Viajantes Interplanetários

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CONFRONTOS E CONFLUÊNCIAS

Acabou, mas tem. Pois é, ainda não considero que a coluna Confrontos e Confluências está de volta à ativa. Prefiro considerá-la como à disposição de um novo colaborador para que outro sangue circule por aqui. Para além do bem e do mal, cá estou atualizando-a. Às vezes o interruptor liga acidentalmente e não tem jeito. Foi o caso hoje: a luz acendeu e por aqui estamos. Dois craques para hoje com a grande matéria-prima da literatura: a palavra.


A PALAVRA

é uma roupa que a gente veste
uns gostam de palavras curtas
outros usam roupa em excesso
existem os que jogam palavra fora
pior são os que usam em desalinho 
cores brigando, substantivos em luta
alguns usam palavras raras
poucos ostentam palavras caras
tem quem nunca troca
tem quem usa a dos outros
a maioria não sabe o que veste
alguns sabem e fingem que não
uns nunca usam a roupa certa pra ocasião 
tem os que se ajeitam bem com poucas peças
outros se enrolam em um vocabulário de muitas
eu adoro usar palavra limpa
tem gente que estraga tudo que usa
com quais palavras você se despe?


Viviane Mosé – http://www.vivianemose.com.br/



VESTIR O QUE ESCREVE

Quando leio o texto de alguém: um poema, um conto, um romance. De relance, observo a pessoa. O jeito de o autor se vestir. Os óculos, se tem. Que tipo de calça, colar, sandália. E pergunto: você vestiria isso o que você escreve? O poeta estranha. O romancista não entende a pergunta. Eu explico: Jorge Amado vestia o que escrevia. Wally Salomão levava à poesia o seu jeitão. Roberto Piva vestia – e se despia – com suas palavras. Aí indago, mais demorado: você seria capaz de sair à rua com o que escreve? Alguns jovens usam em demasia conjunções. Expressões pesadas. Acessórios diferentes de si. Penduricalhos do tipo: não obstante, doravante, no entanto. Você iria com isto ao banco, a uma festa, a uma praça? Sairia de casa enfeitado de adjetivos metidos, excesso de advérbios? Hein? É preciso pensar sobre isto na hora de escrever. Escrever é ser. É encontrar seu jeito de estar no mundo. Seu repertório. Seu estilo. Sua alma vestida. Não importa se feia ou se bonita. Escolha desde já a costura. Aquela sob medida. Com que você vestirá, afinal, a sua literatura.


     

8 comentários:

  1. Bom demais!!!!

    Visto-me com palavras rotas, desgastadas de tanto remoerem em minha cabeça!

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  2. Que legal. Nunca pensei assim. Posso dizer que em algumas ocasiões, me visto o que escrevo. Mas às vezes quero me despir de tudo que escrevo ou tento escrever.

    []s

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Limerique

    Diz o poeta, a palavra é roupa.
    Mas muita gente se faz mouca
    Seus textos andam de fraque
    Na palavra se acham craques
    Entretanto eu ando só de touca.

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    1. Nu, enciclopédico amigo, andam eles, tal como a lenda do rei que vestia a roupa inexistente que só os inteligentes daquele burgo podiam ver!

      Tu andas na mais alinhada vestimenta de palavras e orações bem expressadas!!!!!

      OBS.:Não é rasgação de seda. É admiração sincera pelo amigo!!!

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  5. Certeiro! Não me visto do que escrevo, já que o que escrevo cobre-me a pele e as vísceras.

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