"Hoje,
eu vou chorar", dizia com pleno entendimento dos seus sentimentos aos
quase quatro anos de idade. O carro havia estacionado no posto de saúde, seus
pais se surpreenderam com a frase. Não sabia o que era asma ou tratamento, mas
tinha a certeza de que não gostava de injeção. Uma por semana. Normalmente, pai
e mãe diziam-lhe que não doía, mas hoje ele estava experiente. "Mas porque
vai chorar? Você é tão forte! Semana passada você nem chorou. Depois, a gente
sai e toma um picolé.", disse mãe. Reforçou desafiadoramente: "Hoje,
eu vou chorar!", convicto de seus ideais. Desceu do carro e caminhou de
mãos dadas entre os pais. Mãe tentava demovê-lo. "É só uma picadinha de
formiguinha, não dói". Nada falava. Ao chegar perto, viu a fila com outras
crianças, o posto parecia estar mais cheio do que de costume. Algumas até brincavam
e riam em sua ignorância (ou coragem, não sabia), outras choravam assim que saiam
da sala maldita, a qual todos aguardavam entrar. Pobres coitados! Sentiu-se
apreensivo e pediu para ficar no colo. Mãe não lhe recusou e continuou sua
ladainha. Ele estava impassível naquele dia, e não dava atenção ao que mãe lhe
dizia. Era todo apreensão, atento e torcendo para que nunca chegasse a sua vez,
mas no fundo sabia: era inevitável. Ouviu a moça de branco chamar-lhes:
"Mãe, é a vez de vocês", apontando-lhes o dedo. "É a de
asma", disse mãe ao entrar na sala. E, logo, comentou com a outra moça de
branco, como quem contava uma anedota: "Ele disse que hoje vai chorar".
A moça riu e falou: "Vai nada, esse menino corajoso, é só uma picadinha de
formiguinha". Respondeu: "Dói sim.", dando a seriedade merecida
ao momento. Logo, ela escondeu o riso com a máscara branca, e tirou sua agulha
de um isopor, com o vidrinho. Puxando o líquido da ampola, pediu que lhe mostrasse
o braço. Ele não se recusou, senão ajudou. Levantou a camisa com pesar e olhos
fixos nos olhos de seu carrasco. Logo, sentiu o ferrão do escorpião perfurando
sua pele, o veneno gelado e ardido adentrando seu corpo. Deu um grito fino e
derramou duas lágrimas. Olhou para todos, e logo, voltou o rosto para mãe e
disse de modo provocador, com uma voz cheia de tristeza: "chorei".
Diz logo aí Lula que vc tem medo de injeção kkkkkkkk
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