Mulheres
protagonistas
Scarlett O’Hara (... E o Vento Levou) e Ilsa Lund (Casablanca), Lola Lola (O Anjo Azul) ou Pina (Roma, Cidade Aberta), Margo Channing (A Malvada) ou Norma Desmond (Crepúsculo dos Deuses), Geni (Toda Nudez Será Castigada) ou Ângela
Carne e Osso (A Mulher de Todos) ou
Dora (Central do Brasil). O cinema
está cheio de filmes que trazem consigo fortes personagens femininas. Não se
pretende aqui fazer uma incursão ao passado pois seria abusar demais da memória
ao querer resgatar tantos nomes importantes. Fica-se então na contemporaneidade
que não deixa de fornecer alguns bons exemplos de protagonistas que unem força
e resistência num mundo predominantemente masculino. Ser criança em ambiente de
violência e pobreza, ser a única sobrevivente num ambiente inóspito ou alguém
consciente do poder de seu sexo, não é tarefa para qualquer um.
Em A Feiticeira da Guerra, Komona (Rachel Mwanza) vive na República Democrática
do Congo, porém a sua vila foi invadida por guerrilheiros que a obrigaram a
matar os próprios pais e a levaram consigo para participar da guerrilha que
conta com outras crianças e adolescentes sequestradas. Nesse grupo, Komona
ganha o status de feiticeira após enxergar fantasmas e escapar de um tiroteio
contra o exército e torna-se uma espécie de amuleto da sorte para os líderes. Komona
conhece o amor, é abusada, engravida e precisa resistir a toda hostilidade
daquele ambiente. A miséria deste chocante e ao mesmo tempo poético filme
canadense (que, se não me engano, ainda sequer foi lançado no Brasil) lembra a
realidade mostrada pelos olhos infantis de Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) em Indomável Sonhadora, porém se esse
último retrata a resistência cultural de um grupo contra a evolução do
progresso capitalista que ameaça inundar um vilarejo precário, o primeiro é a
lógica da guerra que passa por cima da inocência e do sonho.
Em Gravidade é a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) que tem que usar de
toda persistência para voltar à Terra ao ficar sozinha em pleno espaço após uma
nuvem de detritos espaciais destruir a estação espacial em que se encontrava. Ryan
Stone perdera a filha no passado e o espaço pareceria um refúgio para ela.
Estar na Terra, a princípio, seria encarar as lembranças das quais ela quer
evitar. Portanto é da insegurança que sente e da fragilidade inerente à sua
personalidade que Ryan deverá extrair uma motivação para não se entregar e
retornar ao planeta em que habita, com todos os problemas que ele ainda pode
lhe reservar. Ninguém no espaço pode salvá-la (até mesmo o personagem de George
Clooney) e interceder por ela, a não ser ela própria. Apesar da direção
brilhante do Alfonso Cuarón e dos efeitos especiais, todos estes elementos estão
nesta ficção científica ao serviço da protagonista e sua jornada de superação.
Joe (Charlotte Gainsbourg)
é uma ninfomaníaca e foi encontrada ferida num beco fétido por um homem
solitário a quem ela relata toda a sua trajetória, desde a infância à vida
adulta. Joe entra para o time das grandes protagonistas dos filmes de Lars Von
Trier: mulheres que se voltam ao grupo em que vivem, convictas de seus valores
e objetivos e são reprimidas ou até mesmo sacrificam-se em prol das crenças que
possuem. Assim como Seligman (Stellan Skarsgard) diz em determinado momento de Ninfomaníaca (obra dividida em duas
partes): a trajetória de Joe não seria tão interessante se fosse um homem a contar
as suas façanhas sexuais e suas aventuras amorosas. O fato de ser uma mulher a
usar o sexo como uma forma de libertação e dominação inverte tudo aquilo que já
está preestabelecido: a visão de mulheres frágeis, delicadas, suspirantes e à
espera de um grande amor. Joe é a mulher moderna que compreende o seu poder, não
liga para as convenções e busca o próprio prazer antes de tudo (cercando até
mesmo suas atitudes com um tanto de frieza). Homens fazem isso? Sim. Mas não
são taxados de “vadias” ou “vagabundas” ou “putas”, nem são mal vistos pela sociedade. Joe é um grito solitário, porém autêntica a si mesma, assim
como Ryan, assim como Komona.Vidas ficcionais que só a
realidade poderia inspirar, mulheres tão fortes como as que conhecemos no
dia-a-dia.
Sou fã confesso da Sandrinha =]]
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