Nasci numa pequena cidade de província no Nordeste de Portugal. Bragança é o nome da cidade.
Na época teria uns seis ou sete mil habitantes, mais uma população flutuante composta por estudantes que iam para lá estudar no Liceu ou na Escola Técnica.
Cidade de rigores climáticos, com Invernos muito frios e Verões curtos e quentes, de paisagens deslumbrantes e selvagens.
Tinha um ambiente social tacanho e medíocre, apenas beliscado pela irreverência da estudantada.
No início da minha juventude fui aceite num grupo de estudantes mais velhos. Era um grupo polivalente - meio gang, meio tertúlia - terreno fértil para darmos largas à nossa rebeldia inconsequente. Eu, como mais novo, era assim como que a mascote do grupo.
Discutíamos de tudo um pouco, mas tínhamos uma paixão em comum - a Poesia.
E quando era possível comprávamos livros de poesia, que iam passando pelos membros do grupo até regressar ao legítimo dono. Havia uma editora, a Editorial Presença que editava boa poesia e bons poetas. Foi através dessa editora e no seio desse grupo que tomei contacto pela primeira vez com poesia brasileira, na voz de Manuel Bandeira. Quando chegou a minha vez de ter por alguns dias o livro na minha posse para o ler, e depois apresentar as minhas impressões ao grupo, uma poesia impunha-se de forma avassaladora às demais: Parságada! Li e reli e voltei a ler. Nunca mais saiu de dentro de mim.
Que melhor remédio para jovens estudantes, numa pequena cidade de província, medíocre, tacanha, sem nada que merecesse a pena referir na área Cultural, poderia haver, como aquele proposto no poema de Bandeira? Foram muitas as vezes que me fui embora para Parságada, e nos rumos que a minha vida seguiu, ainda continuo, de quando em vez a ir-me embora para Parságada.
O tempo que se vive, capitalismo selvagem, tirania da Alta Finança Internacional dos grandes banqueiros que apenas pretendem trabalho escravo e que trabalhemos até morrer; onde mascarada pela quantidade volumosa e insana de informação que nos é proporcionada, existe apenas a propaganda e a mentira, que permitiram, por exemplo o egrégio crime cometido no Iraque, e depois na Líbia, e agora na Síria; a crise na velha Europa, onde povos inteiros são lançados na miséria, desemprego, forçados e emigrarem, para outros países, ou para o outro mundo, quando o suicídio é a única opção que resta.
No entanto ainda se ergue o poema de Bandeira: podermos sair do pesadelo, nem que seja por breves instantes e ir embora para Parságada, pelo menos enquanto a ira das pessoas não faz um novo poema - mudar esta ordem podre em que vivemos!
Uma vez mais, fica a poesia:
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Bela história, belo poema e boas influências =]]
ResponderExcluirSem dúvida que são boas influências poéticas D.Everson, disso não tenho dúvidas.
ExcluirBoa semana.
Abraço.