Considerações tardias sobre o Oscar 2012
2011 foi um ano fraco para o cinema e os indicados (principalmente os de melhor filme) refletiram este período morno e, com algumas pequenas exceções (Melancolia, A Árvore da Vida, Meia-Noite em Paris e A Pele Que Habito, Drive), esquecível. Poucos filmes empolgaram numa grande torcida. Os americanos preferiram O Artista e o saudosismo de uma antiga Hollywood foi determinante nas escolhas e na sua condição de favorito, além da maciça e sempre agressiva campanha dos Irmãos Weinstein, que distribuíram o filme em solo americano, após ele ter chamado a atenção no Festival de Cannes. Martin Scorsese também tem grandes fãs e seria uma boa opção, já que também faz uma reverente citação aos primórdios do cinema, relembrando a importância de Georges Méliès com seu A Invenção de Hugo Cabret (apesar de que causaria estranhamento vendo-o vencer por um filme infantil e não por um dos seus tão eficientes painéis urbanos que filmou como Taxi Driver e Os Bons Companheiros). Meia-Noite em Paris poderia valer-se do prestígio de Woody Allen, mas o baixinho nova yorkino parece que sempre vai receber o Oscar de roteiro original, e Os Descendentes aproveitaria a polarização entre Hugo e Artista e conseguir mais votos (no entanto não teve força nem para que George Clooney subisse ao palco e fizesse um discurso de agradecimento).
Há alguns anos que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tem feito escolhas que somente contribuíram para a perda de sua popularidade e a queda de audiência da cerimônia apresentada na televisão preocupa os organizadores. Troca de apresentadores, aumento da lista de indicados a melhor filme de 5 para até 10 também não foi suficiente para resgatar o interesse dos espectadores. Além disso, preterir o retrato de uma geração e as origens do Facebook de A Rede Social por O Discurso do Rei, o 3D inovador de Avatar por Guerra ao Terror (mesmo que com a consagração mais que bem-vinda de uma mulher na direção), a temática gay de O Segredo de Brokeback Mountain por Crash – No Limite, demonstra apenas uma opção por certo conservadorismo e academicismo no cinema, não condizendo com o gosto do grande público (não que este tenha que ser correspondido sempre, mas uma indicação a Batman – O Cavaleiro das Trevas nas principais categorias chamaria bastante atenção em 2009, por exemplo). A renovação deve acontecer também na cabeça de quem vota (recente pesquisa revelou que os votantes são em sua maioria homens, acima de 60 anos e que não trabalham mais na indústria) para não deixar passar em branco filmes que podem trazer um ar fresco na produção hollywoodiana para os próximos anos.
Realmente, Wesley, concordo contigo. Já há muitos anos que prefiro os indicados a melhor filme estrangeiro do que os a melhor filme. Assisto os filmes indicados porque são bons, não por achá-los os realmente "melhores".
ResponderExcluirEssa posição de Hollywood não é nada nova, um exemplo interessante é que em 1981, Touro Indomável perdeu o prêmio para o esquecível Gente como a Gente, dirigido por Robert Redford... Quem quiser que prefira o segundo, mas para mim, não dá para negar a superioridade do primeiro.
Lucas,
Excluirdiga-se de passagem, Gente como a gente, para mim, chega a ser medíocre. A atuação do De Niro superava qualquer cena.
Já comentei isso no outro espaço do Wesley, não entra na minha cabeça, um longa como o Ávore da vida, sair do evento sem nada na mão. Reconheço que possa haver alguma pendenga com relação à Melancolia, pois Las Von trier, é preterido por sua postura polêmica, no entanto não vejo motivo para com o longa do Mallick?
Mas, bem como o Wesley disse, o festival tem dessas coisas...
É verdade. Crsitiano. Gostei bastante do filme de Mallick. Além duma narrativa bem original, em minha modesta opinião, e levava também uma fotografia inegavelmente esplendorosa. Mas há muito tempo que penso que o cinema norte-americano continua demasiadamente careta para perceber que as inovações são boas, que mudar pode ser legal.
ExcluirConcordo com todos vocês, Cristiano, Lucas e Carrancaman.
ExcluirQuanto a Touro Indomável, sem comentários, poderia ter sido o primeiro Oscar do mestre Scorsese, um filme tão poderoso que permanece no nosso imaginário enquanto Gente Como a Gente, estreia na direção do Robert Redford sequer é lembrado num retrospecto. Scorsese ainda amargaria uma derrota para outra incursão de um outro ator na direção, em 1991, seu Os Bons Companheiros perderia o prêmio de melhor filme para Kevin Costner e seu Dança Com Lobos. Infelizmente Scorsese teve que aguardar Os Infiltrados para finalmente ser lembrado, vai entender né?
Abraço a todos!
Wesley,
ResponderExcluirSou cinéfilo mas raramente escrevo sobre filmes, porque existe gente como você que tem o dom, que escreve bem e com competência. Gostei dessa sinopse sobre o Oscar e concordo com tudo, parabéns. Se quiser dar uma olhada no meu blogue www.jairclopes.blogspot.com publiquei no dia 11/01/2012 o texto "Filme: O ovo da serpente" que é meu olhar sobre esse filme de Bergman. Abraços marcianos, JAIR.
Jair,
ExcluirJá tinha lido o seu post sobre o filme O Ovo da Serpente, deixei minha opinião, mas por algum motivo o comentário não foi publicado. Ótimas observações sobre este trabalho do incrível Ingmar Bergman (cuja filmografia simplesmente admiro bastante, Gritos e Sussurros e Persona está entre os que mais gosto dele, além de outros clássicos dele, claro), ainda não assisti este Ovo da Serpente, mas seu texto e suas reflexões sobre o nazismo me despertaram a curiosidade.
Abraço!
Wesley
Isso só me faz pensar uma coisa - estou bastante desatualizado do cinema!
ResponderExcluirMeryl Streep voltou a vencer finalmente? Legal! Aquela mulher é demais, não tem um filme onde ela atua mal.
Abraço.
Isso mesmo, Fábio!
ExcluirMeryl Streep ganhou o Oscar de atriz por A Dama de Ferro. Faz tanto tempo que ela vem sendo indicada e não ganha que a gente até leva um susto quando ela finalmente recebe seu terceiro Oscar.
Uma excelente atriz que rouba a cena em qualquer aparição que faz num filme.
Abraço.