Viajantes Interplanetários

terça-feira, 29 de setembro de 2009

NA SUA AUSÊNCIA

Os meus olhos foram quebrados,
eles são um par de olhos alados.
A minha retina está em brasa,
sozinha, voando pelos ares,
como uma fumaça com asas,
à procura de bons lugares.
— Galopo em alados corcéis
e o poema dorme nos papéis.

A boca está paralisada,
não consigo falar mais nada.
Eu já não me alimento mais,
gostaria de te dizer tudo,
mas nem para falar sou capaz,
eu não sou covarde, sou mudo.
— Hoje já não tenho mais hálito
e o poema permanece inválido.
Estava na ponta do nariz,
mas eu não consegui ser feliz.
O fato já virou um axioma:
toda minha incapacidade
de poder sentir o teu aroma,
levou-me a fugir da cidade.
— Agora virei um foragido
e o poema ficou corrompido.
Eu não escuto mais a tua voz,
sinto uma barreira entre nós.
Não capturo mais nenhum som,
o mundo perdeu o seu valor,
e já não sei mais o que é bom
nem vejo sentido no amor.
— A vida perdendo a direção
e o poema sendo escrito em vão.
Fiz o que parecia impossível:
tornei-me um homem insensível.
Invalidei a minha epiderme
junto com os meus sentimentos,
hoje, sinto-me como um verme
indigno dos teus acalentos.
— Eu continuo com meu calvário
e o poema morre solitário.


Fred Caju
Monopólio da Solidão

Um comentário:

  1. São poucos os que realmente conseguem através das palavras despertar sentimentos. Você é um deles! Senti dor quando disseste: "o mundo perdeu o seu valor, e já não sei mais o que é bom, nem vejo sentido no amor" Parabéns poeta! Despertai sentimento aos que sentem, mas precisam do poema para entender.

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