Viajantes Interplanetários

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

"O meu palco é o papel"*

Poeta marginal recifense, José Maria de Lima Filho, ou simplesmente Zizo, tem 64 anos. Autor da revista de poesia em quadrinhos Sue, ele ficou conhecido por misturar desenhos, textos e colagens na obra. Seu refúgio é o Centro de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE , onde já é figura conhecida. No papo com Gabriela Viana, fala sobre musas e liberdade.

JC - Você costumava distribuir seus trabalhos. Hoje em dia comercializa a custo muito baixo. Como consegue publicar as edições?
ZIZO –
 Recebo apoio de vários amigos para diversas coisas. Mas, especificamente na impressão, tenho ajuda dos amigos Gustavo e Diá, que são donos da gráfica Ponto G, lá na Cidade Universitária. Só preciso chegar lá com o papel que eles imprimem de graça.

JC – O Zizo de A febre do rato foi uma homenagem a você. O que achou do personagem?
ZIZO –
 Gostei da homenagem, mas acho que o personagem não tem nada a ver comigo. Ele sai recitando, tá sempre no palco. Não sou assim. Estou, sim, sempre criando, mas nunca saio recitando. O meu palco é o papel. Se me faltam folhas, me faltam um bocado de coisa. 

JC – Você passa mais tempo no CAC, da UFPE, do que na própria casa. Por quê?
ZIZO –
 Em 1993, Xico Sá, poeta e jornalista, me falou muito bem de lá. Era onde ele estudava. Um pouco depois, amigos poetas me chamaram para produzir um jornalzinho no CAC. E claro, chegando lá também me apaixonei pelas musas que passavam. Desde então, não consigo deixar o lugar. É a minha segunda casa. Já sou até conhecido.

JC – Você ama as mulheres, teve vários grandes amores, mas não é casado. A vida de solteiro foi uma escolha?
ZIZO –
 Sabe o que é, sendo solteiro, tenho na minha frente vários sonhos. É aquela história, você vai vivendo várias aventuras e, no fim, descobre que ninguém é de ninguém. Prefiro ser livre, sempre.Talvez esse seja meu lado anárquico. Sou completamente libertário.

JC – Como é essa sua anarquia e por quê?
ZIZO –
 O anarquismo sempre mexeu comigo. Na verdade a anarquia é por ser contra tudo o que é reprimido. Eu sou a favor das relações abertas, da maconha... São estilos de vida. Eu não condeno. A liberdade é a forma mais sublime de se viver.

JC – E quanto à expressão poeta marginal?
ZIZO –
 Surgiu lá pelos anos de 1968, com a Tropicália e, vai ser eterno. Quanto mais me chamam de marginal, mais marginal eu fico (risos).

JC – Pode-se dizer que os poetas Beatnik foram os criadores da poesia marginal. Você tem influência de algum deles?
ZIZO – 
Tive acesso, só q você vai seguindo algumas coisas e de repente vê o seu próprio caminho. Daí ou vai para o trilho do trem ou pra embarca no navio e segue pelo mar. Eu acho o trilho mais contagiante. 

JC – Tem medo de alguma coisa?
ZIZO –
 De ter responsabilidade com a criação. Acho que a poesia é liberta. Se tem uma responsabilidade então não é arte. É preciso estar aberto para a poesia.

JC – E em termos de poesia, tem novidade vindo por aí?
ZIZO –
 O Sr. Nunca. Ele é o pai de Sue e se tornará o personagem principal da revista. O que posso adiantar é que ele olha a Sue e vê a mãe dela, Luanda. Aí é que vai desenrolar todo o enredo. 

JC – Quando não está criando, o que gosta de fazer?
ZIZO –
 Adoro fazer cuscuz com coco. É uma coisa que eu e minha sobrinha gostamos. Quando não é isso, colocar o feijão no fogo e o arroz. Outra coisa também é aquela salsichinha tipo Viena, como com um pão. Pense num troço que eu sou fã, é o pão.

JC – É religioso?
ZIZO – 
Não. Mas me volto muito para a filosofia oriental. Adoro buscar a paz, não criar problema. Me preocupo muito com os outros. Mas também não me santifico, de jeito nenhum. Tenho o lado anarquista muito forte dentro de mim.



Fonte: JC on line

*Zizo

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Limerique

    Zizo, um poeta anarquista marginal
    Por que uns têm tanto assim afinal?
    Pra ele não faz diferença
    Por que arte não é crença
    Arte está acima do bem e do mal.

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