do vento,
Que, feito em chuva, penetrará na terra de minha última
carne.
E tu, minha mãe! Se estiveres n’algum lugar
De tua grande ilusão, não chores.
Cada
vivo morre uma parte da morte de cada próximo.
E o
seu fim total terá quando morrerem todos os seus mortos;
E o
morto? Morre também em cada um dos vivos que morre.
Minha mãe, aqui não estou para te chamar
Mamãe, e para te pedir que venhas me perdoar;
Estou aqui para te dizer que sempre estive em ti
E que fui uma parte das muitas que tiveste:
A parte mais humilde, mais simples, mais amarga... Mais
triste
E, ao mesmo tempo, a mais severa, mais dura, mais firme e
resoluta.
Minha mãe, dentro de mim, comigo, morrerás de novo.
Joaquim
Cardozo
*grifo nosso
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