Viajantes Interplanetários

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade


Houve um tempo em que o cinema não falava. Dependia das expressões faciais, dos gestos exagerados, dos olhares inquietos marcados por uma forte maquiagem. As tramas eram mais simples, ingênuas até. Era uma época de grandes experimentações, a linguagem cinematográfica não tinha sido desenvolvida por completo, muitos diretores, produtores e profissionais acertavam em cheio, muitos erraram e passaram em branco na história.
Quem nunca se impressionou com os primeiros passos do cinema americano de um Griffith (o que estamos habituados aos filmes de hoje devemos muito a este diretor e seu Nascimento de Uma Nação, jogando-se fora a parte racista exaltando a Klu Klux Klan), com as luzes e sombras dos filmes expressionistas alemães e com a montagem inovadora dos cineastas russos? Sem deixar de mencionar o lirismo de Carlitos. Tão antigos em sua idade e tão atuais em sua forma, ousados, inovadores.


A suntuosidade de Cabíria e Intolerância, o tom sombrio de Nosferatu e A Última Gargalhada, a modernidade de Metropolis, a edição que faz cair o queixo de muito cinéfilo de O Encouraçado Potemkin (que sinceramente considero o maior filme feito até hoje) e O Homem Com Uma Câmera, a crítica social e bem humorada de Em Busca do Ouro. Tudo isto sem o auxílio luxuoso do diálogo, que apenas se deixava ler em algum das cartelas que expunham as falas dos atores.


Ao olhar para trás, não é incompreensível que um filme mudo e francês como O Artista seja o favorito ao Oscar. Como muitos já disseram, seria uma homenagem aos anos dourados do cinema, dias em que o próprio cinema estava se autodescobrindo, cujas origens ainda nos causam suspiros pelas cinematecas e sessões privadas em nossos sofás, nos fazendo imaginar como seria se fossemos nós a contemplar aquelas obras-primas em estado bruto na tela grande. Premiar um filme mudo, por tudo o que seus ilustres antepassados já representaram, e francês porque foram eles que desenvolveram esta arte (graças aos Irmãos Lumière, por mais que os americanos ainda insistam que não).
Consequentemente olhar o passado de mais de cem anos atrás, nos faz pensar aonde ele chegou, no nosso cinema atual, que querendo ou não, passa por uma crise que há muito não se via. Queda nas bilheterias, Hollywood copiando a si mesma (remakes sem razão de serem feitos, transposições de HQ’s aos montes, adaptações de obras estrangeiras que, por ventura, tiveram algum destaque), pouquíssimos filmes e autores que realmente empolgam e nos desafiam. Claro que não há nada de novo a ser feito e todas as tentativas de experimentação apenas vai soar mais do mesmo do que inovação (o último frescor que nos atingiu foi o Avatar de James Cameron, que, com o uso efetivo do 3D, surgiu como uma luz no fim do túnel).
Ainda assim, acredito no cinema, mesmo quando é feijão com arroz.
Nos anos 50 e 60 o cinema passou por uma de suas maiores crises, o vilão daquela época era a televisão e uma turma jovem saiu das escolas para mudar as regras e trazer um novo olhar (daí surgiram os futuros mestres Spielberg, Scorsese, Coppola e tantos outros). Hoje são clássicos e mainstream, quem sabe o ciclo não se repita nos próximos anos? Vamos aguardar e que 2012 nos aponte mudanças...

6 comentários:

  1. Realmente, Hollywood se copia o tempo todo. É só ver o Cidadão Kane e observar o que foi feito depois.
    Aguardar que o "mercado queira algo novo" é complicado, pois há muito dinheiro sendo investido e quem "dá" espera um retorno em dobro pelo menos, por isso, nada melhor do que o bom e velho clichê que dá sucesso garantido.
    Discordo de vc que Avatar foi um "último frescor". Acho que pode até ser no que diz respeito a uma tecnologia nova sendo empregada, porém o enredo é repleto de clichês do começo ao fim. Para não falar muito, o herói é um soldado americano que se integra a outra cultura salvando aquele povo... relembra outras coisas, não é?! Mas até gosto do filme...
    Por isso, acho que o caminho mesmo é ficar bastante atento ao cinema longe de Hollywood, onde tentam algo um pouco diferente, como, por exemplo, o coreano. Se limitar as mesmas fórmulas de sempre é foda!

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    1. Lucas, quando me referi ao Avatar é realmente sobre o frescor de novas possibilidades tecnológicas que auxiliem numa narrativa, concordo contigo que a trama do filme em si não é nenhuma novidade e já foi contada diversas vezes mesmo.

      Abraço!

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    2. Concordamos todos, então! :)
      Abraço!

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  2. Concordo que a temática de Avatar seja repetida. Quando você assiste Dança com Lobos, com Kevin Costner, presenciamos a mesma apelação. Contudo, não como negar que foi bem escrito e produzido com primor.

    Realmente, caro Wesley, o longa Cidadão Kane é um espetáculo e o Encouraçado, é um filmaço.

    Muita paz!

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    1. Cristiano,
      Escolher entre "Cidadão..." e o "Encouraçado" é uma tarefa ingrata. Acho que o clássico do Eisenstein fala mais direto ao público, apesar do trabalho de Orson Welles trazer tantas inovações que cada assistida é uma nova descoberta. Mas ainda tenho minha simpatia pelos russos apesar disso. rsrs

      Abraço!

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    2. Gosto bastante do Encouraçado por não ter um personagem central. Quer dizer, tem sim, a coletividade! Isto me parece inovador até hj, mesmo datado de 1925.

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