Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

EU QUERIA SER


a máquina de sucos centrífuga que a minha irmã comprou.
Ao invés da bailarina russa de asas nos pés e pentelhos ruivos,
a máquina
centrífuga
de sucos
fun­­­­­­­
kitchen
que a minha irmã comprou em dez prestações na Eletroshopping...

Ponha as frutas, qualquer fruta, qualquer coisa que renda sumo
e ela, a centrífuga, prontamente
esmaga
esmaga
e separa, caroços para o lado e líquido para o outro.
Eu disse,
e separa objetivamente o que quer do que não quer,
o que vai precisar do que não vai
bem-me-quer
mal-me quer
diploma
ou desbunde
especialização dentro
ou fora
torcer pra Holanda
ou Espanha
dar
ou
não
dar
saia lilás
ou lenço verde cor de cana
sessão de arte
ou besterol lado B
séria e comportada
ou divetida, tipo, sitcom

o que eu levo
o que eu descarto
o caroço da laranja
o bagaço
ou o precioso líquido amarelo vitaminado?

Sabem, senhores,
não me amolem, me deixem aqui
quieta.
Me deixem aqui pensando e decidindo por que sei que vou levar horas
ou uma vida inteira, talvez
fazendo isso...
enquanto ela, certeira, objetiva e aquariana, creio eu, bem na minha frente
ZÁS,
centrifugando prática e faceira os pepinos que lhes dão.

Odeio ela.


(Renata Santana)

4 comentários:

  1. Adora essa gateunha, ela deveria nos presentear mais com seus escritos =]]]]]]

    "Odeia ela" ao final do texto foi ótimo! hehehehehe

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  2. Eu queria ser um anjo com asas para poder voar até ti e te dar um beijinho de bom dia mas como isso não posso fazer,aqui ficam os meus votos de uma boa quarta-feira,tudo de bom para ti!! http://mafaldinhaarte.blogspot.pt

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  3. Limerique

    Era uma máquina que triturava
    Que obedecia a quem mandava
    Onde tudo virava sumo
    Para deleite e consumo
    Poeta brava: odeio essa escrava.

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