“Ser
pobre em Recife é morrer de sede em frente ao mar (…) restrita e minguante ilha
de excelência”. (Edu França)
Por esses dias acabei por dar um
checape na minha condição humana o que me levou a ler: “A servidão humana” de
W. Somerset Maugham, “Almas Mortas” de Nikolai Gógol e o terceiro romance de
Edu frança “O fim do inferno”. Três livros que tem em si como aspecto comum
diante a minha leitura o demasiado no humano/o espírito aventureiro do
indivíduo. Abordarei por essas linhas a respeito do fim do inferno, não o
comparando em estética ou valor literário com as outras duas obras, mas sim a
sua relevância como conteúdo/enredo com diversos personagens que esbarrei com
esses tipos em algumas das minhas andanças ou no correr diário, entre uma
balada e um blues. O livro se inicia com um texto poético que o lera como se
tivesse em algum recital lá na rua da moeda ou bebendo em uma das mesas dos
bares do beco da fome e ouvisse o berro novo de um dos poetas marginais de
Pernambuco, delineando com o falar da sua fala uma angustia real alcoolizada
que não cega a vista diante de um recife que fede, de um recife lama/mangue, um
velho reciferido. O romance segue seu galope por entre quatro prismas/cidades:
Recife, São Paulo/Brasil; Porto, Guimarães/Portugal; Paris,
Saint-Denis/França.
Com aventuras/desventuras entre
tipos diferentes em suas condições e de desejos e necessidades por uma
busca/vida e com algumas peculariedades em comuns entre essas, uma que destaco
ao nomeá-la por: ambição existencial! Uma vontade retada potencial de se ver
como alguém, de querer se dar bem na vida. Não se importando o preço que se
tenha que se pagar por tal empreendimento. Em outras palavras esse eterno
querer se livrar de uma condição miserável e de um cansaço de si mesmo, ou
seja, certa impotência para com a realidade (vida real que não se troca
simplesmente o canal) e diferente da falta de atitude de alguns heideggerianos
que aceitam/curtem sua angustia, tais personagens vão a guerra... Digo, levam
consigo sua angustia pra passear pelo submundo muita das vezes imundo. Mesmo
com o excesso de luzes ou cores artificiais que aguçam com sua sede aventural.
-Se “até os niilistas tem direito à utopia”. Temos em Alexandre
(personagem principal) um jovem com uma capacidade de guardar segredos próprios
ou uma mente maquiavélica na busca por dar as cartas no jogo/vida como vemos
com brilhantismo ao final do capitulo primeiro.
Temos em Freitas/Neiva/Amanda-Marion.
Tipos carregados por preconceitos, seres que por um momento no andar do galope
do tempo deixam a vida lhes direcionarem um norte. É nessa busca/vida que eles
aceitam o seu fato/fardo, tanto vestindo o personagem devidamente colocado
(usando ou engolindo o seu próprio preconceito), como aproveitando-o tal qual a
um suco de limão a se fazer uma limonada e não ser descartado como mero bagaço.
Se por um lado temos a força desse preconceito ancestral/atemporal que se vai
além de qualquer lógica, percorrendo inexplicáveis caminhos, geradora de uma
ira irracional (é impossível viver sem ira!?) ocultada em razão alguma. Como no
tipo que vê na profissão da puta algo condenável se for no país Brasil, e algo
invejável se for exercida na Europa. O preconceito de raça tido por um
português que apesar de seus cabelos pretos (árabe) não lhe incomoda com a
morte vizinha de mais um negro brasileiro. Tal indivíduo não percebe que apesar
de suas andanças em origens e convívios seculares que acumula em seu
interior uma ojeriza aos novos costumes ou novos preconceitos seculares. Por
outro lado há também o preconceito velho/jovem: “Eu não pertenço a esse
mausoléu de múmias vivas de jovens velhos, de costas para o mundo, desejando um
ontem que não viveram; e que ao contrário do que pensam não era melhor que
hoje, que amanhã”.
A trama caminha nitidamente com percas
e ganhos na vida de tais personagens que não conhecem a regra básica do bom
jogador: “nunca entre em um jogo em que não esteja calejada o bastante para
entender as intenções pela respiração dos jogadores”. Por outro foco temos
pessoas que de fortes em estado psicológico são de pura decadência
transcendental estampada nas figuras da Velha que de prostituída pelo sistema á
cafetina do mesmo, Parrequinho um misto de poeta bêbado á filosofo de bares ou
Diógenes das calçadas. Temos mais algumas provocações no desenrolar da trama em
seus últimos capítulos, indagações o bombardeamento de informações
vividos/sobrevividos nessas ultimas décadas. E presentemente constante/cortante
em nossos dias estranhos. –“Qual a utilidade de informar?”, pergunta o autor ao
impor tal questionamento na boca de um de seus personagens como fizera o mítico
Cisne na boca de Sócrates.
O sexo é forte no
livro. Cheio de interesses, descobertas e de busca até por humanidade (paraíso
perdido), coisa de pensador racionalista perguntei-me ao ler que “uma boa
transa redime qualquer estado, mesmo que seja de um filosofo pessimista”,
talvez a nossa pequena filosofa contemporânea Kaligula Thaísa tenha razão
alguma em seus devaneios alcoólicos, quando reflexiona sobre o mau humor e o
mau comido no nosso tempo. Como se fossem ambos a face de uma mesma velha
moeda. Por essa ótica constatamos que Nietzsche-Shcopenhauer foram dois
demasiados animais/mal-comidos seres. (*) Antes de chegarmos há um dos Alpes do
livro, refiro ao desdobramento ocorrido principalmente na pagina 317.
Encontraremos uma reflexão relevante
sobre uma das nossas veias originarias: “A multidão em transe coletivo,
histeria, sofrimento espalhado e fé ostentadora, foi dessa malga que saiu o
espírito brasileiro” (recomendo a leitura do filosofando à toa 23, não como
mechandagem, mas para os que ainda interessam saber o que somos-nos? O que faz
sermos o que somos? O velho conhece a ti mesmo grego, ainda
serve para algo?). Concluindo,
o livro que poderia terminar com “um olhar com soberba e dignidade “naquela
tarde prateada de um dezembro que nunca mais acabaria”. Segue os factos
mostrando os passos de um homem que até sua sombra é uma sombra devoradora de
almas. Ele é em si um tsunami para com as vidas que se encontrem por entre o
seu caminho/jogo pronto pra mais um drinque/golpe nesse inferno, agora em um
prisma americano na cidade de nova York.
(*) Obs.: não inclui o Heidegger aos outros mal-comidos filósofos, por
este ser um caso serio de demência ou senilidade humana. (Não resolvida nem com
a pisa da buceta judia dada pela Hannah Arendt).
“A realidade é uma
só, as vidas, os destinos é que mudam, mas não ao nosso gosto, como queria o
meu falecido humanista. Somos com o tempo ressaca de nós mesmos, uma eterna
quarta feira de cinza”. (Edu frança)
Por Célio LiPor: Célio Lima.
Brasil
ResponderExcluirOS TEXTOS DO FILOSOFANDO À TOA TAMBÉM ESTARÃO DISPONÍVEIS NA PG. DO FACE : https://www.facebook.com/FILOSOFANDO-%C3%80-TOA-por-C%C3%A9lio-Lima-1508243292831542/
ResponderExcluirGRATO A LEITURAS, AOS COMENTÁRIOS Q RESPONDERA E AOS Q NÃO OS RESPONDERA POR ESQUECIMENTO OU POR PREGUIÇA EM SI.
ATT. CÉLIO LIMA.