Não sei quantos yoctômetros — nem se são yoctômetros mesmo — podem
separar os nossos neurônios antes de uma sinapse. Mas de uma coisa eu sei: o
caminho do pensamento até a boca é yottométrico. E se for para medir a
distância do pensamento até a mão (a palavra escrita), acredito que uma nova e
superior unidade de medida deve ser implantada.
Para a poesia não existem palavras quentes. A escrita já nasce fria. A
velocidade do pensamento, às vezes é tão assustadora que se não for tomada uma
nota naquele instante, bem capaz daquele poema nunca mais existir. Contudo, há
muitas pedras no caminho. Uma derrapagem gramatical, uma autocensura, uma
caneta que falha, uma sensação de plágio, um papel que acaba, um medo. Tudo
contribui para esfriar a palavra.
Ouvir falar em espontaneidade me deprime. Estamos rodeados por
estruturas castradoras, poderes concentrados e discursos que não são nossos.
Não escolher as palavras certas é se tornar vulnerável ao sistema e se
transformar em instrumento de mera reprodução. Poema que não é transgressor é só
publicidade.
Descabaçar uma folha exige responsabilidade. E desconfiança para saber
que os pequenos cristais de gelo que espalhamos pelo mundo serão derretidos
rapidamente contra esse sol imenso que nos cerca.
Fred Caju
(aquele do Sábados de Caju, saca? não? pô... é...)
feliz reflexão
ResponderExcluirSr.Fred Caju!
ResponderExcluirO poema não nos dará uma segunda chance se for ignorado.
ResponderExcluirMuitos yoctômetros, muitos!
ResponderExcluirBeijos