Viajantes Interplanetários

sexta-feira, 16 de março de 2012

É NODA! — #02

POR UMA METAPOESIA MAIS INTELIGENTE (OU MAIS INERENTE)
“Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais”
(Manuel Bandeira)

Já que estamos no único blog interplanetário das Américas, e, portanto, conectados à internet, nada nos custa utilizar a melhor ferramenta de coleta de dados pessoais — digo, de buscas — da rede para melhor nortear as próximas linhas. Pois bem, utilizando-se do buscador, logo na primeira página de pesquisa encontraremos que metapoesia é a poesia enquanto poesia. Tudo bem, tranquilo, concordo. Com o conceito em mente, que tal agora parar e pensar nos seus usos e abusos?
Cresci lendo um perito no assunto: João Cabral de Melo Neto, e não demorou muito fui parar nos versos do Alberto da Cunha Melo. Antes mesmo de parar para pensar no que Cabral queria dizer com “Poesia te escrevia: / flor! conhecendo / que és fezes. Fezes / como qualquer” ou ver Alberto realizar a sua Oração pelo poema. Achava interessantíssimo o modo como ambos tratavam a poesia quando não faziam nenhuma menção à própria. Estava tudo tão inerente para mim que seria um pleonasmo pensar nesses pernambucanos escrevendo metapoemas.
Acredito que nos poetas há uma constante preocupação com o exercício de escrever e que essa preocupação pode e deve ser engessada a qualquer tema imaginável. Ora, para quê raios o leitor precisa saber que escrever um poema é assim ou assado para um poeta? Penso que a metapoesia pode ser incorporada de uma maneira muito mais próxima do leitor, de modo que os universos do transmissor e do receptor se encontrem em um objeto comum. Fazer uma metapoesia voltada para os trejeitos e artimanhas de quem escreve serve apenas para engrossar a triste estatística — sem base numérica nenhuma, a não ser nas minhas pretensiosas observações — de que o maior público dos poetas são os próprios poetas.
Não sou dos que escrevem para póstumos, não tenho medo de sofrer a contestação dos vivos. Sei que é o leitor a parte mais importante da recepção do poema e ele quem determina a qualidade da obra, mas o poeta não deve se eximir da sua responsabilidade ao escrever. Sei, também, que voluntariamente, ou não, há poetas capazes de por em prática, sem pedância, as suas agonias para quaisquer públicos.

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Fred Caju responde pelas suas próprias opiniões, que não estão necessariamente em unanimidade com a equipe do blog, que preza pela livre iniciativa de seus colaboradores.
     

11 comentários:

  1. Essa discussão já rolou aqui em casa, muito válida!

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  2. Fred,
    Excelente, você desnudou um esquema que rotula cada escrita (pode ser prosa também) como isso ou aquilo, você cutucou naqueles acham mais importante o rótulo que o conteúdo. Concordo que ninguém precisa ter um estilo ou pertencer a esta ou àquela escola, cada um deve "colocar no papel" sua maneira de ver e interpretar o que vê, não há mistério. Quero lembrar que o peso de suas palavras são ponderáveis, pois sua produção poética é marcante e de boa qualidade. Abraços, JAIR.

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    1. Jair, esta questão de rótulo e conteúdo, antecipo que já está arrolada para entrar na coluna em um futuro próximo.

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  3. Cajuíno amigo,

    Concordo contigo! O leitor, alvo da mensagem implícita ou não do poema,não tem de ser um especialista para compreender os versos ou ideias concretas dele. Essa sua segunda Noda(e pelo que vejo todas tem o mesmo objetivo) vai de encontro ao pedantismo típico do ser humano.

    Bem posto!

    P.S.:O poeta é livre para que meta poesia onde quiser!

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  4. Sei lá, nunca me preocupei muito com isso. Também nem me considero poeta, então...

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  5. Penso o seguinte:
    O Rótulo pode ser/ter conteúdo! Diriam os concretistas.
    Existe coisa mais multiforme que a poesia?
    Quem é poeta?
    E quem não é?
    poesia não precisa, necessariamente, ser aceita!
    Precisa de uma gestação e uma parteira para fazê-lo sair das entranhas da matéria-mãe.
    Alguns filhos, são meros resquícios semânticos, mutações genéticas que não soam bem na língua. Ficam esquecidos num canto. Um dia morrem de silêncio, ou de frio...
    Outros, são epopeias de vida longa...
    Saudáveis e barulhentos, bombardeiam o conforto do leitor...

    Não importa o estilo!
    O que vale é que estão por aí. Isso, para mim, é um deleite indescritível...
    Saber que existem mães dispostas a parir seus filhos pelo simples prazer de multiplicar o pensamento/delírio que lhe foi concebido no êxtase do desejo.

    Tudo pode ter serventia. Depende só do ponto de vista...

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    1. Levanto a bandeira que rótulo é conteúdo, e concordo com suas colocações. Apenas acredito que uma boa metapoesia é aquele que é sem nem parecer ser. Por exemplo, alguém afirmam em um poema "escrevo em verso livre" parece estar subestimando o leitor, como se ele não fosse capaz nem de perceber o que está lendo. Minha condenação é quanto a metapoesia plenonástica. Muito bom teu comentário moça, grato pela participação.

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  6. "a poesia não gosta que falem de poesia" - creio que a arte deve expressar sempre algo além e representar sua "técnica" na arte é mediocriza-la. É como se o making of fosse mais importante que o filme, então coloquemos fogo na pelicula principal e vamos colocar os bastidores para contemplação.

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    1. É como se o making of fosse mais importante que o filme. Você falou o que eu não tive competência pra fazer, Lisa.

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