Viajantes Interplanetários

sábado, 15 de dezembro de 2012

Cinemarte, por Wesley Moreira de Andrade




Antigamente, o paraíso para mim era a Mega Vídeo Locadora no bairro em que eu morava (oh saudades de São Miguel Paulista) que vez sim ou não eu frequentava para escolher os filmes para ver em casa. Os tempos eram de vacas magras, então não era possível alugar além de um filme. Em épocas de “milagre econômico” me permitia ao luxo do aluguel de dois vídeos ou mais. O problema era escolher um filme entre tantos. Levar aquele lançamento que estava muito a fim de assistir ou o clássico que todo viciado em filme tinha de prestigiar? Dúvida cruel... 

Um dos momentos mais legais da minha adolescência foi o dia em que meu pai chegou em casa e disse que fez um cadastro na videolocadora no meu nome, o que significava liberdade para escolher o que quisesse e também de não depender de ninguém para ir ao estabelecimento junto comigo. Nos meus primeiros dias de associado tentava alugar um filme para que todos em casa pudessem assistir juntos, o que nunca dava certo, pois ninguém gostava do que viam (ou porque era muito lento ou não tinha cenas de ação ou luta ou explosão). Como nunca acertava o gosto dos meus familiares, passei a ser mais egoísta em minhas escolhas e pegar os filmes de minha preferência, pelo menos alguém sairia satisfeito nesta história toda. 


Certo dia, estava eu com a minha mãe e decidi alugar ...E o Vento Levou. A balconista local, ao olhar o título clássico estrelado pela Vivien Leigh e o Clark Gable, me questionou indignada: “Você vai assistir isto?” ("isto" como se fosse uma porcaria, como se todo filme antigo fosse ruim). “Sim”, respondi lacônico, e sem maiores aberturas para qualquer outro comentário dela, e até com certo desprezo por ela não entender que levava para casa um dos maiores filmes da história (em tempo de duração e importância), infelizmente até hoje a gente tem que lidar com a ignorância dos funcionários que sequer sabem o que estão fazendo no local de seu trabalho. Assisti ao filme junto com a minha mãe, que lembrava tê-lo visto na televisão quando ainda era adolescente. Foi uma das experiências cinematográficas (mesmo sendo na sala de casa e não no cinema) mais gostosas e agradáveis da minha vida, pois minha mãe revia um filme que a marcara muito e eu tinha contato pela primeira vez com o monumental filme de Victor Fleming (e de tantos outros diretores demitidos durante as filmagens).

Por mais que seja adepto do download e da aquisição do DVD (afinal adoro colecionar filmes, apesar do prejuízo financeiro que esta prática me causa), sinto falta daqueles tempos em que nós íamos às videolocadoras, encontrávamos algum vizinho ou colega da escola, recomendávamos alguns filmes, nos envergonhávamos pela pessoa que questionava se aquela nova fita do Steven Seagal já tinha sido devolvida ou questionava sobre aquele filme que ela não lembrava o nome ou quem era o ator principal e se recordava apenas de um fiapo de narrativa que não ajudava o funcionário a saber de qual trabalho esta pessoa se referia. Fora aquela curiosidade enorme de adentrar no seção de filmes pornográficos, além do prazer de voltar para a casa com a sacola plástica contendo ao menos uma das fitas de vídeo e o regozijo maior ainda de ver o filme no videocassete (ou anos depois no aparelho de DVD). 

Pena que a pirataria do DVD e até mesmo o download na Internet tenham acabado com esta saborosa prática que era feita quase que religiosamente nos fins de semana (muitos estabelecimentos deste ramo fecharam suas portas, viraram lan houses ou igrejas). Fica aqui minha tardia e saudosa homenagem aos donos de videolocadora que tanto alimentaram nossa fome cinematográfica e possibilitaram com que sonhássemos um pouco mais no conforto dos nossos lares. Sua contribuição para a manutenção da paixão pela sétima arte também foi importantíssima em nossas vidas.

4 comentários:

  1. Cinéfilo amigo, sinto falta das boas locadoras que disponibilizavam longas atuais e clássicos. Por conta desses estabelecimentos pude ver belíssimos filmes tais como os de Felinni e Akira. Bom texto!

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    1. Realmente, Cristiano!!!

      Bons tempos que não voltam mais, para quem não podia ir ao cinema sempre, a videolocadora era a salvação da lavoura.
      Um grande abraço!!!

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    2. Nem me fale camarada Marcell - foi na locadora que vi tudo ao meu alcance do genio Chaplin.

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  2. Religiosamente também pratiquei a mesma ação de ir a locadora por vários anos, ainda me lembro o dia que comprei um vídeo cassete de 10ª mão - nossa só durou 6 meses. O bicho mastigava tudo que era fita - ele adora comer os finais dos filmes. Ainda me lembro a primeira vez que assisti um filme no vídeo cassete de um amigo de escola - foi um dos dias mais legais da minha parca infâncias interiorana lá no fim do mundo hahahahha

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