POBRÁS
(Poesia Brasileira, Pobreza
Brasileira)
orgulhosamente apresenta
um produto
que vai pro lixo:
os poetas
Nicolas Behr
Aloha! :D
Faz algum tempo que o MilkShake
saiu do cardápio aos sábados... mas um bom filho sempre a casa torna, então
vamos degustar! E como entrada, nada como recorrer a um bom e velho prato
típico da casa: A Poesia Marginal.
Li recentemente 26 Poetas Hoje, antologia organizada
por Heloisa Buarque de Holanda. Foram escolhidos poemas de 26 poetas marginais
onde o hoje é datado em 1976. Alguns
poetas já tiveram presença carimbada aqui em nossa terra marciana, como Chacal
e Torquato Neto. Outros foram pura novidade para mim e foi um prazer imenso
descobrir estes poetas e seus poemas “subversivos”.
E em puro clima de ousadia,
afirmo que Heloisa foi mais além do que publicar o que as grandes editoras e os
críticos estavam a rejeitar. Embora os poetas não estivessem enormemente
preocupados com o nariz arrebitado das editoras, desde que entre o público houvesse boa
aceitação. Então o que se via eram poemas mimeografados e distribuídos em forma
de livretos, gratuitamente.
O livro fez história justamente
por ir contra o sistema vigente (pleno período de ditadura militar, AI5) e divulgar
os poemas que inspiravam rebelião e inconformismo. De acordo com Calegari, os
poetas marginais procuraram se afastar dos consagrados textos poéticos e
procuravam falar da vida imediata, numa
linguagem informal, em que o humor e a gíria encontravam espaço. Discorriam
sobre amor, sexo, drogas, política, vida familiar. Suas fontes eram as mais
variadas: do modernismo à vanguarda concretista, passando pela tropicália. (2010,
p.3).
Heloisa cercada por esses
poetas tinha munição de sobra para organizar esta antologia e foi o que fez,
com a ajuda de Cacaso e Chico Alvim. Separei alguns poemas que gostei para
postar aqui, escolhi os menores por causa do espaço. Confiram:
AQUELA TARDE
Disseram-me que ele morrera na véspera.
Fora preso, torturado. Morreu no Hospital do Exército.
O enterro seria naquela tarde.
(Um padre escolheu um lugar de tribuno.
Parecia que ia falar. Não falou.
A mãe e a irmã choravam.)
Disseram-me que ele morrera na véspera.
Fora preso, torturado. Morreu no Hospital do Exército.
O enterro seria naquela tarde.
(Um padre escolheu um lugar de tribuno.
Parecia que ia falar. Não falou.
A mãe e a irmã choravam.)
Francisco Alvim
SHEN HSIU
Havia um monje
Que lustrava a careca
Para que sua cabeça
Fosse como se um espelho:
Refletisse tudo
E não guardasse nada.
Havia um monje
Que lustrava a careca
Para que sua cabeça
Fosse como se um espelho:
Refletisse tudo
E não guardasse nada.
Carlos
Saldanha
A VERDADEIRA VERSÃO
O medo maior que tenho é de faltar
minha imagem
em teus projetos futuros.
Por isso só te conjugo no pretérito passado.
O medo maior que tenho é de faltar
minha imagem
em teus projetos futuros.
Por isso só te conjugo no pretérito passado.
Antonio Carlos de Brito
Cansados da longa e absurda história
Resolvemos num ímpeto despedirmo-nos
/Calma coração
A poesia reclama paciência/
João
Carlos Pádua
MEU AMOR DE SOSLAIO
Faz tanto calor no Rio de janeiro
que é bom sentir essa neve
partir de seu olhar
Luiz Olavo Fontes
&
O fio do sonho é apenas um cabelo.
Mas se ele pinta na cabeça
é bom deixá-lo crescer.
Eudoro Augusto
Quem diante do amor
ousa falar do Inferno?
Quem diante do Inferno
ousa falar do Amor?
Ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama de Baudelaire
Isabel Câmara
uma
palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma
palavra maldita é uma palavra
gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa
Chacal
nunca viajei de avião
mas muitas vezes estive no ar
um desinteresse marcante
uma marcação latente
uma dor de dente
uma paixão fulminante
Charles
Tenho certeza que alguns desses
poetas foram/são inspiração para muitos ainda hoje. Por isso mesmo o título
nunca deixará de ser atual.
E
Em tempos de Castanha Mecânica,
Heloisa disponibilizou em seu site a Antologia! Divirtam-se aqui.
Mahalo:*
@Lycintra
CALEGARI,
Lizandro Carlos. Notas sobre a poesia marginal brasileira. Revista Litteris, Rio de Janeiro, n.4, mar. 2010. Disponível em: <http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/notassobreapoesia.pdf>
Acesso em: 5 jul. 2012.
Imagem: Site - Heloisa Buarque Holanda -
Bela postagem, prezada Ly!
ResponderExcluirOlha aí, Sr.fred Caju! O poeta Chacal que você tanto curte!
O batalhão inteiro eu gosto. É muito estranho ver o nome verdadeiro do Cacaso em um poema...
ExcluirAntônio Carlos de Brito
ExcluirObrigada Cristiano :D
ExcluirGrande Abraço!
P.S: Eu coloquei o nome completo, porque é assim que ele assina na coletânea.
Mandou bem demais, Ialy. E a referência ao Castanha Mecânica muito me honrou.
ResponderExcluirValeu Caju *-*
ExcluirO prazer é meu, sempre.
Sucesso com o projeto!
:*
Esse poema do Chacal me lembra um canção de Caetano
ResponderExcluirUma talvez Júlia
Uma talvez Júlia não
Uma talvez Júlia não tem
Uma talvez Júlia não tem nada
Uma talvez Júlia não tem nada a ver
Uma talvez Júlia não tem nada a ver com
Uma talvez Júlia não tem nada a ver com isso
Uma Jú________lia
Um quiçá Moreno
Um quiçá Moreno nem
Um quiçá Moreno nem vai
Um quiçá Moreno nem vai querer
Um quiçá Moreno nem vai querer saber
Um quiçá Moreno nem vai querer saber qual era
Um Moreno
esse nunca vi, massa!
ExcluirIaly!
ResponderExcluirAdorei o post.
Posso não ter nenhum graande conhecimento em poesia, mas o que mais gosto na poesia marginal são exatamente o humor e a linguagem mais informal.
Os poemas que você escolheu já me deixaram com vontede de ler os outros, vou correndo baixar o livro. Mais um pra minha interminável lista de leituras. hehehe
Ah! E vê se volta a postar mais vezes por aqui, eu já estava achando que você tinha abandonado sua coluna no Poetas de Marte.
^_^
Anaaa :D
ExcluirQue bom ver você por aqui também!
Fico feliz que tenha gostado. Eu também não sou Expert no assunto, deixo isso para os caros poetas marginais que habitam nosso planeta vermelho... Mas sou curiosa :) Acho que isso já basta para dar meu pitaco no MilkShake.
Nossa interminável lista SEMPRE, kkkkkkkkk!
Você não vai se arrepender. É uma leitura muito gostosa e reflexiva.
Abandonar o Milk? Jamais!
Pode deixar, anotei o recado.
Obrigada por ter vindo, beijocas.
Voltou atirando a genial poesia marginal =]
ResponderExcluirgotei mais de:
SHEN HSIU
Havia um monje
Que lustrava a careca
Para que sua cabeça
Fosse como se um espelho:
Refletisse tudo
E não guardasse nada.
Carlos Saldanha
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirAchei que não tinha um melhor jeito de retornar Dan. Eu te disse que esse dia chegaria não foi?
Ahhh, eu gostei de tantos, tantos *-*
Abri um arquivo no word e saí colocando os preferidos lá. Pena que não dá pra colar aqui, hahaha.
Mas o link tá aí! Leiam e me contem os seus preferidos.
:*