Viajantes Interplanetários

domingo, 21 de novembro de 2010

HAICAIS DE DOMINGO

Milton Fernandes?

Por: D. Everson


Hoje vou falar de uma figura singular da escrita brasileira que segundo o crítico Fausto Cunha trata-se de "um dos poucos escritores universais que possuímos" (1). Esse sujeito litero-pluralizado não deve ser rotulado de poeta, cronista, romancista etc. e tal. Tal camarada não se rotula mesmo! Ele é mais hilário que o Pitu - grande camarão de água doce que foi parar na aguardente – mais engraçado que 500 Mr Beans entiriricados na política federal. Abaixo vamos citar alguns trechos de sua autobiografia:

Nascido Milton Fernandes, no Meyer, em 16 de agosto. Ou em 27 de maio? Ou em 27 de maio do ano anterior? Há desencontros de opinião na família. Na carteira de identidade: 27-05-1924. Meu amigo, Frederico Chateaubriand, sempre repetia, quando se falava que alguém estava "muito moço, isto é, aparentava menos que a idade que tinha: Idade é a da carteira. Isto é, não adianta ter qualquer esperança contra a cronologia. No meu caso talvez a carteira esteja (um pouquinho) a meu favor. Descubro, aos 17 anos, que não me chamo Milton, mas Millôr. Acho bom, não mudo, e o nome logo pega. Vice-campeão mundial de pesca ao atum na Nova Escócia. Nunca tinha pescado em minha vida e nunca peguei um peixe. Uma longa história que não cabe aqui. (2)”

Chegando ao Brasil as historinhas em quadrinho (1934) Millôr torna-se um leitor potencial das mesmas em especial a Flash Gordon (1) dando brechas a sua criatividade. Anos mais tarde conheceria Walt Disney (1948) e fez o seguinte comentário:

Nessa época eu ainda acreditava que Disney sabia desenhar. Só mais tarde, lendo sua biografia, aprendi que até aquela assinatura bacana com que ele autentica os desenhos é criação da equipe.

Bem não vou falar mais da vida alheia! Vamos ao que viemos! O haicai aparece no caminho do nosso amigo em 1956, época em que escrevia semanalmente para a revista O Cruzeiro. Assim nosso ilustre Milton,quero dizer Millôr, embarcou na nau japonesa. Discípulo da escola Danrin, famosa pelo o coloquialismo e o bom humor, Millôr não se prendeu a métrica e apenas adotou a forma (os três versos). Seu haicai destaca-se pela sátira ou mediativo e/ou “meditabundo” como ele mesmo prefere enquadrar. “Millôr inscreveu-se na história como um dos maiores autores de haicais na língua portuguesa.” (3). Sem mais delongas vamos aos poemas: COM VOCÊS o ilustre, o magnânimo, o fantástico, o singular MILLÔR FERNANDES.


Hesito, Maria
Me mato, ou rasgo
Tua fotografia.


Pra ser feliz de verdade
É preciso encarar
A realidade.


Apertei o botão
De rosa Samurai
Implodi um hai-kai.


O silêncio gela a cuca
No segundo em que o barbeiro
Raspa a nuca.

Com que grandeza
Ele se elevou
Às maiores baixezas.



Bibliografia

1- http://www.releituras.com/millor_bio.asp

2- http://www2.uol.com.br/millor/index.htm

3- BOA companhia: haicais. São Paulo: Companhia das letras, 2009. 189 p.

*Para ver a foto da certidão clic no link: http://www2.uol.com.br/millor/aberto/biografia/bio_00.htm

Um comentário:

  1. num haicai de domingo,
    domingo já não sendo,
    lendo millôr: aprendendo.


    ABCD.Everson literário, muito bom!

    Abraço!

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