Viajantes Interplanetários

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

FILOSOFANDO Á TOA 20



SOBRE SANTO ANTÃO DO EGITO.·.
Por: Rildo de Deus e Melo Júnior.

“Os historiadores nos deram ficções encantadoras em forma de fatos; o romancista moderno nos apresenta fatos fastidiosos sob o disfarce de ficção. E os filósofos continuam ficciosos em nossa pus-modernidade. Mesmo os que ainda juram que andam em busca do mito da verdade”. (Oscar Wilde / Célio limA)

            A lenda de Santo Antão do Egito é conhecida em todo o mundo. A lenda se popularizou na Europa na época da Idade das Trevas com a produção Medieval de Arte, Filosofia, e Literatura. A figura de Santo Antão tem uma representação Mística, e um tanto Esotérica. O Egito é o berço do misticismo, de referências filosóficas; Pitágoras, Platão, Alexandre Magno... Tem uma relação particular com a região do rio Nilo, os três reis Magos protegeram Jesus Cristo quando ele era recém-nascido, e no Egito Jesus Cristo foi educado. Rapidamente mencionando as referências da tradição judaica e da História do Esoterismo; temos como exemplo os profetas do deserto, Ordem que João Baptista vem a ser um dos remanescentes pregando a unção pelos elementos. A lenda diz que Santo Antão buscou retiro, espiritual e filosófico, no deserto e assim deu-se o início o processo de Antão em evolução intelectual e espiritual, e a Ordem dos Padres do Deserto, os Anacoretas. Nesse ambiente de miragens, Santo Antão passa por tentações. Satanás lhe provoca visões tenebrosas e sexuais.  
A ideia do retiro espiritual e filosófico é conhecida em muitas Histórias... Jesus Cristo passou pela aprovação no deserto, o mago Merlin depois de organizar a Távola Redonda e o reinado de rei Arthur sai em retiro para viver isolado em uma floresta, Friedrich Nietzsche em “Assim falou Zaratustra” escreve o retiro que Zaratustra faz na montanha. Enfim, nas primeiras passagens do livro “A vida de Santo Antão” de Santo Atanásio são apresentadas questões sobre a sexualidade, passagem que o filósofo menciona e trabalha questões a respeito da santidade, da loucura e da sexualidade como um conceito de Filosofia Medieval.  
Trazendo esse conceito para o Folclore brasileiro, levando ao âmbito do sincretismo religioso, tentando reconhecer os elementos que se correspondem: Na Jurema existem entidades, que também são conhecidas como “Diabo”. Chamo atenção aos desdobramentos que correspondem e muito se assemelham com as transformações de Satanás nas tentações de Santo Antão. As entidades são: Pomba-Gira que simboliza a sexualidade, beleza feminina; e o Tição que corresponde ao masculino, um negro viril que atiçou a paz de Antão no deserto. Essas representações do feminino e masculino (Tição e Pomba-gira) no imaginário folclórico das lendas de sincretismo religioso vêm claramente do imaginário Medieval sincretizado com muito paganismo e heresia. Passagens das tentações Santo Antão, muito próximas ao Folclore do Brasil não é um acaso. A influência da tradição cristã é muito presente (e passado), a Educação Cristã no Brasil foi devastadora e ainda é vivida nas escolas. Fazer associações da lenda de Santo Antão com desdobramentos do cristianismo para religiões pagãs e hereges, apresenta uma aproximação há um ambiente que alcança o Arquétipo, o inconsciente. Ou seja, dentro das lendas da Igreja Católica Apostólica Romana, há figuras de imaginário sobrenatural como Anjos, Demônios, Dragões, e o Espírito Santo, eles aparecem em diversas lendas. Por enquanto não proponho uma problematização quanto a existências dessas entidades, nem a questão do livre-arbítrio em relação aos anjos, homens, e Deus. Apresento semelhanças com a intenção de combater preconceito, intolerância e chamo atenção para desdobramentos do imaginário Folclórico brasileiro.
Acrescento a esse material um texto que publiquei como folheto em formato de Cordel e o manifesto que fala por si. No cordel de minha autoria conto passagens da lenda de Santo Antão e um pouco da História de minha Cidade natal Vitória de Santo Antão:


Esse texto nasceu de uma preocupação, para um ideal cultural e arte-político. Proponho ao mundo, com essa poesia, um novo jeito para nos referirmos à cidade Vitória de Santo Antão. Pois o uso desse nome pouco tem haver com a coerência histórica, e não contribui para com a tradição poética da Cidade. E há tradição de Poesia em Santo Antão - PE? Deveria haver e já houve, mas, não é lembrado nem ¼ dos nomes e textos dos poetas que nessa cidade viveram, escreveram e se encantaram. Pouco se sabe sobre os encantados de Santo Antão da Mata; que poetizavam no passado e junto aos poetas de Palmares dividiam o cenário da poesia pernambucana da Mata Norte e Sul, na década de 1920. Esteja certo, antes de 20 e do século XX, houve poeta por esses lados de Pernambuco. Pois, onde há língua tem poesia, já que “língua” é um órgão sexual usado erroneamente pra falar; poesia dita é coito bucal, felação ou relação oral. Poesia também é história feita, folclore, magia.
Sou poeta, de Santo Antão da Mata ou Santo Antão do Egito. É assim que me refiro. Percebo que as autoridades de Vitória de Santo Antão, principalmente: políticos e padres. Pouco se preocuparam em manter e menos ajudaram a preservar nossa ancestralidade, ou identidade municipal. Lembram-se do Teatro Iracema? A casa de Osman Lins, você sabe onde está que fim levou, ou quem foi Osman Lins? Poeta Vamberto de Deus; O Poeta Dílson Lira, alguém sabe onde encontrar textos deles? Preciso dizer: - Nunca houve Vitória em batalhas de guerra, é blasfêmia dizer “Vitória” de Santo Antão! Santo Antão venceu demônios no deserto, e faz tempo. Já havia se encantado quando os portugueses usaram nossos ancestrais para servirem de escudo humano na luta contra os holandeses. Não preciso filosofar sobre intervenção divina em batalhas, isso está fora de moda. Mas, na reza antes da batalha das Tabocas, o Capitão se apegou com a Santa e um Santo, e só pra constar, em Guararapes a batalha foi maior. Contudo, o arsenal de Deus luta contra dragões e gárgulas. A santa se santo Antão não trariam munição e pólvora para uma tropa de guerra. Santo Antão viveu lutas mais assustadoras que os tiros, enfim, viveu lutas com o Gênio Maligno.
Os holandeses fariam, e fizeram, muito mais pela arquitetura e urbanismo de Recife - PE do que os portugueses deixaram, e além de tudo está ao esquecimento abrigando grilos, ratos e morcegos. Mas, falando em portugueses, foi um deles que nos trouxe Santo Antão. E então, caros amigos: - Viva a MUDANÇA. Pois o eterno deus Mu, dança. Rasguem esses livros pedantes e recontemos a História de Santo Antão da Mata.



Poeta
Vou lhe dizer
A história de amor
Que andei de viver
Zé Limeira canta'dor
Septilha é rara flor
Estudei Filosomia pra poder escrever

De sete em sete evoco o Hépto
Esse cordel tem general
Tem santo Antão no deserto
e as bestas fugiu do curral
Vieram tantos demônios
Carrancas, gárgulas, febrônios
Tanto enxofre que santo Antão passou mal

E meu amor veio correndo
Estrondo do raio mouco
Ladeira a baixo descendo
Pentágono na testa; é pouco?
O zodíaco dela é um boi
Vou te dizer como foi
que santo Antão ficou louca

Na cabeça dela uma Estrêla
Anote é Aldebarã
Nesse dia a Lua ficou amarela
E com ela a(s)cendeu Guriatã
Estrêla sem constelação
Sodomia, autofelação
Luz que alumia de manhã

Proteção contra bicho brabo
Testada, carimba a Estrêla, garrote
Porca preta
cascavel não da bote
Bruxo na Paraíba
Cancão, caraíba
Pelo Tejo passou esse mote

Santo Antão no deserto
Meditando para obra de Cristo
Eremita do fogo, como Heráclito e João Batista
Deus não devia fazer isto
Destampou a panela da criação
Soltou nele as feras, a tentação
Estampando a loucura do Egito

Ficou tudo surreal
Castigo de Deus?
Loucura da visão real
Do céu decaíram filhos Seus
Visão apocalíptica
Daquela lisérgica e bálsamo de arnica
O diabo no deserto outra vez apareceu

A peleja deu-se início
Os dois são páreo forte
Mais que quarenta dias
Atracou-se o diabo com Antão no norte
Feras não hesitam, atacam o ancião calado
São quinze bestas versus o velho cajado
Tome cacetada, mandinga trazida ao mote

Dos músculos do ventre
E os quadris em ação
Antão com imensa fé
Não sucumbiu à tentação
Taciturno, homem brejeiro
Mandou as quinze feras pro Chiqueiro
Feito Jesus na Galileia com fé e oração

Então, o diabo se fez fêmea
Uma linda Pomba Gira
Apareceu no deserto
Rosa Cigana de Lira
A molambo amarela
Que surge em cima de vela
Trazendo cheiro de mirra

Corpo de serpente
Ondulando, convite ao prazer
Antão trincou os dentes
Pois não sabia o que fazer
Se rezava ou se olhava
Se olhava ou se rezava
Miragem do deserto o cão insiste em trazer

Antão do Egito recitou a reza braba
Resistiu olhando além
O diabo ficou constrangido
Por usar saia também
Apelando ao feminino
Provocando o masculino
Mas Antão entende como ninguém

Que o diabo é anjo traquino
E gosta da confusão
Não é fême nem menino
Não tem sexo, é provisão
Deus só deu aos anjos, cu
Para serem vistos nu
E evitar comparação

Do tamanho ou do profundo
Do profano olhe o tamanho
Rosa Cigana, agora, ateia fogo no mundo
O eremita se sente estranho
Do céu desceu enxofre
Fogo negro vem do cofre
Os anjos nunca tomaram banho

Lança na mão de criança
Tão tolos que perdem infância
Não têm luz nem esperança
Pois caíram em voz de ânsia
Trocaram o Pai; pelo mais velho
E o ardor do céu vermelho
Antão rezou por eles com suave voz macia

O demônio inveja a morte
E tem ciúmes do bem
Esses anjos perderam a sorte
De ficar no céu também
Antão bateu o báculo, e luz acendeu tudo
O cajado brilhou escudo
Os anjos Bestas viraram porcos, amém.

A molambo ria do santo
Cansado escorado ao báculo
Forte e mágico cajado
Nas mãos de um velho maiúsculo
O diabo muda o sexo
Transformando-se num negro anorexo
Com o corpo cheio de furúnculo

Antão é bem mais forte
Contra esse diabo burro
Que enlouquecera o trote
Trancando Antão no escuro sepulcro
O mago concentrado no divino
Foi atacado por feras, a glória de seu hino
Houve um terremoto, o diabo deu um urro
Deus falou sussurro
Dizendo com voz imponente
Antão no santo absurdo
Ria do caso contente
Deus diz: ESTOU SABENDO
O QUE O SATANÁS ESTÁ FAZENDO
CONTRA ESSE HOMEM DOENTE

ANTÃO, VOCÊ É SÁBIDO
AGORA, É MESTRE NO DESERTO
ESSES IMUNDOS AQUI VIERAM
MAS VOCÊ ESCOLHEU CERTO
VENCEU A TENTAÇÃO
É MAIS ESPERTO QUE O TIÇÃO
POIS REZOU COM OS ÓI ABERTO

As feras na sala do medo
Foram embora quando viram Deus
E Antão ficou mais belo
Por causa dos feitos seus
Sete-estrêlo no chapéu
E ganhou um belo anel
Quem levou foi Morpheus

Pra terminar esse cordel
Falo sobre meu amor
Um dos que do céu desceu
E em suíno se transformô
Antão anda com ela
Pois é uma porca bela
Que ele se afeiçoo

E deu-lhe nome; Vitória
O prêmio de seus feitos
Mas, Antão merece Glória
Moreno, Pombos, Bezerros
Vitória é o nome da porca
Que Antão viu quase morta
E cuidou dos ferimentos
Os demônios em porcilga
Viram Deus, fugiram
Pisotearam a pequena porca
Quando ao Tapacurá desceram
Ficaram pela margem
Comendo sua lavagem
Portugueses apareceram.

(Lá) A vagem se fez cidade
E concordo com razão
Que em sua mocidade
Santo Antão venceu o Cão
Agora é homenageado
Com jubilo foi laureado
A cidade de Santo Antão

Que aos poetas foi nomeada
Santo Antão do Egito
Ou Santo Antão da Mata
É melhor e mais bonito
Vitória de Santo Antão
É correto não
Equívoco dizer isto

Vitória é o nome da porca
Por quem tenho muito amor
Pois então tome essa nota
E diga a seu professor:
Que nomear assim tal cidade
É verdadeira maldade
Pros poeta do povo condor



RILDO DE DEUS é: Poeta/Fantástico, Músico/Inmarginau & Filósofo/Filosomista.


“Tudo o que o artista fala é engraçado O artista é um santo disfarçado Daquilo que o santo não gosta de ser E tudo o que artista faz é engraçado O artista é um bichinho danado  Que o santo não gosta mais quer ser Santo é forte carrega nas costas O artista carrega onde der pra carregar Santo é forte garante na morte O artista de sorte garante a do santo Santo é forte não precisa de reza O artista que não reza não vai lá E não me apurrinha que o santo é capeta O artista é porreta, eu quero virar E se o artista rebola é engraçado Santo não rebola que o santo é danado Santo é diferente, santo é displicente Santo é do pau oco, santo é do rosário O espírito é santo, santo é necessário E que a santa trindade tem de eleitorado E se o artista rebola E tudo que o artista fala é engraçado Santo leva sério e convence o diabo Deus está presente na ausência do santo Deus foi o primeiro a ser canonizado E se o artista repete deus castiga E se pede perdão tá perdoado E tudo que o artista fala é engraçado E o santo coitado faz pela metade Que o santo é de todos o mais responsável Pelo bom controle da natalidade
 E o milagre do filho abandonado É o mistério da santa castidade” (Oswaldo Montenegro)

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