Viajantes Interplanetários

terça-feira, 24 de setembro de 2013

AS GRADES DA LIBERDADE


Hoje me dei conta: só escrevo em verso livre. Quem escancionar meus versos e detectar harmonias rítmicas não deverá se enganar pelo número de sílabas. Não fazia a menor ideia do que estava fazendo quando os produzi. Mas não sejamos ingênuos, não foi coincidência.

Predeterminar os limites do metro não significa se aprisionar a uma estrutura. Quando acordo a fim de escrever um poema de vinte versos em octossílabos, por exemplo, não quer dizer que eu saiba o roteiro do poema. Sei apenas quais são as minhas metas.

Em contraponto também acredito que nenhum verso é de fato livre. Alberto da Cunha Melo chama-os de polimétricos. Número de sílabas não quer dizer porra nenhuma, além de uma escolha. Quando se entra num poema a folha torna-se claustrofóbica e cada palavra é uma tentativa de encontrar a saída. É um labirinto insolúvel; é inútil escapar. O que tiver pra vir, que venha.

Queria muito por uma pedra nesse assunto, mas não resisto e vou usar uma provocação que aprendi com o mestre Alberto. É do poeta paranaense Eno Teodoro Wanke: “alguns dos versos livres que andam por aí deveriam estar é presos”.

Fred Caju
  

7 comentários:

  1. Limerique

    Caju, como sempre, com acuidade
    Plantou na web mais uma verdade
    Nessa prisão sem grade
    Que nossa casa invade
    A poesia carece poética liberdade.

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  2. Poemas, ao contrário de boa parte da ciência que escolhi para seguir caminhando, não tem formulários ou valores lógicos. Poesia não é proposição que depende de um valor binário. Muitas vezes, o que é ruim para alguns é indescritível para outros. O belo na poesia é a capacidade que um punhado de versos possui de sensibilizar pessoas diferentes de modos completamente distintos. Tentei reler poemas que detestei num dado momento tempos depois, num estado de espírito oposto ao qual eu me encontrava, e notei que se tornou muito mais interessante.
    Nunca tive saco, ou quem sabe competência, para ler o Poema sujo de Ferreira Gullar e acho o existencialismo de Sartre um saco, mas quem sabe daqui a algum tempo, eu os coma numa tarde de sábado sem pestanejar? Quando penso que, quando menino, não conseguia ouvir Bossa Nova, fico pensando como as coisas mudam.
    Escrevamos o que é ruim, tentando alcançar o inatingível, porque não? Nem todos nascem para fotografar como Salgado, cantar como Maria Callas, escrever contos como Machado ou dizer tanta verdade de forma escrota e bela como Bukowisk.

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    1. Cristiano,
      Um lado meu que não costumo contar é que sou pintor, pinto óleo sobre tela. Pois é, no tempo em que eu fazia curso de pintura no ateliê de Bruno Mroski em Curitiba, uma colega pintora de grande talento, me fez perceber que não existe quadro ruins, há sempre alguém que gosta daquilo que alguém produziu. Acabei acreditando nas palavras dela, vendi todos os quadros que coloquei a venda, até aqueles que pela minha ótica eram chinfrins. Acho que isso vale para tudo, até para poesia. Abraços, JAIR.

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    2. Eu concordo plenamente, enciclopédico amigo!

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    3. Jair, meu nobre. Depois dessa revelação, o Poetas de Marte merece alguma tela sua postada.

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  3. Ótima reflexão,embora não concorde com o todo, mas me conformo com o final. Parabéns.
    Chico Miguel

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