Viajantes Interplanetários

domingo, 27 de abril de 2014

A horrível tristeza do girassol



A lágrima transporta girassóis
Da alma para a consciência
Da consciência para o ato
De se enternecer
Girassóis que embebedam
E fazem dançar os olhos
Em meio a vagas e abrolhos
O nauta encontra a direção
É um girassol gigante
Que desce da córnea cristalina
E anda titubeante
Buscando alguns seus irmãos
Vê sobre o chão da estranha urbe
Seres murchando. E as folhas?
Não se veem as folhas!
São ruas pintadas de amarelo
Pelo mar incandescente
Das lágrimas a descer
A flor curva-se para falar
Com as pequenas gentes deitadas
Em papelões nas calçadas
As gentes vivem outra realidade
Que o girassol não consegue
Não consegue entender
O girassol mal sente
O tempo passando
Enquanto sentado
Ouve as gentes falando
Coisas sem sentido
Mas sem sentido
É um girassol chorando
Ouvindo e ouvindo
O que não consegue
Não pode entender
E as gentes riem
Riem com facilidade
Mas há uma agrura
Incrustada nos olhos
E estes recolhidos
Escondem
A absoluta falta de riso
Para as gentes
Continuarem a viver
Precisam esconder
A falta de riso
A falta de tudo
A falta de ter
Algo pouco
Algo ínfimo
Uma perspectiva
De ser parte
Duma realidade
Assaz longínqua
Deveras à parte
Das gentes deitadas
Em papelões
E sob papelões
O riso não existe
Mas tentar criá-lo 
É se manter vivo
O girassol percebeu
Suas folhas caindo
E riu, todos riram
Aquele riso
Difícil de entender.

Raísa Feitosa


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