Viajantes Interplanetários

sexta-feira, 19 de julho de 2013

MEXENDO NA SUA RADIOLA

“Suite Pistache”




Definições como “Projeto paralelo” são invenções de qualquer um que não o músico ou o artista. A lógica que encerra de maneira pejorativa essa definição está mais ligada ao incentivo da repetição, do consumo de uma mesma estética e, sobretudo, pela manutenção de uma marca. Chamar um trabalho artístico de paralelo é como estar à margem das transformações culturais pelo que têm passado os artistas e músicos, mais recentemente. Os casos de Recife e São Paulo são apenas alguns dos exemplos de como essa lógica não tem mais sentido. Trabalhos como os do Metá Metá, Passo Torto, Marginals – e de alguns outros músicos situados em São Paulo – englobam uma infinidade de músicos e propostas estéticas que naturalmente soará contraditório escolher um desses como trabalho principal. Nesse caso, teríamos a mesma lógica de mercado da “música de trabalho”, que quase sempre restringia o álbum àquela canção escolhida. Dito isso, nos desfazemos de certas amarras conceituais para podermos comentar sobre o último lançamento de Felipe S. e André Édipo sob a alcunha de Trio Eterno.
O álbum Suite Pistache (2013) foi lançado pela Reco-Head Records em formato vinil e para download pago. As 10 faixas aproximam Olinda do Rio de Janeiro, seja pela participação dos músicos Domenico e Alberto Continentino, presentes na música que abre e dá nome ao disco, como no clima bossa nova fria ensolarada que ruidosamente está presente, principalmente, nos temas instrumentais. Enquanto “Suite Pistache” prepara o ambiente de um Rio cinzento, “Zarautz” retoma a uma espécie de Surf Music para a Praia del Chifre, em Olinda, com direito a intervenções de castanholas  no arranjo, provavelmente uma homenagem ao município da Espanha que dá nome à faixa.
Trio Eterno, “Zarautz” by URBe
Com Vicente Machado (bateria) e Zé Guilherme (baixo) acompanhando Felipe S. e André Édipo, o falso trio instrumental apresenta coesão na sonoridade das faixas que alternam temas instrumentais e com letra. “Saí Descalço”, parceria de Felipe com Cristiano Lenhardt (Artista Plástico), mantém o clima sol & mar e tem na construção da letra uma sequência onírica que funciona como um abre alas para a estética da banda. Não é à toa que essa faixa foi uma das primeiras a serem divulgadas pelos músicos. Como na estranheza dos versos “numa tarde joelho me desatei verdanho na tempestura / sutura o sol em três por onde em cedo em som / para um sonho em quando real imagem mental” que se encerra com a canção “desumbigando esquinas livres”, posteriormente às citações literárias de “neruda lenda quintana andando clarice lia / clarice lia pessoa amado”. Chave incomum de tratamento às letras de música, que em muito diferem das presentes nas próximas faixas, comumente ligadas a uma narrativa sentimental mais frequente, muitas vezes se aproximando – e se chocando – com o lugar comum.
Trio Eterno, “Saí Descalço” by URBe
Essa impressão clichê se desfaz na parceria de Felipe e Domenico, a faixa “Canudo” traz de volta a onda que permeia a estética do disco. Passa da morna melancolia da voz e versos “é só o sol sugando o sal do mar com seu canudo de luz” para a diversão sonora que consegue unir letra e música numa das melhores faixas do álbum.
Trio Eterno, “Canudo” by URBe
A experiência sonora que embala as canções do Trio Eterno é combustível vital para que a música de Felipe e André permaneça enriquecida pelo encontro que a música proporciona, não importando o “projeto” em pauta, mas a bem-vinda criação que renasce de cada encontro. De tal modo, torço para que o clima de Suite Pistache e dos shows que os músicos vêm fazendo contamine o ambiente dos próximos trabalhos deles.
download

 

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