Especialmente nesta sexta (para quem não notou ainda, a coluna é de quinta — o trocadilho fica a critério de cada) trazemos à tona A Batalha do Azul através de dois poetas extremamente venerados por este que vos escreve. A coluna Confrontos e Confluências orgulhosamente apresenta: Carlos Pena Filho e Ronaldo Cunha Lima. O campo de batalha, o azul; as armas usadas, sonetos; o preço da luta, a boa poesia (sem vencedores ou perdedores).
Carlos Pena Filho tem o posto intransferível de Poeta do Azul, e o Ronaldo Cunha Lima por ele foi despertado, como o próprio diz na dedicatória do seu AZUL ITINERANTE: “À memória do poeta e amigo, Carlos Pena Filho, que me despertou para o azul” (LIMA, 2006, p. 21). Mestre e tutor, em confronto ou em confluência?
Pena Filho aparece com o seu azul adjetivado (ausente, cansado, vertiginoso) e Lima com o seu azul policrômico (safira, marinho, turquesa, cinza, celeste, piscina, claro, cárdeo), agora, para vocês:
SONETO DO DESMANTELO AZUL
A Samuel Mac Dowell Filho
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
Carlos Pena Filho
SONETO DO DESMANTELO AZUL
A Samuel Mac Dowell Filho
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
Carlos Pena Filho
SONETO DO AZUL ITINERANTE
Mudando apenas de tonalidade,
o azul me acompanhou pelo caminho.
azul-safira, seda, azul-marinho,
o azul do sonho e da felicidade.
Azul-turquesa ou cinza, da saudade,
azul-celeste, prestes de um carinho,
azulejando à rosa algum espinho,
azul adulto e de qualquer idade.
Azul-piscina, sina da distância,
azul-claro dos astros, na infância,
o azul das flores castas de um Paul.
Azul-cárdeo dos sonhos memorosos
de cobreados cabelos misteriosos,
o azul, que vem comigo, é sempre azul.
Ronaldo Cunha Lima
Particularmente, tenho uma cisma com azul...
ResponderExcluirmas, as vezes parece mais um eco
do que leio - muitos poetas cismam com essa cor
ou talvez seja cisma da própria poesia.
Vai saber...
Fred, confesse, você quis sacanear o Ronaldo Cunha Lima! Rs. Rapaz, eu adoro esse soneto do Carlos Pena Filho, obra-prima. E perto dele, nesse confronto, o Azul Itinerante é que parece algo desmantelado!
ResponderExcluirGrande abraço!
Dá-le! azul minha cor predileta depois do preto de minhas camisetas
ResponderExcluirAzul a cor "Blue" triste dos Blues cantados com muita tristeza e o azul do céu e do mar... assim como são os poetas e a poesia com seus antagonismos que nos fazem sentir e escrever...
ResponderExcluirGostei muito do seu blog
Gostaria de convidá-lo para ver o meu. Comentários são muito bem vindos.