SOBRE ASSÉDIO SEXUAL
(NOS COLETIVOS E AGLOMERAÇÕES)
Por: Marcos Lima
“São códigos
culturais que são compartilhados. É difícil você descrever objetivamente, mas
as pessoas sabem o que se passa quando vivem a situação” (Júlia Rabahie)
Há bem
pouco tempo um parlamentar pernambucano elaborou um projeto de lei no qual
previa vagões exclusivos nos trens do metrô para mulheres. O autor esperava que
estas aderissem de forma entusiasmada ao seu projeto. Ocorre que em entrevistas
realizadas pela imprensa local elas não se manifestaram a favor, resultado: o
projeto de lei sequer chegou a ser votado.
Os
motivos para o projeto de lei.
Possivelmente
o ilustre parlamentar foi buscar inspiração nos noticiários do Rio e São Paulo
onde com freqüência ouvimos falar em assédio nos ônibus e metrôs quando
lotados. Em Recife praticamente não foram registradas reclamações neste sentido
Como se
comporta a mulher nordestina diante desse tipo de assédio?
Certa
ocasião uma amiga em bate-papo de barzinho me fez uma confissão sobre o que ela
disse ter ocorrido com uma amiga casada moradora no conjunto Marcos Freire.
Todos os dias esta senhora pegava o ônibus (quase sempre lotado) para o centro
do Recife onde trabalhava. Nestas condições ensejava a aproximação de algum
homem, este toque lhe proporcionava momentos agradáveis, mas de um passageiro
ela guarda até hoje uma inesquecível lembrança. Estava ela no ônibus, próxima a
cadeira do motorista, quando um sujeito se aproximou e em alguns segundos
encontrava-se absolutamente encaixado em seu enorme traseiro. Uma sensação
eletrizante percorreu todo o seu corpo e a partir deste momento tudo o que ela
mais queria era que a viagem não terminasse nunca.
Certo
senhor que mantinha uma relação aberta com uma profissional da área da saúde,
certa ocasião perguntou-lhe se já havia sofrido esse tipo de assédio, e qual
foi sua reação, ela confirmou e disse que em muitos casos era
indescritivelmente prazerosa provocando um desejo quase incontrolável de fazer
sexo.
Fatos
como estes ocorre, ao que tudo indica, em todos os pontos do planeta, havendo
até locais que simulam estas situações. Certa ocasião no programa do Jô Soares,
em que estava sendo entrevistado um ex-diplomata brasileiro no Japão, este
dizia que naquele país havia uns locais que reproduzia o interior de um
transporte coletivo e homens e mulheres pagavam para passar alguns momentos
neste roça-roça.
O que
dizem os estudiosos.
Magnus
Hirschfeld, em sua Enciclopédia da vida Sexual, pag. 151 Edições Spiker- Rio,
citando Edgard Poe: “Há homens e mulheres que não podem resistir à tentação de
estar em contacto com outros seres da sua espécie, mas de sexo diferente. Não
são poucos os homens que não perdem a oportunidade de misturar-se a uma
multidão qualquer com a simples intenção de sentir o calor de uma pessoa do
sexo oposto, de poder apreciar a dureza de sua carne a turgescência das suas
formas. E não poucas são as mulheres que sobem a um ônibus ou a um trem, sem
necessidade alguma, quando vêem que está cheio de gente, sabendo de antemão que
terão de viajar em pé e serão apertadas invariavelmente durante a viagem. Não
me refiro evidentemente a mulheres depravadas, e anormais, porém a mulheres
tidas e havidas como honestas, que aproveitam o momento para estar em contato
com um desconhecido que, provavelmente nunca mais voltarão a encontrar, mas que
durante alguns minutos lhes terá proporcionado uma impressão agradável, tanto
faz moço como velho, contanto que se trate de uma pessoa de sexo oposto.
Durante esses momentos desaparecem também todas as diferenças sociais. Estão em
contacto apenas um macho e uma fêmea” É importante acrescentar que como
conseqüências destes episódios surgiram paixões duradouras.
Este tema
já foi abordado também pelo cinema. Quem não se lembra de uma produção brasileira
de 1978, protagonizada por Sônia Braga, cuja produção foi baseada no romance de
Nelson Rodrigues A DAMA DO LOTAÇÃO, onde a Sonia dá um show de erotismo, e
bateu recordes de bilheteira. O enredo é mais ou menos o seguinte:
“Carlos
(Nuno Leal Maia) e Solange (Sônia Braga) se amam desde jovens e, após um casto
namoro, se casaram. Na noite de núpcias, Solange se recusa a fazer amor com
ele. Primeiro ele implora, então em um acesso de raiva a estupra. Solange
afirma que o adora, mas nos meses que se seguiram ao casamento ela não pode ser
tocada por Carlos. Para provar a si mesma que não é frígida, começa uma rotina
diária de seduzir homens em coletivos, homens que ela nunca viu nem verá
novamente e nem mesmo sabe seus nomes.... Enquanto isso, ela busca ajuda
psiquiátrica, pois não sente nenhum remorso” ( Anônimo).
É
evidente que neste tipo de comportamento não se instala o sentimento de culpa,
pois para os personagens envolvidos estes momentos de prazer não pode se
caracterizar infidelidade, e tem ainda como atenuante o sentimento de
tranqüilidade de não se ter exposto ao contágio de alguma enfermidade
sexualmente transmissível. Contudo não são poucos os casos, relatados por
passageiros, de que em viagens interestaduais durante a madrugada enquanto os demais
passageiros dormem pessoas de comportamento tanto heterossexual como gays fazem sexo, na maioria dos casos
oral.
Os
anormais
São
inúmeras as reportagens levada ao ar pela imprensa televisada sobre este
assunto, e em uma destas um entrevistado revoltado denunciava um sujeito que
havia ejaculado sobre a roupa de sua mulher. É evidente que mulher alguma
deseja passar por tal constrangimento, e segundo a opinião de muitos, um
sujeito que assim procede é um tremendo canalha e tal procedimento tem o repúdio
de todos, alguns já foram vítimas de alguma agressão por parte de alguém mais
exaltado. Se a mulher consente nesta aproximação ela deseja o prazer do toque,
mas não autoriza (segundo um marido revoltado) vagabundo algum a colocar o seu
sêmen sobre sua roupa, ou ser tocada pelas mãos de alguns atrevidos que se
julgam neste direito. Ouvimos relatos de que algumas mulheres conduziram as
mãos de alguns homens (nestas circunstâncias) até sua genitália, mas por
iniciativa dela. E algumas mulheres afirmam que certos elementos por não
entenderem até onde a mulher está permitindo que ele vá, levaram tapa na cara.
Escancarar
ou fingir
Entrevistamos
um famoso sexólogo que afirma: que ao contrário do homossexualismo que é
debatido, estudado e incentivado, esta questão será sempre tratada como sendo
um perigoso desvio de comportamento, embora a coisa mais natural seja que dois
seres de sexo oposto desejem estarem próximos. Em alguns, este desejo é mais
forte e em outros ele é ausente. Claro que um pai ou marido vendo sua filha ou
esposa envolvidas nesta fantasia prefere deduzir que elas estão sendo
incomodadas, a ter que admitir que tudo que está ocorrendo naquele momento é
resultado do consentimento delas. E o ciúme é o sentimento que eclode nestas
situações ensejando cenas por vezes desagradáveis, quando tudo poderia ser
resolvido com um apenas “quer fazer o favor de se afastar”. Muito dificilmente
alguém resistiria a tal pedido, mas se o sujeito é insistente neste caso a
melhor atitude da mulher é trocar de lugar.
Talvez em
um futuro próximo, continua o sexólogo (que pediu para que seu nome não fosse
revelado), quando as pessoas estejam libertas do sentimento de posse e o
espírito de amor e compartilhamento faça parte de nossa natureza humana,
manifestações de carinho e desejo externados em comportamentos como este, serão
vistos com absoluta naturalidade. Mas fica uma advertência: ninguém,
absolutamente ninguém, em circunstância nenhuma, ou em qualquer época, tem o
direito de importunar quem quer que seja, sobretudo quando sua aproximação é
repulsiva.
Marcos Lima dos Santos (Filósofo Urbano)
Nenhum comentário:
Postar um comentário