Viajantes Interplanetários

terça-feira, 15 de abril de 2014

Reféns da palavra


Durante muito tempo, os gregos desconfiaram da pala-vra escrita como a linguagem cifrada de um mundo obscuro que só levava à danação, diferentemente do que se aprende “de cor”, ou com o coração, como está na etimologia. Homero, o inventor da literatura ocidental, era maior porque também nunca escrevera nada e suas estrofes inaugurais tinham sido transmiti-das oralmente, de coração em coração.

Meu convívio forçado com o computador, sua conveniên-cia, seus mistérios e seus perigos, me faz pensar muito sobre a precariedade da palavra. Pois um pré-eletrônico como eu está sempre na iminência de ver textos inteiros desaparecerem sem deixar vestígio na tela. O computador nos transforma todos em reféns sem fuga possível da palavra e pode acabar, num segundo, com um dia inteiro de trabalho da pobre musa dos cronistas em trânsito. Ao mesmo tempo, nos transformou na primeira geração da História que tem toda a memória do mundo ao alcance de um dedo.

O computador resgata a memória como mestre da Histó-ria ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria, e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica? Sei lá. É melhor acabar aqui antes que este texto desapareça.


(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. Diálogos impossíveis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 58)

2 comentários:

  1. Blá, blá, blá…

    A palavra essa total desinibida
    É símbolo da nossa civilização
    Sem palavra o que seria a vida
    Sem poder afirmar ou dizer não?

    Palavra nos acode em nosso PC
    E flui facilmente, não é deletéria
    Pense pois o que seria de você
    Sem as palavras numa matéria?

    Livros, maior feito da civilização
    Pois são palavras o seu recheio
    Inauguraram a idade da razão
    Porque palavra é o fim e o meio.

    Palavra será o bandido e o vilão
    Então ela nos mostra a que veio.

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