Viajantes Interplanetários

terça-feira, 6 de março de 2012

Peixe Preso Dentro do Vento


Tu perguntas
o que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe.
E por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
'Quem as algas apertam em seu abraço...', perguntas
'mais firme que uma hora e um mar certos?' Eu sei.
Perguntas sobre a presa branca do narval
e eu respondo contando como o unicórnio do mar,
arpado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador
que vibram nas puras primaveras dos mares do sul.
Quero te contar que o oceano sabe isto:
que a vida, em seus estojos de jóias,
é infinita como a areia incontável, pura;
e o tempo, entre uvas cor de sangue
tornou a pedra dura e lisa encheu a água-viva de luz,
desfez o seu nó, soltou seus fios musicais
de uma cornicópia feita de infinita madrepérola.
Sou só a rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão
e de dedos habituados à longitude
do tímido globo de uma laranja.
Caminho como tu, investigando a estrela sem fim
e em minha rede, durante a noite, acordo nu.
A única coisa capturada é um peixe preso dentro do vento.

Pablo Neruda (1904-1973)

9 comentários:

  1. Cristiano, um beijo pra ti.
    "Caminho como tu, investigando a estrela seM fiM...*
    O sofrimento tambéM não te fiM?
    Muito bonito!
    bjuss
    Mery*

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    1. O Neruda é muito bom! Quero ainda ler mais sobre ele!

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  2. "Estrelas sem fim"
    Confesso que nunca li
    Coisa bela assim.

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  3. Eis aí um senhor exercício para a imaginação do leitor.

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    1. Tem coisas do Neruda que são inimagináveis!

      Valeu, cajuíno amigo!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Aos que leram o poema do Neruda e se agradaram dele, aconselho a assistir o longa-metragem Ponto de Mutação, do Fritjof Capra

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