POR:
Um artigo de Stuart P. Green no New York Times (http://nyti.ms/KmnlTw) aborda a questão do
download não-autorizado de músicas, filmes e livros do ponto de vista do tipo
de transgressão que isso constitui. Para
Green, não se trata de furto ou roubo, e esta é a questão crucial. É um problema de nomenclatura, nada mais, mas
dentro do nosso sistema jurídico, e do nosso sistema informal de valores e
conceitos, o nome com que tratamos uma ação influencia e direciona nosso exame
e nossas decisões futuras. Se já
começamos uma discussão dizendo que a ação tal ou tal é um roubo, vai ser
difícil propor, depois, uma maneira de legalizar ou organizar o modo como isso vai
ser feito, já que é um “roubo”, uma palavra condenada de antemão.
Dois aspectos são importantes: 1) ao contrário do roubo, o
download não priva o proprietário original de um objeto único que ele possuía e
não possui mais; trata-se apenas do ato de copiar o objeto e levar a cópia para
si; 2) são poucas as pessoas, entre as que fazem essas cópias, que se dariam o
trabalho (ou teriam o dinheiro) de comprar o objeto original que o
“proprietário” supostamente está oferecendo à venda. Se as cópias se multiplicam gratuitamente,
deve existir alguma maneira de usar essa multiplicação para gerar um pequeno
resíduo de renda que, acumulado e multiplicado por milhões ou bilhões, crie um
bolo a ser repartido entre os produtores dos objetos culturais. Ao invés de cobrar 20 reais por disco e vender
milhares, cobrar 1 centavo e vender milhões.
Ou cobrar um imposto único e redistribuí-lo, proporcionalmente à
contribuição de cada produtor cultural.
Nosso conceito de comércio cultural (livros, filmes, discos)
foi criado em torno da idéia de que: 1) é caro e trabalhoso copiar uma obra; 2)
quem tem essa despesa e esse trabalho precisa ser recompensado por isso; 3)
essa recompensa geralmente se dá através do direito de explorar comercialmente
essas cópias escassas e preciosas. No
momento em que o item 1 perdeu o sentido, o resto começa a perder o sentido
também. Precisamos agora achar um novo
conceito de comércio, baseado na idéia de que é facílimo e gratuito reproduzir
cópias de livros, filmes e músicas. Há um
oceano de cópias sendo trocadas, oferecidas e aproveitadas gratuitamente, e não
adianta considerar isso um roubo, porque daqui a alguns anos vamos chegar a uma
sociedade onde, como a Itaguaí de O Alienista de Machado de Assis, 99% da
população estará presa e somente 1% nas
ruas. Quando a vida real, avaliada por
um conceito, mostra 1% de regra e 99% de exceção, um dos dois precisa ser
substituído. É mais sensato substituir o conceito.
*Originalmente postado no blog: http://mundofantasmo.blogspot.com.br/
Muito bom! 99% no Castanha Mecânica!
ResponderExcluirO Braulio toca no ponto certo: cobrar um imposto único e redistribuí-lo, proporcionalmente à contribuição de cada produtor cultural. A ausência de uma política cultural de ESTADO é foda, a dependência de GOVERNO é foda. Em breve vou colocar uma crônica fuderosa do tio Lara por aqui. Esse é um debate que não pode deixar de acontecer.
ResponderExcluirQUERO LIVRO BARATO, DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÃO E SORRISO NO ROSTO DO LEITOR, DO ESCRITOR E DOS ÁGUAS DESTILADA DO GOVERNO QUE SÓ PENSÃO NO REAL. TIVE QUE TRAZER ESSE TEXTO PRA CÁ.
ResponderExcluirO que realmente interessa na nova era da informação instantânea não é se seremos (nós, a sociedade) capazes de compensar a criação, compensar o criador, compensar a criatividade, mas é se é desejável
ResponderExcluire possível continuar criando sem remuneração correspondente. O verdadeiro artista cria "arte pela arte", não está preocupado se de sua obra resultará alguma remuneração. Van Gogh não viveu de sua arte e hoje é considerado um dos maiores pintores que a humanidade já produziu. Não sou artista, mas tudo que eu criar está a disposição do público, nada quero receber por isso.
Camarada Jair, também acredito na arte pela arte só que o artista muitas vezes precisa de fundos para que a coisa engrene, não se publica livros que poderão atingir a todas as camadas da sociedade sem que se tenha um gasto. Para tanto concordo com o Braúlio quando ele fala em mexer no preço do produto, já que com ajuda das tecnologias é possível alcançar um procura maior para o que se oferta, no meu caso informação literária. Hoje temos vários exemplos bacanas de mudar esse quadro de discos que custam rios de grana, assim como livros. As pessoas baixam os discos e/ou ebooks e o artista/escritor/músico fatura algumas moedas que no final além da divulgação ainda ajudará a vender a parte física do material. A Web Social é uma grande jogada de mestre para quem sabe lhe dá com as tecnologias ou não tem medo de se arriscar e navegar.
ResponderExcluirUm sábio amigo me disse: dê tempo livre e livre-o da preocupação com as contas (opcional: tempere com maconha a gosto) que logo sai do forno um bom artista.
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk quem é o dono dessa receita: kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirUm tal de Ednaldo.
Excluir