Viajantes Interplanetários

domingo, 28 de setembro de 2014

Um copo que cai



Juro que quando cheguei já estava assim: estilhaçado no piso da cozinha. Os cacos não me impedem de ver, porém, que ainda há um copo naqueles escombros. Redobro minha atenção ao chão estrelado de vidro. Ando de ponta de pés; sou um bailarino russo em ação. Junto os fragmentos do vidro e procuro, em vão, por reflexos no cristal. Também estou destruído. Manuseio cacos pontudos e farelos de lâmina com as mãos. Filetes de sangue já me escorrem entre os dedos. Mas não há dor ante o quebra-cabeça impossível de remontar o copo a partir do que sobrou. Não se escreve um poema sem sangue.

Fred Caju

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